Após a condenação do ex-presidente Lula pela segunda instância, a página oficial do Palácio do Planalto no Facebook se aproveitou da polarização política intensificada para tentar conseguir apoio para a reforma da Previdência, que é rejeitada pela maioria da população.
Na publicação, aqueles figurados com as cores da bandeira nacional (verde e amarelo) são apontados como apoiadores da reforma e intitulados como “a geração que vai salvar o Brasil”.
Do outro lado, aqueles coloridos com a cor vermelha são caracterizados como “a geração que deixou o Brasil quebrar”, fazendo alusão aos 12 anos de governo petista.
Desde as manifestações de 2016, o verde e amarelo passou a representar aqueles que foram às ruas clamar pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, liderados pelo Movimento Brasil Livre e apoiados por políticos como Aécio Neves. O vermelho, no entanto, representa aqueles que declaram apoio aos governos petistas e foram contra o impedimento.
O uso da divisão ideológica da população para publicizar a reforma, no entanto, representa uma continuidade do uso da máquina pública para tornar mais palatável a reforma da Previdência.
Em abril de 2017, Michel Temer ganhou o apoio de deputados federais e senadores por meio de verbas de publicidade, destinadas aos veículos de mídia escolhidos pelos parlamentares.
De acordo com levantamento da Repórter Brasil, publicado no mesmo mês, a mídia tradicional ignorou as críticas ao projeto. No relatório, 91% do tempo dedicado ao tema pela TV Globo e 90% dos textos publicados no jornal O Globo foram alinhados à proposta do Palácio do Planalto. Nos impressos O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo, 87% e 83% dos conteúdo fizeram uma cobertura positiva. O Jornal da Record foi o mais equilibrado, com 62% do tempo sendo favorável à Reforma.
Em novembro do mesmo ano, o Congresso aprovou ainda um projeto de lei que autorizou o repasse de 99 milhões de reais para a publicidade da reforma, mesmo diante do discurso oficial do corte de gastos públicos em áreas prioritárias, como saúde e educação.
Na mesma época, Temer se reuniu com Silvio Santos para pedir apoio a aprovação. A campanha veiculada na emissora SBT tinha tom alarmista ao afirma que caso o projeto não fosse aprovado, o Brasil iria quebrar.
O presidente manteve o contato cordial com a emissora. Na próximo domingo 28, Temer participará do Programa do Silvio Santos, e na segunda-feira 29, fará sua segunda participação no Ratinho, uma agenda que destoa dos compromissos de outros presidentes. Recentemente Temer também foi entrevistado pelo jornal Folha de S.Paulo, mas na ocasião não tocou no tema da reforma.
O conteúdo de publicidade oficial a cerca do projeto foi questionado duas vezes pela Justiça, com determinação de suspenção da veiculação. A magistrada responsável pela determinação, Marciane Bonzanini, da 1ª Vara Federal de Porto Alegre (RS), lembrou ainda que a campanha não possuía conteúdo educativo, mas tinha o objetivo de convencer a população.
Em dezembro, a procuradora geral da República, Raquel Dodge, entrou com uma ação no supremo Tribunal Federal para barrar o pagamento dos 99 milhões destinados à comunicação institucional do governo. Para Dodge, o uso da verba pública para divulgar uma “proposta polêmica” é inconstitucional e implica prejuízo irreparável para os cofres públicos.
Fonte: CartaCapital
Data Original da publicação: 25/01/2018