Que setores deverão demitir em 2015?

Há certo consenso entre consultorias e analistas econômicos que, apesar de estar em patamares historicamente baixos, o índice de desemprego no Brasil deve começar a aumentar este ano – a dúvida é quando e para que patamar.

A média de pessoas empregadas no país já diminuiu em 2014 pela primeira vez em 12 anos, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE divulgada na semana passada. A queda de 0,1% em relação a 2013 indica que as empresas de fato começaram a fechar vagas.

Há indicativos de que esse processo tenha se acelerado no final do ano passado: de novembro para dezembro, houve uma redução no número de ocupados de 0,7%.

O aperto começou a ser sentido em alguns setores antes do que em outros. Há os que já enfrentam demissões coletivas, como as montadoras. Em outros, a perspectiva de que trabalhadores sejam dispensados nos próximos meses é particularmente forte.

Confira abaixo a lista dos setores que estão mais sujeitos a fechamentos de vagas:

Petróleo

Há alguns anos, essa era considerada uma das áreas mais promissoras para se construir uma carreira, em função dos planos de investimento no pré-sal e os altos preços do petróleo.

Agora, com a queda do petróleo e crise na Petrobras – que tem afetado duramente fornecedores e prestadores de serviço da estatal -, as perspectivas do setor são incertas.

No município de Itaboraí, onde está sendo construído o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) empresas envolvidas na Operação Lava Jato foram responsáveis por centenas de demissões nos últimos meses e têm atrasado o pagamento de funcionários.

Em Macaé, conhecida como a “capital do petróleo”, a situação também parece ser crítica.

Nilton Sampaio, do Sindicato dos Trabalhadores Offshore do Brasil (Sinditob), diz que foram homologadas na região cerca de 2 mil demissões nos últimos seis meses.

Entre as empresas que estariam demitindo, ele cita a Brasdrill Perfurações, a Paragon Offshore e a Transocean.

“Estamos fazendo uma média de 20 (homologações) por dia. Alguns trabalhadores estão conseguindo se recolocar em outras áreas ou fora do Brasil, mas certamente não são todos”, diz Sampaio.

“A cada plataforma de petróleo que se desloca para o exterior, dezenas de postos de trabalho são perdidos.”

Montadoras

Com os pátios cheios – resultado da queda nas vendas e nas exportações – muitas montadoras já começaram a dispensar trabalhadores ou oferecer incentivos para que eles aceitem programas de demissão voluntária.

Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o setor de veículos automotores fechou 23 mil vagas no ano passado – e as perspectivas para este ano não são muito melhores.

Muitos trabalhadores também foram incluidos em esquemas de layoffs, em que ocorre a suspensão temporária do contrato por até cinco meses em uma tentativa de se evitar a demissão.

Nesse período, parte do salário do trabalhador é paga pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador e parte pelas empresas. Montadoras como a General Motors e a Mercedes Bens aderiram ao esquema.

No mês passado, uma greve até conseguiu reverter a decisão da Volkswagem de demitir 800 funcionários em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.

Indústria de transformação

“A indústria de transformação já está demitindo há pelo menos nove meses e as perspectivas para este ano não são boas”, diz Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências.

Um levantamento da Fiesp mostrou que no ano passado a indústria paulista teve uma perda de 128 mil postos de trabalho.

“Foi a pior perda da história em termos absolutos – pior até que 2009, ano marcado pelo impacto da crise financeira internacional”, diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Estudos Econômicos da federação.

“Além disso, não temos a menor chance de reverter isso em 2015 – nossa percepção é de que as vagas continuarão a ser fechadas.”

Além do setor automotivo, também teriam contribuído para essa sangria de vagas as demissões nos setores de máquinas e equipamentos (22 mil postos fechados), alimentos (17 mil), metalurgia (13 mil) e vestuário (10 mil).

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) também registrou um saldo negativo de contratações em 2014.

No total, 2.671 postos de trabalho foram fechados, sendo as indústrias metalúrgica, têxtil, do vestuário e farmacêutica as principais responsáveis por esse resultado.

“E o cenário para este ano ainda é bastante incerto: um racionamento de água e energia, por exemplo, pode piorar ainda mais a situação do emprego na indústria”, diz o gerente de Economia e Estatística do Sistema Firjan, Guilherme Mercês.

Construção

Segundo Ribeiro, da Tendências, a redução dos investimentos em grandes projetos infraestrutura estaria afetando o mercado de trabalho da construção civil.

Ela diz que ainda é cedo para estimar o impacto da Operação Lava Jato no setor (grandes construtoras envolvidas no escândalo de corrupção da Petrobras estão com dificuldade de captar crédito e manter seus investimentos).

“Mas provavelmente a construção é um setor em que de fato teremos demissões”, avalia a economista.

Segundo Eduardo Zaidan, do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sindiscon), “em termos de contratações, o cenário do setor hoje é de certa estabilidade, mas com viés de baixa.”

“Houve algumas demissões em novembro e dezembro, mas elas também foram influenciadas por questões sazonais. A questão é saber se essas pessoas serão recontratadas, já que a taxa de investimento na economia está caindo e a construção civil é um setor sensível a esta variável”, diz ele.

No Rio de Janeiro, o mercado da construção civil registrou um saldo negativo de 1.908 vagas em 2014, de acordo a Firjan. Em 2013, haviam sido criadas 14.628 vagas no setor no Estado.

Fonte: BBC Brasil
Texto: Ruth Costas
Data original da publicação: 03/02/2015

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