A expansão do uso de tecnologias digitais, como smartphones, tablets, laptops e computadores desktop para trabalhar a distância (seja em casa ou em outros lugares) está rapidamente transformando o modelo tradicional de trabalho.
Essa tendência pode melhorar o equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal, reduzir o tempo de deslocamento e aumentar a produtividade, mas também pode resultar em horas de trabalho mais longas, maior intensidade de trabalho e interferência no trabalho e em casa, segundo um novo relatório lançado na quarta-feira (15/02) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo Eurofound.
O novo relatório ”Trabalhando a qualquer hora, em qualquer lugar: os efeitos no mundo do trabalho” sintetiza uma pesquisa realizada pelas duas organizações em 15 países, incluindo Brasil, Estados Unidos, Argentina, Índia, Japão e dez Estados-membros da União Europeia: Bélgica, França, Finlândia, Alemanha, Hungria, Itália, Holanda, Espanha, Suécia e Reino Unido.
O estudo identifica vários tipos de funcionários que utilizam novas tecnologias para trabalhar a distância, ou seja, fora das instalações de seus empregadores. As subcategorias desse grupo incluem pessoas que trabalham de casa regularmente, pessoas que trabalham de casa ocasionalmente e pessoas que trabalham de outros lugares com frequência [1].
O relatório destaca uma série de efeitos positivos do trabalho a distância, como maior autonomia do tempo de trabalho, que leva a mais flexibilidade em termos de organização do tempo de trabalho. Outro efeito positivo é a redução do tempo de deslocamento, que resulta em maior produtividade e melhor equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. O estudo também identifica várias desvantagens, como a tendência em trabalhar mais horas e uma sobreposição entre trabalho remunerado e vida pessoal – o que pode levar a altos níveis de estresse.
O relatório traça distinções claras entre pessoas que trabalham de casa e parecem desfrutar de um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal e pessoas que trabalham de outros lugares com frequência, mas correm um risco maior de sofrer resultados negativos em termos de saúde e bem-estar.
“Este relatório mostra que o uso de tecnologias modernas de comunicação facilita um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal mas, ao mesmo tempo, diminui os limites entre o trabalho e a vida pessoal, dependendo do local de trabalho e das características das diferentes ocupações”, disse o especialista da OIT sobre condições de trabalho e coautor do relatório, Jon Messenger.
O relatório fornece recomendações para lidar com essa disparidade, como a promoção do trabalho a distância formal em tempo parcial, com o objetivo de ajudar as pessoas que trabalham em casa ou em outros lugares a manter vínculos com seus colegas de trabalho e melhorar seu bem-estar, e restringir o trabalho a distância informal e suplementar envolvendo longas horas de trabalho.
“É particularmente importante abordar a questão do trabalho suplementar realizado através das tecnologias modernas de comunicação, como por exemplo o trabalho adicional feito em casa, que pode ser visto como horas extras não remuneradas. Nesse caso, também é importante garantir que os períodos mínimos de descanso sejam respeitados, a fim de evitar efeitos negativos sobre a saúde e o bem-estar dos trabalhadores”, disse Oscar Vargas, da Eurofound.
Atualmente, apenas a União Europeia possui um acordo para regular a mudança digital relacionada ao trabalho a distância (European Framework Agreement on Telework). No entanto, a maioria das iniciativas existentes está relacionada com o trabalho a distância formal, baseado no domicílio, enquanto os problemas parecem ser mais recorrentes com o trabalho a distância informal e ocasional.
À medida que o trabalho a distância se torna mais proeminente, também aumenta a necessidade de se desconectar para separar o trabalho remunerado da vida pessoal. França e Alemanha já começaram a analisar acordos negociados dentro das empresas e a legislação, tanto existente quanto nova, como o “direito de se desconectar” na revisão mais recente do Código de Trabalho francês. No futuro, isso pode resultar em medidas concretas para tornar a vida profissional menos difusa, como desligar servidores de computadores fora do horário de trabalho para evitar e-mails durante os períodos de descanso e feriados, o que já está acontecendo em algumas empresas.
Acesse o relatório completo:
www.ilo.org/global/about-the-ilo/newsroom/news/WCMS_544108/lang–en/index.htm
[1] A incidência de pessoas que trabalham a distância varia substancialmente, de 2% a 40% dos trabalhadores, dependendo do país, ocupação, setor e frequência com que eles se envolvem nesse tipo de trabalho. Em toda a União Europeia, uma média de cerca de 17% dos trabalhadores trabalham a distância. Na maioria dos países, proporções maiores de trabalhadores trabalham a distância apenas ocasionalmente, e não de maneira regular.
Fonte: ONU Brasil
Data original da publicação: 15/02/2017