O capital tem vindo a retirar rendimentos ao trabalho. O fenômeno, conhecido há bastantes anos, tem agora novos dados pela mão da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que divulgou esta semana um novo conjunto de dados sobre o tema, o Labour Income Share and Distribution Dataset, disponível para todo o público.
A tendência de transferência de rendimentos de trabalho para o capital é global, e mais acentuada em Portugal ainda. A nível mundial, os rendimentos do trabalho desceram entre 2004 e 2017 de 53,7 para 51,4% do PIB, na União Europeia de 59,4 para 57,6%. Ou seja, diminuições em torno de 2 pontos percentuais (pp). Já em Portugal, o peso dos rendimentos do trabalho no PIB caiu de 65,8% para 54,5%, menos 11,3 pontos percentuais — uma queda cerca de 6 vezes maior.
Além da distribuição de rendimento entre capital e trabalho, os novos dados da OIT analisam também como se distribui o rendimento entre os diferentes trabalhadores, divididos em dez decis, o que acontece pela primeira vez para todo o mundo.
Em Portugal, os 10% de trabalhadores mais ricos amealharam em 2017 30,4% de todos os salários, enquanto os 10% mais pobres ficaram com 2,6% — menos 1,7 e mais 0,3 pps que em 2004. Se os grupos passarem de escalões de 10% (decis) para 20% (quintis), as conclusões são semelhantes: os 20% de trabalhadores mais ricos passaram entre 2004 e 2017 de 48,2 para 46,5% dos salários, os mais pobres de 6,4 para 7,1% — menos 1,7 e mais 0,7 pps.
Ou seja, nos últimos 13 anos os trabalhadores mais pobres em Portugal aumentaram muito ligeiramente a sua parcela dos salários, e os mais ricos perderam um pouco, diminuindo a desigualdade entre trabalhadores. Mas Portugal continua a ser um país de elevada desigualdade salarial a nível internacional. Os 10% de trabalhadores mais ricos no país, com os seus 32,1% do bolo salarial, estão acima da média europeia de 29,4%.
Fonte: Esquerda
Data original da publicação: 04/07/2019