Trabalhadores da Volkswagen entram em greve por tempo indeterminado

Os trabalhadores da unidade da Volkswagen de São Bernardo, no ABC paulista, entraram em greve por tempo indeterminado na terça-feira (06/01) contra a demissão de 800 funcionários programada para o próximo mês. Os empregados foram convocados por meio de telegrama entre os dias 30 de dezembro e a segunda-feira (05/01) para comparecer ao setor administrativo da empresa.

“Sabemos que é uma carta de demissão, mas como a empresa já teve problemas por enviar cartas com esse termo antes, então mudaram os termos e nos convocaram para vir aqui. O conteúdo da carta deixa claro que é demissão”, disse o preparador de máquinas que atua na montadora há 18 anos, Antônio Gomes de Holanda, de 47 anos.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, afirmou que a categoria irá lutar para reverter as demissões. “A empresa afirma que tem 2.100 funcionários excedentes, e que esses 800 seriam a primeira etapa. A princípio vão colocar em licença remunerada por 30 dias e depois demitir. Não sabemos o motivo de adotar a licença e nem os critérios de escolha dos que receberam as cartas, mas vamos buscar negociação para evitar as demissões.”

Assembleia

Nesta semana, todos os 13 mil funcionários retornariam das férias coletivas de fim de ano. No período da manhã de treça-feira (06/01) foi realizada uma assembleia para o turno que reúniu sete mil pessoas. Foi aprovada por unanimidade a greve por tempo indeterminado. “É com solidariedade que vamos conseguir manter os empregos. Neste momento não há ninguém com emprego seguro, hoje são esses 800, amanhã pode ser qualquer um de vocês. Vamos juntos pensar e buscar alternativas para evitar as demissões”, disse o secretário-geral do sindicato, Wagner Santana, o Wagnão.

A estratégia dos trabalhadores para o primeiro dia de greve é ficar na empresa, mas não para realizar suas funções e sim discutir soluções para o impasse. “Cada dia de greve será adotada uma estratégia; hoje será a de ficar interno e conversar sobre assunto. Juntos conseguiremos pensar em uma saída”, afirmou Wagnão.

“Precisamos nos unir mais uma vez para vencer esse período de crise da empresa e do setor. Sabemos que mesmo com um ano com resultados menores, o Brasil continua a bater recordes de vendas de veículos, por isso não consideramos justas as demissões. Em 25 anos de empresa já participei de várias lutas, esta será mais uma. Fui surpreendido com a carta e isso abalou a minha família. A gente nunca espera que será com a gente e desta vez foi”, disse o modelador de designer Max Queiroz, de 46 anos. Os funcionários do segundo e do terceiro turno também participarão de assembleias hoje.

Acordo coletivo

Atualmente está em vigor um acordo coletivo firmado em 2012 entre a empresa e o sindicato, que prevê uma série de itens como investimentos na fábrica, normas para o reajuste salarial, garantia de emprego, entre outros. Porém, a Volkswagen procurou o sindicato para renegociar o acordo diante da retração de vendas em 2014.

Os dirigentes do sindicato e da empresa negociaram entre julho e novembro do ano passado um novo acordo coletivo que seria válido a partir de 2015, também por cinco anos. A proposta previa manter os empregos, investir em novos produtos na unidade de São Bernardo com a contrapartida de mudanças de alguns benefícios sociais, do reajuste salarial e PLR (Participação de Lucros ou Resultados). Em 2 de dezembro passado, os trabalhadores rejeitaram a proposta do novo acordo em assembleia. Desde então, os funcionários já esperavam pelo pior.

“Naquele momento não havia como aprovar aquele acordo. A empresa não conseguiu deixar claro aos funcionários os problemas que estava enfrentando e nem o sindicato conseguiu convencê-los. É difícil o trabalhador aceitar a perda de benefícios que foram conquistados ao longo dos anos para evitar demissões, quando ele sabe que mesmo com as dificuldades que o setor enfrentou no ano passado, o Brasil apresentou o terceiro recorde de vendas em 2014”, disse Marques.

Nota da Volkswagen

A empresa divulgou nota sobre as medidas adotadas. Veja abaixo a íntegra da nota:

“Visando a estabelecer condições para um futuro sólido e sustentável para a Unidade Anchieta, tendo como base o cenário de mercado e os desafios de competitividade, a Volkswagen do Brasil anuncia que haverá o desligamento de 800 empregados em sua fábrica no ABC Paulista, após período de licença remunerada de 30 dias.

Em razão do cenário do setor automotivo, diversas medidas de flexibilização da produção foram aplicadas desde 2013, como por exemplo férias coletivas, suspensão temporária dos contratos de trabalho (lay-off), entre outras. No entanto, todos os esforços não foram suficientes.

Com foco na melhoria de competitividade da fábrica frente ao cenário atual de mercado e as projeções para 2015, a Volkswagen buscou ainda uma alternativa junto ao Sindicato, realizando um longo processo de negociação para a composição de uma proposta que permitisse a adequação necessária da estrutura de custos e efetivo da unidade. O resultado balanceado contemplava a continuidade de formas de adequação de efetivo através de Programas Voluntários com incentivo financeiro e também de ‘desterceirizações’ temporárias para alocação de parte do excedente de pessoal, entre outras medidas.

Lamentavelmente a proposta foi rejeitada em assembleia realizada em 2 de dezembro. Mas continua urgente a necessidade de adequação de efetivo e otimização de custos para melhorar as condições de competitividade da Anchieta, motivo pelo qual a empresa inicia a sua primeira etapa de adequação de efetivo.”

Fonte: Rede Brasil Atual
Texto: Michelly Cyrillo
Data original da publicação: 06/01/2015

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