Precarização do trabalho e impacto das novas tecnologias na indústria da moda preocupam especialistas

Pesquisadores e representantes da indústria têxtil discutiram nesta terça-feira (24/04) a precarização das condições de trabalho e o impacto das novas tecnologias nas empresas de moda e varejo. Eles foram ouvidos em seminário organizado pela Segunda Secretaria da Mesa Diretora da Câmara e pelo movimento global “Fashion Revolution“, criado por líderes da indústria da moda sustentável com o objetivo de aumentar a conscientização sobre o verdadeiro custo da moda e seu impacto em todas as fases do processo de produção e consumo.

O evento marcou os cinco anos do desabamento do edifício Rana Plaza, onde funcionava uma fábrica de tecidos, em Bangladesh. O desastre deixou mais de mil mortos e expôs a fragilidade dos padrões de segurança e saúde na indústria da moda e motivou a mobilização em torno do tema.

Para a representante da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Anne Caroline Posthuma, a busca por reduzir os prazos de produção e baratear os produtos tem consequências na mão de obra. “Isso acaba gerando pressão em cima dos salários e também das condições de trabalho no setor. A OIT está atuando para promover o trabalho descente na cadeia produtiva do vestuário através do diálogo social e de atividades de promoção do trabalho formal”, afirmou.

O diretor da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX), Edmundo Lima, informou que o setor realiza auditorias, ao menos uma vez por ano, em mais de 4 mil empresas da cadeia têxtil. “Os grandes produtores já fazem essa fiscalização da cadeia produtiva como um trabalho adicional ao que é feito pelo governo”, informou. A ideia é garantir os direitos trabalhistas e padrões de segurança a cerca de 320 mil empregados ligados ao setor.

Lima frisou que a ABVTEX reúne mais de 70 marcas, entre elas conglomerados multinacionais, que movimentaram R$ 48 bilhões em 2017.

Ele observou também que 85% da moda consumida no país é nacional e está sujeita à legislação doméstica. No entanto, 30% do mercado de moda está nas mãos de camelôs e sacoleiros, o que, em sua opinião, dificulta uma fiscalização mais ampla do setor.

Orgânicos

Sobre formas de engajar o pequeno agricultor na cadeia produtiva da moda, o pesquisador da Embrapa, Wagner Lucena, trouxe o exemplo do cultivo do algodão orgânico em comunidades na Paraíba, Ceará e Pernambuco. “Como esses sistemas de produção usam colheita manual, empregam pessoas locais”, ressaltou Lucena.

Nesse programa, os produtores são treinados para o manejo sustentável da colheita e tem a produtividade avaliada por técnicos da Embrapa ao longo de 12 meses. Segundo o pesquisador, um dos resultados é o aumento no valor agregado do algodão. O preço do quilo de plumas passou de U$ 0,61 em 2006, para U$ 3,00 em 2012.

Tecnologias

Já o pesquisador do Senai, Marcello José Pio, acredita que a indústria 4.0, ou seja, com uso de robôs colaborativos, simulações espaciais e realidade aumentada, vai exigir mais do profissional de moda: “A moda sempre teve uma característica muito peculiar de achar que era só criação, que estava muito dissociada de tecnologias de produção e de novos materiais. Isso não vai mais existir”, concluiu.

Fonte: Agência Câmara
Texto: Emanuelle Brasil
Data original da publicação: 24/04/2018

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