Portugal: pessoas em teletrabalho ganham mais 51% do que o resto

Fotografia: Freepik

Os trabalhadores portugueses que, no final de 2020, se mantinham em teletrabalho, ganhavam em média mais 51% do que a restante população empregada, com o rendimento médio mensal líquido de quem faz da casa escritório a ficar em 1375 euros, contra uma média de 912 euros para os restantes trabalhadores.

Os dados, pedidos pelo Dinheiro Vivo ao Instituto Nacional de Estatística de Portugal, relativos ao 4.º trimestre, apontam uma diferença expressiva, mas já menor do que a que se verificou nos meses anteriores.

Nos 2.º e 3.º trimestres, quem estava em teletrabalho ganhava 57% e 58% acima de quem não o estava, num período que coincidiu com a implementação massiva do lay-off simplificado e de cortes de salário. Mais expressivos nas atividades forçadas a parar.

Cada vez menos em casa

Os cortes resultaram também numa diferença significativa na média de horas trabalhadas. Quem pôde continuar a trabalhar a partir de casa, manteve, em média, semanas de trabalho mais longas, com mais oito horas semanais trabalhadas do que quem não teve essa opção durante os meses do confinamento da primavera.

Fonte: INE – Módulos ad hoc do Inquérito ao Emprego – Trabalho a partir de casa

Os dados refletem o grande crescimento de ausentes do trabalho entre quem não tem funções suscetíveis de serem executadas em casa. Em abril, os ausentes chegaram a superar um milhão, contabilizando quem optou por gozar férias, esteve de baixa ou em lay-off, segundo o Eurostat.

No último ano, a pandemia dividiu o mundo do trabalho, mas não em partes iguais: de um lado estão mais de três quartos dos trabalhadores portugueses, considerados essenciais; do outro uma minoria que, no período mais agudo de confinamento de 2020, não foi além dos 22% da população empregada – aqueles a quem foi dada opção de trabalharem a partir de casa.

No auge do primeiro estado de emergência, mais de um milhão de pessoas ficou em teletrabalho, mas os números foram caindo até à reta final do ano, num período já de alívio relativo das medidas de confinamento, para metade. No último trimestre de 2020, pouco mais de meio milhão, um décimo dos trabalhadores por conta de outrem, mantinha-se em trabalho remoto, mostram os dados do INE.

Estado apura números

O número dos que persistiram em teletrabalho ao longo dos meses devido à pandemia representa cinco vezes mais do que o universo de 111 500 que, em 2019, trabalhavam em casa em Portugal, segundo o Eurostat. Eram, então, apenas 2,3% dos trabalhadores. Mas continuam ainda a ser uma minoria.

Neste início de ano, o número deverá ter voltado a crescer, com o regresso à obrigação de teletrabalho sempre que as funções sejam compatíveis, e sem necessidade de acordo entre empregador e trabalhador, que se mantém. Os novos números do INE só serão conhecidos a 12 de maio.

Conhecem-se, porém, as estimativas para o universo da função pública, onde menos trabalhadores foram colocados em casa. Depois de ter tido 68 mil funcionários em teletrabalho há um ano, no final de janeiro a administração central contava apenas 45 mil.

Os dados, segundo o Ministério da Administração Pública, foram recolhidos a 30 de janeiro, e ainda poderão aumentar. “De momento, estamos a proceder a uma nova atualização destes dados, perspectivando-se níveis de teletrabalho mais próximos dos registados durante o primeiro confinamento”, refere o ministério ao DV.

Fonte: Diário de Notícias, com ajustes
Texto: Maria Caetano
Data original da publicação: 05/03/2021

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