Resgatados do trabalho escravo se qualificam para serviços dignos

Dezenove trabalhadores, com idade entre 24 e 61 anos, vindos de cidades como São José do Rio Claro, Sorriso, Nobres, Rosário Oeste, Cáceres, Nortelândia, Vila Rica e Cuiabá, no Estado do Mato Grosso, acabaram de concluir uma formação em operação de máquinas e implementos agrícolas concomitantemente com outra em , na capital. O que uniu esses alunos para a formatura dos cursos, que aconteceu foi o fato de que eles foram submetidos a trabalhos em condições análogas à escravidão ou se encontram em condições vulneráveis.

Os cursos foram oferecidos a partir do Ação Integrada, uma iniciativa da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Mato Grosso, do Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso (MPT), da Universidade Federal do Mato Grosso, por meio do Núcleo de Assistência Social e de Direito, e com o apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Conta, ainda, com diversos parceiros representantes do setor público, privado e da sociedade civil, entre eles o sistema “S”, por meio do Senar, Senai, Senac e Sesi. Além de promover a qualificação profissional, os cursos contribuem para a valorização e aumento da autoestima dos alunos. “Tão ou mais importante que a qualificação profissional, é a possibilidade desses trabalhadores se reconhecerem como cidadãos”, explica Pablo de Oliveira, coordenador executivo do Ação Integrada.

Um desses trabalhadores é Leumar de Jesus, de Vila Rica, na divisa entre Tocantins e Pará, onde, atualmente, exerce a profissão de pedreiro de forma autônoma. Casado e pai de três filhos, já foi resgatado duas vezes de fazendas onde era obrigado a permanecer por dívidas financeiras. A primeira vez, em 2002, foi em Redenção, no Pará. “A gente trabalhava na fazenda fazendo a roça, mas, quando a gente terminava um lote, a gente devia na feira e precisava fazer outro lote, e a gente ficava devendo de novo”, explica. Só conseguiu sair após uma ação de fiscalização deflagrada pelo Ministério do Trabalho e pela Polícia Federal, que libertou dezenas de pessoas na região. Apesar da experiência degradante, cinco anos depois, desta vez em Vila Rica (Mato Grosso), onde passou a morar e constituir uma família, novamente foi submetido ao endividamento, na fazenda em que trabalhava, o que o impedia de deixar o local. Sua libertação ocorreu graças às ações de fiscalização, que o resgatara com outras seis pessoas da fazenda.

Apesar de estar fora do trabalho escravo há oito anos e de ter uma profissão, sem qualificação há sempre o risco de voltar a situações semelhantes. “Trabalho como pedreiro, mas é sempre bom fazer cursos como este de tratores agrícolas, onde a gente aprende a fazer gradeação e nivelamento do solo, o que dá uma oportunidade a mais pra gente”, complementa.

Durante dois meses, Leumar e outras 19 pessoas participaram da capacitação em operador de máquinas e implementos agrícolas, que contou com apoio do Sindicato Rural de Cuiabá e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT). “Este é um dos cursos que estão no portfólio da instituição que a gente oferece de forma gratuita em todos os municípios do estado, de acordo com a demanda”, explica Natalino da Costa, supervisor regional do SENAR-MT. “A base da economia do estado é no setor agrícola, então nós temos uma necessidade muito grande em qualificar pessoas para uma área em constante expansão”, completa.

Esse mesmo grupo também fez curso de informática básica com o apoio da UFMT, em sala de informáticas disponíveis para a população. À noite ainda tiveram aulas de reforço escolar, ofertadas de acordo com o nível de ensino de cada aluno.

Fonte: Adital
Data original da publicação: 17/11/2015

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