Roteiristas e atores de Hollywood querem usar a globalização a seu favor

Fotografia: Jakob Owens/Unsplash

Os trabalhadores grevistas de Hollywood estão lutando para se beneficiar do alcance global de sua indústria.

Nelson Lichtenstein

Fonte: Jacobin Brasil
Tradução: Sofia Schurig
Data original da publicação: 12/08/2023

Neste verão, a força de trabalho organizada está na ofensiva, com mais união e determinação do que vimos em duas gerações. Em Los Angeles, Nova York e em outros lugares, mais de 10.000 roteiristas e 160.000 atores estão em greve, buscando fazer com que o alcance global de Hollywood finalmente funcione para eles. É a primeira greve contra empresas de cinema e TV em quarenta e três anos.

Suas preocupações são notavelmente semelhantes aos 340.000 Teamsters — trabalhadores filiados a um sindicato internacional no setor de transportes — que trabalham na United Parcel Service (UPS), os Correios dos Estados Unidos, onde o sindicato conquistou uma vitória histórica em salários e condições de trabalho poucos dias antes do prazo de greve de 1º de agosto.

Os estúdios de Hollywood e as grandes empresas de logística, como UPS e Amazon, são entidades globais cujas receitas aumentaram constantemente mesmo antes da pandemia, que as impulsionou ainda mais. Em todo o mundo, clientes em suas casas gastaram com produtos embalados e entretenimento televisivo, este último cada vez mais fornecido por empresas de streaming como Netflix, HBO, Amazon ou outras.

No entanto, o crescimento do emprego não foi acompanhado por segurança no emprego ou na renda. As principais gestões nos Estados Unidos buscaram empregar toda a tecnologia vinda do Vale do Silício para dividir o trabalho dos funcionários e criar um regime de trabalho “flexível”, transferindo o custo de uma demanda imprevisível por mão de obra da planilha corporativa para os ombros dos trabalhadores que prestam o serviço.

A Uber e outras plataformas de emprego baseadas em aplicativos fizeram muito para aperfeiçoar esse regime de trabalho contingente, com a UPS e Hollywood seguindo na mesma direção.

Os sindicatos estão reagindo. Os Teamsters foram energizados por uma chapa reformista que assumiu o cargo há vinte meses. Na UPS deste ano, o sindicato estava claramente preparado para entrar em greve para aumentar dramaticamente os salários de todos os sindicalizados pelo Teamsters da UPS, especialmente os funcionários de armazéns em meio período que constituem mais da metade da força de trabalho da UPS.

Em um acordo provisório que os membros votarão até 22 de agosto, esses trabalhadores conseguiram um aumento imediato de pelo menos US$ 2,75 por hora, com sete mil deles transitando para um novo conjunto de empregos em período integral. Os trabalhadores em meio período queriam US$ 25 por hora, e todos os atuais chegarão lá através de aumentos salariais gerais que somam pelo menos US$ 7,50 ao longo do contrato de cinco anos.

Para alguns trabalhadores, isso representa um aumento de quase 50% no salário. E o acordo provisório contém muitas outras coisas que melhorarão materialmente suas vidas no trabalho.

A vitória dos Teamsters estabelece um novo padrão que se espalhará pelo restante da indústria de logística e constituirá um argumento poderoso de que os funcionários da Amazon, Walmart e em outros lugares também devem se organizar sob a bandeira do sindicato.

Assim como a UPS e a Amazon, Hollywood faz parte de uma cadeia de suprimentos global, com 70% de sua receita vindo do exterior, especialmente do Leste Asiático. Há mais trabalho para atores e roteiristas, mas a globalização perturbou a ordem antiga. Hoje, muitos blockbusters de Hollywood são projetados com um público que não fala inglês em mente; há muitas sequências de ação intensa, com diálogos simplificados para facilitar a dublagem e a legendagem.

Enquanto isso, a proliferação de plataformas de streaming criou mais trabalho para roteiristas, mas os proprietários dessa nova tecnologia de entretenimento entraram em guerra com a maneira tradicional pela qual atores e roteiristas conquistaram uma medida de segurança financeira. Algumas dessas plataformas, como Apple, Netflix e Amazon Prime, são produtos do Vale do Silício e sua cultura de negócios libertária e anti-sindical.

Para manter a atenção do público em um mercado altamente competitivo, essas plataformas de streaming contratam programas com apenas um punhado de episódios, em vez das séries de vários anos de uma dúzia de anos atrás. Isso mantém roteiristas e atores constantemente em busca de novos trabalhos e também limita as oportunidades que os trabalhadores tinham de avançar para a produção e direção.

Roteiristas e atores também estão apreensivos com a ameaça representada pela implementação de inteligência artificial pelos estúdios. Os roteiristas temem que ela degrade o processo de criação de roteiros, enquanto muitos atores se preocupam com o potencial da IA de capturar e manipular a imagem de um ator, ameaçando assim um futuro orwelliano, a menos que o Screen Actors Guild — American Federation of Television and Radio Artists (SAG-AFTRA) (Sindicato dos Atores de Cinema — Federação Americana de Artistas de Televisão e Rádio) conquiste um conjunto bem definido de diretrizes para proteger suas personas.

O emprego episódico sempre foi característico de Hollywood, mas nos velhos tempos, roteiristas e atores podiam contar com uma fonte adicional de renda — os royalties — resultantes da popularidade contínua e duradoura de um filme ou série de TV. Estes foram conquistados pelos sindicatos de talentos em batalhas que remontam aos anos 1950.

A vitória dos Teamsters estabelece um novo padrão que se espalhará pelo restante da indústria de logística e constituirá um argumento poderoso de que os funcionários da Amazon, Walmart e em outros lugares também devem se organizar sob a bandeira do sindicato.

Assim como a UPS e a Amazon, Hollywood faz parte de uma cadeia de suprimentos global, com 70% de sua receita vindo do exterior, especialmente do Leste Asiático. Há mais trabalho para atores e roteiristas, mas a globalização perturbou a ordem antiga. Hoje, muitos blockbusters de Hollywood são projetados com um público que não fala inglês em mente; há muitas sequências de ação intensa, com diálogos simplificados para facilitar a dublagem e a legendagem.

Enquanto isso, a proliferação de plataformas de streaming criou mais trabalho para roteiristas, mas os proprietários dessa nova tecnologia de entretenimento entraram em guerra com a maneira tradicional pela qual atores e roteiristas conquistaram uma medida de segurança financeira. Algumas dessas plataformas, como Apple, Netflix e Amazon Prime, são produtos do Vale do Silício e sua cultura de negócios libertária e anti-sindical.

Para manter a atenção do público em um mercado altamente competitivo, essas plataformas de streaming contratam programas com apenas um punhado de episódios, em vez das séries de vários anos de uma dúzia de anos atrás. Isso mantém roteiristas e atores constantemente em busca de novos trabalhos e também limita as oportunidades que os trabalhadores tinham de avançar para a produção e direção.

Roteiristas e atores também estão apreensivos com a ameaça representada pela implementação de inteligência artificial pelos estúdios. Os roteiristas temem que ela degrade o processo de criação de roteiros, enquanto muitos atores se preocupam com o potencial da IA de capturar e manipular a imagem de um ator, ameaçando assim um futuro orwelliano, a menos que o Screen Actors Guild — American Federation of Television and Radio Artists (SAG-AFTRA) (Sindicato dos Atores de Cinema — Federação Americana de Artistas de Televisão e Rádio) conquiste um conjunto bem definido de diretrizes para proteger suas personas.

O emprego episódico sempre foi característico de Hollywood, mas nos velhos tempos, roteiristas e atores podiam contar com uma fonte adicional de renda — os royalties — resultantes da popularidade contínua e duradoura de um filme ou série de TV. Estes foram conquistados pelos sindicatos de talentos em batalhas que remontam aos anos 1950.

Nelson Lichtenstein é professor pesquisador da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara. Seu livro mais recente é A Fabulous Failure: The Clinton Presidency and the Transformation of American Capitalism, que será lançado em 2023.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *