No final do ano passado, uma série de manifestações envolveu trabalhadores do Walmart, o maior empregador dos EUA, e da indústria de fast-food no país. A luta contra os baixos salários e por mais benefícios, como sempre na história norte-americana, parte de um novo movimento sindical liderado por imigrantes. Seria um renascimento?
David Brooks
Fonte: Carta Maior
Tradução: teleSUR
Data original de publicação: 05/02/2013
Originalmente publicado no jornal mexicano La Jornada em dezembro de 2012.
Trabalhadores dos restaurantes de fast-food em Nova York lançaram no final do ano passado uma campanha para exigir um salário digno, enquanto que, em centenas de eventos em todo o país, os trabalhadores do Walmart e aliados na comunidade realizaram, no final de novembro, uma breve paralisação dos trabalhos e manifestações. Ambos os eventos não tiveram precedentes no país.
Cerca de 500 colaboradores participaram, com centenas de apoiadores e aliados comunitários e sindicalistas, de centenas de atos fora das lojas Walmart em todo o país na “sexta-feira negra” (“Black Friday”), exigindo melhores salários, maior participação na tomada de decisões sobre as condições e horários, planos de saúde e muito mais.
A maior empresa comercial do mundo (apenas nos EUA tem cerca de um milhão 400 mil empregados) tentou reduzir as dimensões do que aconteceu, mas os trabalhadores e seus aliados afirmam que foi apenas o primeiro aviso de uma iniciativa que tem se expandido no último ano, e algo que a empresa – conhecida como uma das mais antissindicais – nunca enfrentou em seus 50 anos de existência.
Poucos dias depois, um incêndio em uma fábrica de roupas em Tazreen, Bangladesh, onde são fabricadas roupas para o Walmart, entre outras empresas, causou a morte de 112 trabalhadores. Quando o fogo começou, houve pânico porque não havia saídas de emergência na fábrica. Primeiro o Walmart disse que não tinha qualquer relação com a fábrica, mas, depois que os trabalhadores divulgaram fotos de etiquetas das roupas que fabricavam, teve de admitir que a empresa era seu fornecedor.
O fogo não era novidade. Durante as duas últimas décadas, ocorreram pelo menos 33 incêndios em fábricas em Bangladesh, que causaram a morte de cerca de 500 trabalhadores. Esse é o preço de roupas baratas vendidas no Walmart, Gap e outras empresas, afirmam os defensores dos direitos trabalhistas, em ambos os países. O grande sucesso do Walmart é baseado na redução do preço mais barato, o que significa pagar o mínimo para os que fabricam seus produtos no exterior e aos seus trabalhadores que vendem esses produtos aqui.
Antes, estas fábricas se concentravam em Nova York, cidade que, há um século, era a capital da indústria da confecção. Em 1911, uma fábrica se incendiou, Triangle Shirtwaist, a um quarteirão da Washington Square Park. As saídas de emergência estavam trancadas e os trabalhadores – principalmente várias mulheres jovens (algumas de 14 anos), imigrantes italianas e judias – se jogaram das janelas do 10º andar. Morreram 146. A tragédia chocou a nação e gerou um movimento reformista que promoveu algumas das primeiras leis de saúde e segurança no trabalho, bem como a organização de um sindicato nacional poderoso: ILGWU. “Agora o traslado global da produção permitiu que as empresas de varejo, como Walmart e Gap, voltem o relógio para 1911, recriando em lugares como Bangladesh as condições brutais e custos muito reduzidos que prevaleciam no momento do incêndio de Triangle”, disse Scott Nova, diretor do Consórcio de Direitos dos Trabalhadores.
Robert Reich, Secretário do Trabalho do governo Clinton e especialista em políticas públicas, diz que há 50 anos o maior empregador privado do país foi a General Motors, que pagava a seus funcionários um salário por hora equivalente a cerca de 50 dólares (incluindo benefícios de pensão e saúde). Hoje, acrescentou, o maior empregador do país é o Walmart, cujo empregado médio ganha 8,81 por hora, enquanto um terço dos seus funcionários trabalha menos de 28 horas por semana e, portanto, não se qualificam para receber os benefícios. Reich acrescenta que o Walmart faturou 16 bilhões em 2011, que enriqueceram os acionistas da companhia, incluindo a família de seu fundador, Sam Walton. Afirma que a riqueza da família Walton é superior ao total de 40% das famílias que estão na parte de baixo da pirâmide econômica.
Enquanto isso, em outro setor de salários mínimos, em Nova York, foi feito o esforço mais ambicioso até agora para sindicalizar os trabalhadores de fast-food no país. A iniciativa Fast Food Forward é liderada por uma ampla coalizão de organizações comunitárias, de direitos civis e sindicatos em Nova York. A iniciativa, anunciada no final do ano passado, visa sindicalizar os trabalhadores de Taco Bell, Burger King, McDonalds, Domino’s Pizza e outros nessa cidade.
A indústria de fast-food no país é uma indústria no valor de 200 bilhões de dólares. A campanha destaca que em 2011 o presidente-executivo da Wendy’s recebeu 16 milhões e meio de dólares, enquanto os seus funcionários ganham menos de US$ 20 mil por ano. Muitos ganham apenas US$ 8 ou menos por hora, e a campanha visa aumentar esse nível de salário para US$ 15 por hora. Estima-se que 50 mil trabalhadores estão empregados na indústria em Nova York. Ao mesmo tempo, esta iniciativa diz que é parte da luta nacional para trabalhadores de baixa renda em vários setores, como os do Walmart.
Reich, como vários outros analistas, observa que um dos principais fatores na queda da renda e dos benefícios para os trabalhadores e a dramática concentração de riqueza no país tem a ver com o enfraquecimento dos sindicatos. Mais de um terço dos trabalhadores do setor privado foram sindicalizados nos anos 50. Hoje, menos de 7% pertencem a um sindicato.
Mas com estas iniciativas e outros esforços locais, mas igualmente vitais, em vários cantos do país, talvez não seja o fim dos sindicatos. É importante afirmar que, como sempre na história deste país, parte do novo movimento sindical é liderado por imigrantes. Não são poucos os que estão se perguntando se essas novas iniciativas são sinais de vida para o sindicalismo nos Estados Unidos.
David Brooks é jornalista e comentarista politico.