Rede de Mulheres Solidárias: as muitas formas do poder feminino

O número de integrantes da Rede de Mulheres Solidárias, implantada há quatro anos em Apucarana, não para de crescer. O programa, que já rendeu uma série de prêmios para Prefeitura de Apucarana, aposta em uma nova forma de pensar a economia, com ênfase para o empreendedorismo, geração de renda e valorização do consumo e produção local. Atualmente, a rede conta com 490 participantes, que passaram em uma das 24 turmas de capacitação propostas pelo programa Economia Solidária e Protagonismo Feminino, da Secretaria da Mulher e Assuntos da Família.

Entre os empreendimentos que foram gerados pelo programa estão confecção, artesanatos, tricô, crochê, bordados, pinturas, produção de alimentos orgânicos, plantas medicinais e ornamentais, saboaria, artes visuais, designs gráficos, ateliês, animação de festas infantis e outra variedade de produtos e serviços voltados à gastronomia, beleza e estética. “É um emponderamento real e vejo que as mulheres que entram aqui começam a viver de forma diferente, principalmente emocionalmente. Elas se tornam mais felizes e levam isso para casa”, acrescenta a secretária da pasta, Denise Canesin Moisés Machado.

A Economia Solidária é uma prática regida pelos valores de autogestão, democracia, cooperação, solidariedade, respeito à natureza, promoção da dignidade e valorização do trabalho humano. “A economia solidária é uma realidade presente em Apucarana, que abre perspectivas de economia, e promove processos de desenvolvimento justo e solidário”, explica a coordenadora do projeto, Bete Berton.

Consolidado no município, o projeto vem dando novos frutos, incentivando a formação de novas propostas e novos projetos.

Programa é reconhecido em premiações

O projeto de Economia Solidária e Protagonismo Feminino/Rede de Mulheres Solidárias já recebeu diversos prêmios, entre eles o recurso de R$ 2 mil, do Instituto Sicoob, pelo relevante serviço prestado às mulheres com o desenvolvimento do projeto. O valor, segundo Bete, será investido na infraestrutura dos empreendimentos.

Além disso, recebeu o prêmio Ozires Silva de Empreendedorismo Econômico – do Isaebrasil; o IV Prêmio Gestor Público – IV PGP -PR – concedendo ao prefeito de Apucarana, Beto Preto, o título de “Gestor Público Destaque” pelo desenvolvimento, apoio e incentivo a esta boa prática no município, proporcionando oportunidades de renda e qualidade de vida para as integrantes do projeto; e o prêmio Consulado da Mulher 2017, conquistado pelo empreendimento Rede de Mulher de Gastronomia, que concorreu com 100 projetos de 22 estados do Brasil.

A vertente gastronômica da rede também ganhou eletrodomésticos da marca Consul, no valor de R$ 10 mil, que foram investidos na infraestrutura do negócio, além das mulheres receberem assessoria de gestão da marca durante 24 meses.

Transformando histórias

“O projeto mudou minha vida”, afirma a artesã Iolanda Gonçalves, 64 anos, que participa há quase três anos da Rede de Mulheres Solidárias. Ela produz panos de pratos, toalhas e outros objetos com fitas de pano, pintura em tecido e no tear, mas ela não quer parar por aí. “Quero continuar no projeto, fazendo cursos e aprendendo novas técnicas. A rede foi fundamental para a minha vida. Minha autoestima mudou para melhor”, avalia.

Quem também está contente com o resultado é Alessandra de Araújo Campos, 39 anos, pedicure, manicure e depiladora na Unidade II do programa, recém-instalada no distrito do Pirapó. Ela fez o curso de capacitação há dois meses e trabalha em uma das salas da casa do Espaço Mulher. “É muito legal! Me sinto segura e incentivada trabalhando aqui, além da divulgação ser muito boa”, comenta.

A agricultora e articuladora Maria Marta Lorenzini, 50, também divide as salas da Unidade II com outras integrantes do grupo. Marta foi uma das primeiras mulheres a participar do projeto, comercializando produtos orgânicos plantados por ela e pelo esposo, além de trabalhar também com massagem no local. “É um projeto lindo, renasci! Faço muitos cursos e evolui demais na rede, conheci pessoas que não imaginava conhecer”.

A professora aposentada Glaci Cecilia Machado, 61, começou em casa fazendo pano de prato. Por ter trabalhado sempre fora de casa, ela resolveu ir mais além e entrar para a rede para vender seus produtos. “Mudou minha vida esse convívio social. Meu emocional é outro hoje”.

Programa abre canal de comercialização 

Além de capacitar as mulheres, o programa abre um canal de consumo dos produtos feitos pelas participantes. Atualmente, a cidade conta com dois locais: o Espaço Mulher – Unidade I, localizado na Rua Oswaldo Cruz, 432, em Apucarana, e a Unidade II, localizada no Distrito do Pirapó, no Museu do Café.

Bete explica que o espaço público de comercialização acolhe a produção artesanal das mulheres, funcionando como um showroom de produtos e também como ponto de referência do projeto. A Prefeitura do Município mantém as despesas com a locação do imóvel, e a renda obtida com a venda dos produtos é revertida para os empreendimentos.

A Unidade II virou ponto de apoio do grupo Divas do Pirapó, que comercializam produtos orgânicos, artesanatos e atendem na área de beleza e estética com corte de cabelo, manicure, pedicure e massagem corporal estética, sendo mais um desdobramento do projeto para geração de trabalho e renda.

Além da comercialização nas Unidades I e II, as integrantes participam de feiras ao ar livre na Praça Rui Barbosa, nos dois primeiros sábados de cada mês, além de expor produtos vésperas de datas comemorativas, nos festejos do aniversário da cidade, na Festa da Cerejeira e na Feira do Café (Feicafé).

A geração de renda acontece também através de encomendas de peças com venda direta ao consumidor e sem atravessadores.

Moda inclusiva para mães e filhos

Entre os projetos da Rede de Mulheres Solidárias, também está o de moda inclusiva, que está capacitando mães para criar roupas funcionais para os filhos com algum tipo de deficiência física ou neurológica. Através do projeto, foi realizada uma capacitação na perspectiva da Economia Solidária para o grupo de mães Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), de Apucarana.

Como essas mães deixam seus filhos na Apae e passam a tarde com eles acompanhando a alimentação e administrando os remédios, a direção da instituição solicitou a capacitação dessas mulheres visando um futuro empreendimento econômico solidário para a geração de renda familiar, já que boa parte delas não pode ter um emprego formal por conta da condição dos filhos, que exigem acompanhamento constante.

A secretária Denise Canesin Machado explica que, no decorrer da capacitação, o grupo de mães mostrou interesse em aprender corte e costura, com a intenção de criar uma grife de roupas para seus filhos, uma vez que não existe no comércio uma modelagem especial para crianças com deficiências.

Desta forma, a secretaria, em comum acordo com a direção da Apae instalou um ônibus-escola no pátio da instituição com duas instrutoras. No decorrer deste curso, a Secretaria da Mulher fez uma articulação com a diretoria da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), para proporcionar às mães uma segunda etapa, agora avançando para um curso técnico avançado.

Studio M aposta em auto-gestão

O Studio M é mais uma das novidades da Rede de Mulheres Solidárias, pautado em 100% na auto-gestão das integrantes. Cinco empreendedoras assumiram a locação de um imóvel em Apucarana e esse local será um co-working.

No local, elas vão gerar trabalho e renda, além de ministrar cursos voltados para o artesanato diversificado, workshops e esse espaço vai ter condição de receber outros talentos que queriam ministrar cursos e eventos, lançamentos de produtos, exposições, entre outros. “Será um espaço para todas a artes”, conta Bete Berton.

Ligado ao Studio M, o Design & Cia Brasil, criado por Josiane e Inaiê Federissis, de Apucarana, para dar assistência a empreendedores e pequenas empresas, solucionando problemas de vendas com relação ao design.

O local estará aberto para outras pessoas que queiram locar o espaço e movimentando a programação. “Com essa iniciativa o projeto mostra um avanço, comprovando a autonomia empreendedora”, finaliza. O Studio M fica localizado na Rua Doutor Munhoz da Rocha, 962 – Centro.

“Polvo do amor” auxilia bebês na UTI

O projeto “Polvo do Amor”, que tem ajudado a acalmar crianças internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), do Hospital da Providência Materno Infantil, também tem apoio das mulheres integrantes do projeto. O trabalho é feito por voluntárias da ONG Soldados de Cristo e Rede de Mulheres Solidárias.

O projeto “Polvo do Amor” foi implantado com a ajuda de voluntárias de Apucarana da ONG Soldados de Cristo, Rede de Mulheres Solidárias e por uma enfermeira colaboradora do Hospital Materno Infantil que confeccionaram e doaram os brinquedos para o hospital.

“Temos projetos voltados às mulheres e com ‘Polvo do Amor’ podemos também atender os bebês enquanto eles ficam na UTI”, comenta Marlene Rossi, membro da Economia Solidária da Secretaria da Mulher e Assuntos da Família.

De acordo com a pediatra e médica intensivista do Hospital Materno Infantil Sebastiana Simões, o polvo é uma das ações que a equipe do hospital está realizando para o melhor atendimento ao paciente.

Eco-produção usa folha de bananeira

Aproveitar a planta em toda sua potencialidade, gerando renda e um material exclusivo. Com esses objetivos nasceu o programa de reaproveitamento das fibras da bananeira em artesanato e até na moda. As peças criadas pelas artesãs do Pirapó foram destaque, no ano passado, na 3ª edição do Apucarana Fashion Day (AFD). Acessórios e adaptações foram confeccionados para o evento de moda.

As fibras do caule dessa árvore se transformaram em 12 looks, com aplicações, chapéus, bolsas, esteiras, abajur, lustres, e outros vários acessórios, criados pelas profissionais do Laboratório de Criações de Moda (Lacrimo). A diretora do programa Bete Berton diz que o trabalho feito pelas artesãs vai desde a retirada do caule, até que ele seja transformado em fibras. A ideia é aproveitar um material que é abundante no distrito em peças autênticas e diferenciadas.

Além dos artesanatos, as mulheres aproveitam a fruta e sua casca, e investem também na parte gastronômica, produzindo bolos, biomassa, barrinhas de cereal, entre outros pratos.

Fonte: TNOnline
Texto: Fernanda Neme
Data original da publicação: 29/01/2018

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