Quando falta o ar traz o relato de um drama que parece ter se passado há muito tempo, mas é história ainda presente com suas marcas no país e em milhões de brasileiros. O documentário, que entra em circuito comercial nesta quinta-feira (9), mostra a história de trabalhadores do sistema público de saúde no combate a uma doença desconhecida e de grande letalidade, a covid-19. Ontem (8), equipe e atores do filme se encontraram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto. Também participaram a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta.
O dado mais recente aponta 37.085.520 casos registrados oficialmente. E 699.310 mortes desde março de 2020. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) passou agora a fazer divulgações semanais. Assim, a última atualização é do dia 4.
Momento heroico e macabro
O documentário, de 2021, ano do auge da pandemia, mostra a atuação de equipes de saúde em São Paulo (Hospital das Clínicas), Recife (UBS do Morro da Conceição, zona norte da cidade), Pará (Hospital Municipal de Castanhal e no município de Igarapé-Miri) e Salvador (Complexo Penitenciário Lemos de Brito).
Dirigido pelas irmãs Ana e Helena Petta, com 81 minutos de duração, venceu a mostra competitiva do festival É Tudo Verdade, em 2022. “É um registro extraordinário de um momento heroico e macabro da história do Brasil contemporâneo”, comentou o organizador do evento, o jornalista Amir Labaki. O filme também chegou a ser cotado para concorrer ao Oscar, mas ficou fora da disputa final.
Ana Petta é atriz. Helena é médica infectologista e tem doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade de São Paulo (USP). Foi uma das criadoras da série Unidade Básica, exibida na TV por assinatura. O foco do documentário é a dedicação dos profissionais de saúde, médicos, enfermeiras, agentes comunitários, em uma luta desigual. No país que passava por uma das maiores crises da história e cujo presidente não se cansou de negar a gravidade do problema.
Drama e sofrimento
O filme é apresentado do ponto de vista de profissionais da saúde. Dessa forma, ressalta a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) no interminável combate à doença que crescia em todo o país. Não faltam imagens de drama e sofrimento, que marcaram os últimos anos.
Lula, os ministros e a primeira-dama, Janja da Silva, estiveram por aproximadamente uma hora com a equipe do filme, médicas e agentes comunitárias. Uma delas era a indígena Eli Baniwa, que se diplomou médica aos 35 anos, na Universidade Federal do Pará, beneficiada por programas sociais. “Eu vi colegas meus, médicos jovens, se recusando a ir para a frente de batalha. Então, sinto orgulho de estar nesse filme”, afirmou no encontro. Ela contou que chegou a atender sozinha durante seis horas no posto de saúde.
Deveria ser “a” SUS
Já a médica e professora (Federal de Pernambuco) Rafaela Pacheco contou que costuma brincar com os alunos ao falar do sistema público: “Eu digo muito em sala que o SUS é mulher. Deveria ser ‘a’ SUS”.
Não faltaram menções à “política de saúde” do governo anterior. “Tinha gente que tomou o ‘kit cloroquina’ uma vez por semana, por cinco semanas. A gente perdeu amigos, mães, colegas de trabalho surtaram”, disse a agente comunitária Conceição Celestino, que atua no Morro da Conceição, na periferia de Recife.
Para Ana Petta, o documentário Quando falta o ar é, além de registro histórico, uma homenagem a quem enfrentou a doença e o negacionismo. “É histórico a gente estar hoje aqui, com vocês, presidente, fazendo uma espécie de reparação”, afirmou a diretora.
Assista o trailer de Quando falta o ar
Fonte: Rede Brasil Atual
Texto: Vitor Nuzzi
Data original da publicação: 09/03/2023