Sem luz no fim do túnel, queda de braço entre grevistas e governo prejudica economia britânica

Pela primeira vez desde a volta do recesso das festas de fim de ano, os britânicos verão quase todas as linhas de trem em funcionamento. O setor é um dos símbolos dos movimentos de greve disseminados por todo o país desde 2022. Mas eles prometem parar novamente nos próximos dias. Motoristas de ambulâncias na Inglaterra e no País de Gales voltam a cruzar os braços por 24 horas, nesta quarta-feira (11).

Motoristas de ônibus e professores param por toda a semana. Os instrutores de autoescolas continuam em greve durante todo este mês. A situação é tão confusa que os jornais locais publicam diariamente um calendário com os segmentos em greve para que as pessoas possam se preparar minimamente.

De sua parte, o governo tenta aprovar no parlamento uma lei que dificulta as paralisações em setores considerados essenciais, enquanto o primeiro-ministro, Rishi Sunak, sinaliza com a possibilidade de diálogo com enfermeiros.

O governo tem se mostrado muito pouco flexível. A menos de três meses no comando do país, o premiê demonstra preocupação com os movimentos, que já duram a maior parte do tempo em que ocupa a cadeira. A estimativa é que só as greves de dezembro de 2022 tenham causado um prejuízo de pelo menos 1,5 bilhão de libras a restaurantes, bares, hotéis e pubs. São quase R$ 9,5 bilhões.

Setores essenciais

Na semana passada, ele anunciou que pretende enviar ao parlamento uma nova legislação que dificulte as greves em setores considerados essenciais e obrigue essas categorias a garantir um mínimo de serviços em funcionamento durante as paralisações. A nova lei permitiria que sindicatos do NHS, a sigla em inglês do sistema nacional de saúde gratuita, setores de edução, bombeiros, ambulâncias e ferrovias sejam acionados na justiça e que trabalhadores sejam demitidos se não oferecem esse mínimo necessário de serviços. Tudo isso causou fúria entre os sindicatos. A expectativa é que o projeto de lei seja apresentado nas próximas semanas, se as categorias não forem capazes de definir elas próprias com seus empregadores um acordo que garanta esses limites sem a necessidade de nova legislação.

Em entrevista à BBC no domingo, Sunak acenou com a possibilidade de diálogo. Ele se referia a negociações com enfermeiros, que pararam em dezembro, e prometem voltar a cruzar os braços na semana que vem. Ele disse que estava aberto a um diálogo “responsável” e “razoável” do ponto de vista financeiro. A evidente cautela no uso das palavras se dá pelo fato de que há tantas categorias que continuam com movimentos de greve que aumentos generalizados podem provocar impacto sobre a inflação. Esse é o maior temor do governo.

No entanto, a luz no fim do túnel para alguns segmentos pode significar um ponta de esperança para outros. Já está previsto o reajuste de 4,75% para os enfermeiros, que pedem um aumento que seja 5% acima do índice de preços, e somaria algo em torno de 19%. Mas o que se diz é que a classe aceitaria 10%.

A queda de braço continua

Prejudica o país como um todo e vai reduzindo cada vez mais a já abalada popularidade do partido conservador. Sunak foi a aposta da legenda para tentar colocar a economia nos trilhos e rearrumar a imagem da sigla, prejudicada com sucessivos escândalos da gestão do ex-premiê Boris Johnson, antes da próxima eleição geral, prevista para 2024. Mas nada impede que, se a situação se mostrar insustentável, seja convocada antes. Isso é o que mais quer o partido trabalhista, da oposição, que sabem que, se o pleito fosse hoje, ganhariam de lavada.

Embora contem com certa simpatia da população, as paralisações têm prejudicado a rotina dos cidadãos e causado danos à economia, que já não vai bem das pernas. A estimativa é de que o Reino Unido tenha fechado 2022 em recessão, e siga encolhendo em 2023, quando seu Produto Interno Bruto (PIB) deva diminuir 2,3%, o pior desempenho entre as sete nações mais ricas do mundo. A greve dos motoristas de ambulância, em dezembro, deve gerar a abertura de uma investigação para apurar a morte de sete pacientes que não tiveram tratamento adequado.

Fonte: RFI
Texto: Vivian Oswald
Data original da publicação: 09/01/2022

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