A economista Laura Carvalho, professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP), acredita que a renda emergencial que o governo federal está pagando aos trabalhadores afetados pela crise sanitária do coronavírus deve se tornar permanente. Ou, ao menos, ser também um instrumento para ajudar a economia do país no cenário pós-pandemia.
“Tem medidas para isso que podem ser pensadas nessa segunda fase. Investimentos públicos, em infraestrutura, tornar permanente a renda básica são coisas que poderiam ajudar a uma saída mais rápida de um quadro de alto desemprego e de um quadro que já era de uma estagnação desigualitária, porque os mais pobres perderam renda e só o meio e o topo (da sociedade) recuperaram um pouco. Mas para essas medidas funcionarem você antes tem que combater o vírus”, afirma a economista em conversa com o jornalista Juca Kfouri, no Entre Vistas desta semana, que foi ao ar na quinta-feira (21) na TVT, às 22h.
No programa exibido ao vivo no YouTube, a economista analisa o cenário de crise sanitária, econômica e política no país, em que falta orientação clara do governo Bolsonaro para combater a pandemia de coronavírus. No início da entrevista, Laura destaca que a pandemia ajudou a revelar papéis importantes do Estado, que o neoliberalismo queria liquidar, como a atuação por meio do sistema público de saúde.
Na perspectiva do cenário pós-pandemia, Laura comenta que a retomada da economia deve ser lenta, principalmente nos segmentos mais afetados, como os restaurantes. Isso deve ocorrer pelo fato de as pessoas permanecerem por algum tempo com medo de enfrentar situações de aglomeração. Essa situação, comenta a economista, tem sido percebida em cidades pelo mundo que já estão reabrindo a economia.
Na entrevista, a economista fala também da questão do endividamento do país frente aos problemas causados pela crise sanitária. Segundo ela colocar a questão de imprimir ou não dinheiro, como tem sido apontado em alguns debates, não chega a ser a questão mais relevante. O ponto central é que o país está promovendo um aumento da dívida para combater a crise, seja como for a forma desse combate.
Taxação de fortunas
Segundo a professora, entre as medidas após a crise sanitária seria importante ter também a taxação sobre fortunas. Ainda que as fortunas possam migrar entre os países em busca de paraísos fiscais, o que requer uma ação global de coordenação de impostos que ainda não existe, Laura defende é que essa medida tem um forte apelo simbólico. “Tem um simbolismo, porque vai no ponto exato da concentração de riqueza e isso representa atacar as desigualdades”, afirma.
Outro ponto defendido pela economista para o cenário futuro é o aumento da tributação de renda, já que a alíquota máxima é de 27,5%, o que beneficia os mais ricos. Ela entende que poderia ver uma progressão maior da tributação do Imposto de Renda. Laura também defende que seria necessário acabar com a isenção de lucros e dividendos, bem como combater um dos maiores escárnios da legislação tributária no país, que é a tributação do consumo igualmente para ricos e pobres. Por essas razões a economista entende que a reforma tributária deve emergir como a mais urgente no cenário pós-pandemia.
A economista fala também de geopolítica e dos papéis de China e Estados Unidos, que podem sofrer alterações diante das tendências de crise do neoliberalismo e da globalização. A crise política no Brasil também é analisada pela economista.
Fonte: RBA, com ajustes
Data original da publicação: 21/05/2020