O estudo da Ong Oxfam, divulgado nesta quinta-feira (21/06), se chama “Por trás do código de barras” e mostra as enormes desigualdades presentes dentro da cadeia produtiva e distributiva do sistema alimentar mundial.
Segundo a pesquisa, agricultores e produtores de todo o mundo vêm ganhando menos há mais de vinte anos, enquanto as redes de supermercados acumulam lucros. A ONG denuncia a “pressão contínua” sofrida pelos produtores para “reduzir os custos”, atendendo “aos mais rigorosos requisitos de qualidade”.
De acordo com um cálculo feito pela Oxfam, as oito maiores redes de varejo do mundo, listadas no mercado de ações, alcançaram cerca de US$ 1 trilhão em vendas em 2016 e quase US $ 22 bilhões em lucros. “Em vez de reinvestir em seus fornecedores, essas mesmas redes pagaram no mesmo ano mais de US$ 15 bilhões em dividendos aos seus acionistas”, diz o estudo.
O poder de compra dos grandes distribuidores, fator que reduz continuamente os preços, exacerba o risco de violações de direitos humanos e dos direitos trabalhistas. Segundo o relatório do estudo da Oxfam, “existe uma precariedade sem limites, crianças exploradas, além de assédio no setor agrícola e alimentar”. “No Reino Unido, apenas quatro supermercados controlam 67% de toda a distribuição alimentar; na Holanda, cinco deles controlam quase 77%”, publica a Ong.
“Essa tendência contribuiu para a queda nos preços pagos aos agricultores que agora mal recuperam o custo de sua própria produção”, denuncia a Oxfam. Mais produtores são forçados a abandonar suas terras ou aceitar trabalhos precários em grandes plantações. Até “o paradoxo mais cruel”, regularmente denunciado por organizações internacionais como a FAO ou mesmo por associações de comércio justo: a fome entre camponeses e trabalhadores do setor, ou seja, “a fome dos mesmos que produzem a comida”.
Ausência de sindicatos no setor e mulheres discriminadas
Em uma pesquisa global com quase 1,5 mil grandes empresas de distribuição, de alcance mundial, menos de ¼ destes fornecedores de produtos alimentares possuíam sindicatos de defesa dos direitos dos trabalhadores.
O estudo mostra ainda que tanto dentro da agricultura familiar como entre os trabalhadores, normas de gênero profundamente enraizadas são tão excludentes que as mulheres sofrem mais, são mais privadas dos direitos à terra, menos propensas a se beneficiar da representação sindical, se tornam vítimas de discriminação salarial e rejeitadas em promoções a posições mais altas, além de estarem mais expostas a assédio sexual e violência. “O trabalho das mulheres na distribuição de massa é invisível e ela não teù voz na mesa de negociação”, denuncia a Oxfam.
No entanto, a Oxfam acredita que é “totalmente possível” que “agricultores e trabalhadores ganhem uma renda básica digna”. “Isso exigiria apenas um investimento mínimo” para promover uma distribuição mais igualitária dos valores, de acordo com o estudo, que defende a determinação pelo governo de um preço mínimo para commodities agrícolas.
Fonte: RFI, com ajustes
Data original da publicação: 21/06/2018