Trabalhadores de fast-food fazem mais uma jornada de protestos nos Estados Unidos

Milhares de trabalhadores do setor de fast-food nos Estados Unidos fizeram greve de 24 horas na quinta-feira (04/09) por aumento do salário-mínimo. Pela primeira vez o movimento incorporou atos de desobediência civil, o que resultou na prisão de várias pessoas, inclusive 21 manifestantes que se sentaram num ato de protesto em frente ao McDonald’s da Times Square, em Nova York.

De acordo com os organizadores do movimento, centenas de trabalhadores em restaurantes de fast-food fizeram protestos semelhantes em dezenas de cidades americanas na quinta-feira. Em Detroit, ainda segundo os organizadores, mais de 50 foram presos. Os atos de desobediência civil visam a atrair a atenção da população para a “briga pelos 15” (salário-mínimo de US$ 15 a hora), como o movimento é chamado, e para pressionar as redes de restaurantes de fast-food.

— Estou fazendo isso por um futuro melhor — disse Crystal Harris, empregada do McDonald’s de St. Louis, minutos antes de se sentar no meio da Rua 42, do lado de fora do imenso restaurante da rede, às 7h30m desta quinta-feira. — Luto para chegar ao fim do mês com um salário de US$ 7,50 a hora.

Direitos Sindicais

Os manifestantes carregavam cartazes com palavras de ordem, como “Low Pay Is Not OK” (“Pagar mal, não é legal”), “On Strike to Lift My Family Up” (“Em greve para estimular minha família”), e “Whatever It Takes: 15 and Union Rights” (“A qualquer preço: 15 e direitos sindicais”). Os manifestantes querem que o McDonald’s e outras cadeias gigantes não impeçam o movimento de sindicalização da categoria profissional.

Muitos dos trabalhadores do setor de fast-food, que trabalham 40 horas semanais ou mais, afirmam que não conseguem pagar suas contas com os salários pagos pelos restaurantes. Especialistas dizem que um salário de US$ 11 por hora é o limite da pobreza para uma família de quatro pessoas.

Os restaurantes de fast-food devem faturar este ano US$ 7,2 bilhões e obter uma receita de US$ 198,9 bilhões, de acordo com a firma de pesquisa IBISWorld. A maioria dos restaurantes desse tipo de comida são geridos por franquias, que estabelecem suas próprias políticas de salário. Elas afirmam que elevar o salário-mínimo afetaria seus negócios.

Os protestos nesta quinta-feira foram o sétimo numa série de graves de um dia, com os organizadores afirmando que os trabalhadores no segmento de fast-food abandonariam os restaurantes em mais de cem cidades em todo o país. Mas foi a primeira vez que os manifestantes acrescentaram o ingrediente da desobediência civil.

Desde quando os protestos começaram, inicialmente apenas em Nova York, em novembro de 2012, os estrategistas do movimento se concentraram em levar o movimento para mais cidades, arrebanhando mais trabalhadores para aumentar a pressão sobre os restaurantes para implementares um salário mínimo de US$ 15 a hora.

Críticas ao movimento

O Sindicato Internacional de Trabalhadores no Setor de Serviços (SEIU, da sigla em inglês), que gastou mais de US$ 10 milhões apoiando o movimento, buscou atrair mais manifestantes e volume de protesto nos esforços desta quinta-feira, convocando pela primeira vez empregados do setor de saúde para aderir aos piquetes. O SEIU, que representa centenas de milhares de trabalhadores do setor de saúde e faxineiros, espera que o apoio ao movimento pelos 15 ajude a elevar os salários de empregados também nestes setores.

— Com a integração dos trabalhadores em saúde neste esforço, isto se transformará em um movimento maior de empregados de baixos salários — disse Kendall Fells, diretor de Organização do movimento, chamado de Fast Food Forward (Fast food para frente).

Rob Green, diretor-executivo do Conselho Nacional da Cadeia de Restaurantes, criticou os protestos de se sentar em frente aos restaurantes:

“Encorajar ações que colocam tanto os trabalhadores quanto os clientes em perigo de ferimento físico não é apenas irresponsável, é preocupante”, disse ele por nota. “Os sindicatos estão chamando isso de ‘desobediência civil’, quando na realidade esta atividade coreografada está invadindo (a propriedade privada das lojas) e é ilegal”.

O McDonald’s e outras cadeias afirmam que elas e suas redes de operadores por meio de franchise pagam salários competitivos e proveem oportunidades de trabalho que permitem a muitos ascenderem para empregos melhores no setor. As cadeias de fast-food afirmaram que greves de um dia não tiveram impacto nos negócios, acrescentando que apenas uma parte dos trabalhadores aderiram ao movimento.

Representantes dos grupos de restaurantes repetidamente denunciaram a convocatória para o movimento do salário-mínimo de US$ 15, afirmando que ele visa a elevar os preços dos menus, resultando na queda das contratações de trabalhadores de fast-food, especialmente no segmento inicial e de baixa formação. A Associação Internacional de Franchise afirma que um salário mínimo neste patamar apagaria as margens de lucro em vários desses restaurantes.

Fonte: O Globo
Texto: Flávia Barbosa
Data original da publicação: 04/09/2014

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