Holger, de 49 anos, lembra como foi difícil o momento em que, há dez anos, falou abertamente na empresa onde trabalha que estava infectado com o HIV. A sorte, conta, é que o então chefe soube reagir de forma tranquila. A franqueza de Holger não prejudicou sua carreira, muito pelo contrário. Ele agora é chefe da agência, que angaria doações para instituições de caridade.
Fisicamente, Holger está bem. Ele tem que tomar um comprimido uma vez por dia. Um medicamento que garante que ele não adoeça de nenhuma das enfermidades que podem se tornar um risco de vida para pessoas com HIV. “Sou tão capaz como antes”, enfatiza Holger. Mas muita coisa mudou na vida dele. “Você passa a cuidar mais de si. Por exemplo, para não se sobrecarregar demais, para que você possa continuar funcionando.”
Expectativa de vida normal
Antigamente, o diagnóstico “aids” era quase uma sentença de morte. Há 20 anos, quase não havia uma maneira de conter a doença de forma eficaz. Os infectados muitas vezes morriam dentro de alguns meses ou anos. Ou tinham que lidar com limitações consideráveis. Quando Angelika soube há 18 anos que havia sido infectada pelo HIV, ela levou um choque.
A chamada “terapia antirretroviral”, que hoje é padrão, não existia ainda. Há uma década, ela, que hoje tem 55 anos, teve que abdicar de seu emprego em um centro de aconselhamento para usuários de drogas. Ela recebe desde então uma pensão por invalidez. “Por causa da minha doença, por muito tempo eu não estive nada bem. Então, escolhi este caminho para conseguir um pouco de paz e força.”
Mas, graças a novas drogas, os soropositivos na Alemanha agora têm expectativa de vida quase tão alta quanto a média da população. E se tudo correr bem e não houver complicações, a qualidade de vida não precisa ser diferente da de uma pessoa saudável.
Novas terapias, velhas imagens
Dois terços dos cerca de 78 mil portadores do vírus HIV que vivem na Alemanha continuam trabalhando normalmente. “Talvez eles pudessem ser muito mais, se muitos deles não tivessem que lutar contra a exclusão e a discriminação”, acredita Manuel Izdebski, diretor na Deutsche Aids-Hilfe, associação alemã de apoio a portadores de HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. “Embora as pessoas com HIV tenham uma expectativa de vida normal, elas não têm uma vida normal, porque, muitas vezes, se tornam vítimas de estigmatização.”
A organização ajuda há 30 anos pessoas que vivem com HIV a lidar com a doença. Antes, era uma questão importante informar o público sobre o HIV e sobre as formas de se proteger. Mas agora a grande maioria dos alemães sabe tudo o que é mais importantes sobre a doença, e a taxa de infecção diminuiu drasticamente. Com cerca de 3 mil novas infecções por ano, a Alemanha tem uma das taxas mais baixas da Europa Ocidental.
“Mas exatamente pelo fato de apenas um em cada mil trabalhadores estar infectado com HIV na Alemanha, a incerteza é muitas vezes grande, tanto entre amigos e colegas de soropositivos, quanto entre os chefes de funcionários portadores da doença”, alerta Izdebski. Muitas pessoas soropositivas sequer são contratadas, porque os empregadores têm medo de que elas fiquem doente com mais frequência. “Isso tem a ver com as imagens antigas, que ainda assombram as mentes”, lamenta Izdebski. “Se eu pensar como empregador, que acha que, possivelmente, está contratando alguém que está gravemente doente e logo vai morrer, eu até entendo. Mas há muito tempo que isso não é assim.”
Importância da solidariedade
Por isso, a campanha deste ano no Dia Mundial de Combate à Aids tem, na Alemanha, o slogan “Viver positivamente juntos”. Chamados “embaixadores”, como o soropositivo Holger, ressaltam, em cartazes, a importância da solidariedade das pessoas mais próximas. Há um ano, existe também a campanha “HIV no mundo do trabalho”, com participação de uma série de empresas. As companhias se comprometeram a fazer mais para garantir que pessoas com HIV possam levar uma vida trabalhista normal. Dela, participam grupos como Ford, Ikea, a Deutsche Telekom e a cadeia de hotéis NH.
Mas Izdebski não considera esse engajamento voluntário suficiente. Ele reivindica que a lei alemã que desde 2006 proíbe a discriminação, por exemplo, de homossexuais e pessoas com deficiência, também inclua a discriminação de doentes crônicos, como infectados pelo HIV. “Porque isso forneceria uma proteção importante contra discriminação, sobretudo na vida profissional.”
Fonte: Deutsche Welle
Texto: Jeanette Seiffert
Data original da publicação: 01/12/2013