Em quatro décadas, a relevância do Brasil para a economia mundial rolou ladeira abaixo. Em meados dos anos 1980, representávamos 3,2% do PIB global. Estamos reduzidos a menos de 2%. Não deixamos apenas de acompanhar um período de enormes transformações produtivas. Escorregamos inclusive dos degraus que havíamos conseguido transpor. Quase nada resta, por exemplo, das nossas indústrias de máquinas, de construção pesada, petroquímica ou naval.
Mas será possível recuperar o tempo perdido sem contar com um novo projeto nacional? O economista Marcio Pochmann frisou que não, no primeiro ciclo dos diálogos Futuro do Trabalho no Brasil, promovidos em setembro de 2020 por Outras Palavras, em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo. Mas Pochmann foi além. Ele sustentou que o impasse não será superado sem intervenção ativa da esquerda. E lamentou que, em vez de se dedicar à tarefa, as forças progressistas tenham mergulhado num saudosismo melancólico. Agem como se fosse possível voltar a um tempo glorioso – o da emergência de um novo sindicalismo. Comportam-se à moda dos escravistas na virada do século; ou da elite agrária, na industrialização dos anos 1930.
Polêmica, ainda mais partindo de quem presidiu, até há pouco, a fundação Perseu Abramo, vinculada ao PT, a fala de Pochmann acrescentou um ingrediente indispensável, ao ciclo Futuro do Trabalho. Ainda mais por que o palestrante não a enunciou como peça de retórica. Fez questão de debater em detalhes as transformações das últimas décadas e a apontar o que vê como um imenso vácuo na formulação política da esquerda. Só será possível superá-lo, parece pensar ele, colocando o dedo na ferida.
Fonte: Outras Palavras
Data original da publicação: 02/02/2021