Em plena pandemia, com baixa atividade econômica, os cabeças de planilhas desejam aprovar uma reforma administrativa que trás consigo um caldeirão de maldades e, dentre elas, a redução de 25% no salário do servidor público.
Albertino Ribeiro
Fonte: GGN
Data original da publicação: 21/02/2021
Mais uma vez a retórica neoliberal entoa o canto da sereia e, com seu trítono tocado pela grande mídia, elege o setor público como bode expiatório. Enganando os incautos com metáforas inapropriadas como a infame comparação do orçamento fiscal com o orçamento familiar, transformam a população em zumbis que, seguindo a cantilena neoliberal, acreditam que o Estado é um empecilho ao desenvolvimento do Brasil.
Paulo Guedes, que sempre se orgulhou de ser inimigo do Estado, alega a necessidade de modernizá-lo, dando-lhe mais eficiência. Quem acredita nisso? Um ministro que tem fé na teoria neoliberal como se fosse uma religião, obviamente não tem interesse em modernizar o Estado; seu objetivo é enfraquecê-lo e, se possível, destruí-lo.
Em plena pandemia, com baixa atividade econômica, os cabeças de planilhas desejam aprovar uma reforma administrativa que trás consigo um caldeirão de maldades e, dentre elas, a redução de 25% no salário do servidor público.
A (des)reforma contida na PEC 32/2020 tem como verdadeiro objetivo sinalizar ao mito do mercado que o governo está rezando na sua cartilha. O governo entende que dessa forma conseguirá atrair mais investimentos.
Quero colocar como fulcro deste texto – embora existam outros assuntos capitais no seu bojo – , o corte impiedoso de 25% no salário dos servidores. Entendo que cortar salário e renda em um momento de desemprego e baixa atividade econômica é fazer arminha contra o próprio pé (burrice acima de tudo).
Para termos uma ideia, o fim do auxílio emergencial tirou da economia 100 bilhões que estavam sendo destinados ao consumo. Segundo os economistas, isso explica parte da queda de 6,1% na atividade comercial de dezembro, frente a novembro de 2020, e uma queda ainda maior do setor de serviços (7,8%), segundo o IBGE.
Por seu turno, um corte nos salários dos servidores, que deve alcançar também estados e municípios, pode retirar ainda mais dinheiro da atividade econômica contribuindo para o aprofundamento da recessão.
Pensem comigo, segundo o IBGE, 72,2% dos gastos das famílias brasileiras são com alimentação, moradia e transportes. Note que aí não estão incluídos os gastos com plano de saúde, vestuários e outros. Imaginem o estrago que esse corte repentino provocará na economia, no bolso e principalmente na saúde mental do servidor público.
Alguém precisa avisar ao Paulo Guedes que os servidores públicos, quando voltam para casa depois do trabalho, não vão para marte (pelo menos, ainda não!); eles compõem esse universo das famílias brasileiras levantado pela pesquisa do IBGE.