Setembro amarelo. No mês dedicado, mundialmente, à prevenção ao suicídio, os dados brasileiros reforçam o alerta: mais de 8,5 mil casos são registrados por ano no país. E essas mortes podem variar de acordo com os postos de trabalho ocupados.
É o que aponta um novo estudo divulgado pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA). Inicialmente o levantamento, proposto pelo Ministério da Saúde, buscava identificar no ano da Saúde Mental, 2019, – instituído pela Organização Mundial de Saúde (ONU) – um raio-x dos transtornos mentais relacionados ao trabalho.
A morte de homens por suicídio na agricultura é maior que em outras profissões e vem aumentando ano a ano, embora não seja um caso isolado brasileiro. É o que esclarece a professora Vilma Santana, coordenadora do Programa Integrado em Saúde Ambiental e do Trabalhador da UFBA, no Repórter SUS, programa produzido em parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz).
“Mulheres agropecuárias têm maior mortalidade por suicídio – esta mortalidade vem crescendo entre 2007 e 2015 – enquanto as mulheres de outras atividades de trabalho não demonstrou nenhuma elevação. Entre os homens, os agropecuários têm maior mortalidade por suicídio do que os não agropecuários”.
Foram registrados 77.373 suicídios no país, entre 2007 e 2015. No primeiro ano, 16,6 mortes desse tipo por 100 mil habitantes. Em 2015, a taxa de pessoas que tiraram a própria vida saltou para 20,5. O número representa o dobro da média de suicídios para os trabalhadores em geral.
Fatores como baixa renda, instabilidade no emprego, pressão por produtividade, o acesso limitado à educação e saúde são algumas das hipóteses causadoras de maior risco de suicídios entre os trabalhadores da agropecuária.
“Existem muitas causas possíveis, mas nós não temos evidências empíricas do nosso estudo, mas outros estudos têm levantado a questão da pobreza, da falta de serviços de saúde de qualidade”.
Ainda de acordo com a coordenadora, a exposição a substâncias químicas, presentes nos agrotóxicos representa uma causa importante indicada por estudos.
“Porque o Brasil é campeão mundial no uso de substâncias químicas. Existem estudos da Unicamp demonstrando que as medidas de proteção dos trabalhadores que utilizam, que manejam agrotóxicos é muito pouco eficiente no sentido de proteção. Além do cuidado de rede de apoio, sintomatologia psíquica, ideação suicida, nós temos que pensar na proteção do trabalhador, especialmente da agropecuária em relação a esses venenos”.
Os pesquisadores analisaram registros do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Fonte: Brasil de Fato
Texto: Ana Paula Evangelista
Data original da publicação: 16/09/2019