Sofrimento e suicídio de trabalhadores são abordados na abertura do Encontro Nacional da ABET em Curitiba

Fotografia: Charles Soveral/DMT

por Charles Soveral

Começou na segunda-feira, dia 28 de outubro, em Curitiba (PR), e prossegue até o próximo dia 31 de outubro, o XIII Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (ABET), entidade que desde sua fundação, em 1989, procura refletir sobre as questões mais instigantes do chamado mundo do trabalho.

Na aula magna de abertura do evento, ocorrida no teatro do Museu Oscar Niemeyer, foi proferida uma palestra da professora e socióloga francesa da Universidade Paris X – Nanterre e pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica (Centre National de la Recherche Scientifique – CNRS), Danièle Linhart.

Danièle abordou o tema que tem sido objeto de suas pesquisas e que tem se revelado um grande problema na sociedade francesa que é o suicídio de trabalhadores decorrente de um constante assédio psicológico nos locais de trabalho. O tema, fruto de uma pesquisa que coordenou para a ANR (Agence Nationale de Recherche/Agência Nacional de Pesquisa), entre os anos de 2007 a 2010, aborda a complexidade do sofrimento a que são submetidos os trabalhadores. “A pressão por resultados, pela eficiência é tanto que muitos trabalhadores e trabalhadoras simplesmente não resistem e decidem dar um fim a suas vidas, pois se consideram fracassados”, denuncia Danièle.

Ao lembrar que as relações de trabalho são muito mais complexas hoje do que há duas ou três décadas atrás, a pesquisadora francesa assinala que é preciso que os coletivos de trabalho se organizem para fazer frente às novas ameaças não somente ao emprego, mas também à sanidade física e mental dos trabalhadores. “Não devemos apenas tratar das questões salariais, mas, principalmente, da qualidade de vida dos trabalhadores”, alerta ela.

Danièle explica ainda que os crescentes casos de suicídio são o resultado de significativas transformações no sistema de produção das empresas francesas que promovem reformas sistemáticas, reestruturações de serviços com descentralização mais recentralização, redefinição de profissões, relocações, deslocalizações geográficas que, segundo ela, impedem que os trabalhadores tenham laços de cumplicidade com seus colegas, com os chefes e clientes, o que rompe suas referências, sacode seus hábitos, criando insegurança.

12 eixos temáticos

A presidente da ABET, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sílvia Araújo, por sua vez, destaca que o encontro é uma oportunidade para que pesquisadores, estudantes e interessados nas questões do trabalho possam interagir com pessoas de todo o Brasil e de outras partes do mundo. “Reunimos diferentes profissionais desde as áreas de educação e saúde passando pela economia e sociologia para pensar os temas da atualidade. As redes de discussão, que culminam neste evento, trouxeram 12 eixos temáticos, após dois anos de reflexão e encontros, traduzem, de certa forma, o que a sociedade pensa sobre o universo do trabalho”, explica Sílvia Araújo.

Sílvia Araújo lembra que esta é a principal contribuição da ABET para a sociedade brasileira que se dedica a ampliar a reflexão e a pesquisa sobre o trabalho.

O Encontro Nacional da ABET prossegue até a quinta-feira, 31 de outubro, com diversas rodas de debates no Campus Central da UFPR.

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