Leonardo Sakamoto
Fonte: UOL
Data original da publicação: 17/05/2018
O brasileiro médio esta cansado da alta taxa de desemprego e de uma vida de bicos e, ao mesmo tempo, assustado com os mais de 60 mil homicídios anuais. Qualquer candidato cujas propostas consigam cativar o eleitor nas áreas de emprego e segurança pública estará à frente nas pesquisas para a Presidência da República em outubro.
Isso fica mais claro com os números de subutilização da força de trabalho, divulgados pelo IBGE, nesta quinta (17/05). Os desempregados, pessoas que gostariam de trabalhar mais e os que desistiram de procurar emprego chegam a 24,7% – o que representa uma força de trabalho de 27,7 milhões. Um dado mais dolorido: desses, 13,7 milhões procuraram emprego e não encontraram no primeiro trimestre. Esse resultado é um verdadeiro pedido de socorro.
Caso o governo Michel Temer estivesse surfando em um índice de desemprego de 4%, ele poderia aparecer nadando de sunga nos R$ 51 milhões do apartamento atribuído a seu amigo Geddel Vieira Lima, em Salvador, que a população relevaria, dizendo que ele estava contando doações para o Criança Esperança. Mas não é o caso. E, por conta disso, resplandecem as denúncias de corrupção e da compra de votos feita para engavetá-las. O que faz de Temer uma das únicas unanimidades entre coxinhas, mortadelas e o grosso não-alinhado da população.
Cerca de 4,6 milhões de pessoas (ou 4,1%) desistiram de procurar emprego. A região Nordeste concentrou 60,6% do desalento do país. E 15,9% do desemprego, enquanto o Sul apresenta 8,4%. O Nordeste segue entregando a Lula, mesmo preso em Curitiba, uma grande quantidades de votos devido à lembrança dos anos de bonança de sua gestão. Para o povão, não importa que houve uma confluência de fatores internacionais, como um ciclo positivo de commodities aumentando o caixa. O que importa era o crédito fácil, as faculdades e os programas sociais.
Boa parte dos candidatos à Presidência da República, até agora, têm explicado seus planos de geração de emprego e retomada do crescimento ao mercado, a grandes empresários e a figuras proeminentes da classe média. Contudo, a internet mudou o processo de formação de opinião para uma parcela significativa da sociedade, tornando o canal direto. É bom os candidatos começarem a explicar diretamente para o povo, de forma clara e objetiva, como vão gerar empregos em pouco tempo se quiserem aumentar suas chances.
A pauta da corrupção será importante, mas não decisiva na construção do voto, ainda mais considerando o histórico extremamente pragmático do brasileiro. Foi assim com a reeleição de Lula, em 2006, mesmo com o PT atolado no Mensalão. O que significa que a vida pregressa de partidos contaminados pela corrupção vai pesar menos na organização de coligações do que o tempo de rádio e TV que poderão oferecer para que sejam veiculadas as promessas.
Donald Trump não ganhou as eleições presidenciais nos Estados Unidos por conta de seu discurso de campanha ultraconservador. Isso contribuiu, porém ele não conseguiu o voto de eleitores de Estados que desempataram a corrida eleitoral por conta de discursos machistas, xenófobos e homofóbicos. Mas, sim, ao prometer ao trabalhador médio norte-americano a recuperação de seus empregos, perdidos com a globalização. Discurso que atingiu o lugar certo usando serviços como o da Cambridge Analytica. E contou com uma mão dos russos e dos jovens macedônios para a desconstrução de sua adversária.
Para muitos, o restante do que ele disse foi relevado. Não porque concordassem com os preconceitos de Trump, mas por causa desse cálculo racional.
Até agora, porém, poucos foram os que formularam publicamente algo a respeito dos empregos com um mínimo de solidez, falando diretamente com o público que espera ver e ouvir essa informação em sua rede social por seu smartphone simples com acesso via wi-fi gratuito. Quem se depara com os lugares-comuns proferidos pela maioria dos pré-candidatos a respeito de geração de empregos, sem ações efetivas e concretas de curto prazo, vai dormir mais triste e preocupado.
E olhando para os candidatos de todo o espectro ideológico e para a cobertura da própria imprensa, a população tem a impressão de que o tema central da campanha será o próprio Lula.
Claro que as eleições dependem do que vai acontecer com ele como pré-candidato e se será capaz de transferir votos a outra pessoa. Mas seria bom os pré-candidatos começarem a abrir esse debate com o povão.
Pelo menos, aqueles com capacidade cognitiva para tanto.
Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e o desrespeito aos direitos humanos no Brasil. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil e conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão.