A economia brasileira cresceu 1,1% em 2018 em relação ao ano anterior, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O avanço é o mesmo registrado no ano de 2017. No quarto trimestre, no entanto, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) foi pífia, de apenas 0,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior, o que não reflete o otimismo do mercado e do setor privado com a economia após a eleição do presidente Jair Bolsonaro.
Economistas avaliam que a greve dos caminhoneiros e as incertezas provocadas pelo período eleitoral no Brasil prejudicaram o crescimento no ano ano passado. Jogam também a culpa na lenta recuperação do mercado de trabalho. No ano passado, a taxa média de desocupação foi de 12,3%, pouco inferior aos 12,7% de 2017. No trimestre terminado em janeiro, porém, o número de desempregados cresceu novamente.
Apesar da fraca recuperação, quase todos os componentes do PIB registraram crescimento em 2018, mesmo que tímido. Com exceção da construção civil, que desacelerou 2,5%, na quinta queda anual seguida. A indústria avançou 0,6% e a agropecuária 0,1%. O crescimento de 2018 foi empurrado principalmente pelo setor de serviços, que responde por mais de 70% do PIB. As sete atividades do setor tiveram taxas positivas, com destaque para as atividades imobiliárias, que cresceram 3,1%, e o comércio, que teve alta de 2,3%.
O consumo das famílias cresceu 1,9% no ano passado, enquanto os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) avançaram 4,1%. Foi o primeiro resultado positivo após uma sequência de quatro anos negativos. Já o consumo do Governo se manteve estável.
O último trimestre do ano, no entanto, revelou uma desaceleração desse indicadores. A Formação Bruta de Capital Fixo caiu 2,5% e a despesa de consumo do Governo recuou 0,3%. Já a consumo das famílias perdeu fôlego, avançando apenas 0,4%. Entre julho e setembro de 2018, esse segmento tinha crescido 0,6%.
A redução do investimento no último trimestre é um dos resultados mais preocupantes do anúncio do PIB na avaliação de Juliana Inhasz, professora de economia do Insper. “Como conseguimos crescer de forma sustentável se a gente não investe? O que esse indicador revela é a que a sociedade que tem dinheiro e capital não está apostando dentro da economia brasileira. Esse número sinaliza a desconfiança dos investidores de que Bolsonaro colocará o Brasil nos trilhos, há uma dúvida da capacidade do presidente de aprovar a reforma da Previdência apresentada neste mês também”, explica.
Os números do PIB são um desafio para o Governo Bolsonaro que conta com uma grande expectativa dos brasileiros para a melhora da economia. A pesquisa CNT/Ibope divulgada nesta semana mostrou que 51,3% dos entrevistados acreditam que a situação do emprego vai melhorar nos seis meses, mais que o dobro do resultado de setembro de 2018, antes da eleição. Ou seja, as expectativas de melhora são dirigidas ao Governo Bolsonaro. Ainda é cedo para dizer se esse anseio será frustrado. Mas alguns sintomas não estão jogando a favor do presidente Bolsonaro e sua equipe. Nesta quinta, o IBGE mostrou crescimento do desemprego, que passou de 11,6% a 12% no trimestre terminado em janeiro. O desempenho fraco do último trimestre, justamente quando o mercado financeiro e o setor privado aplaudiam o resultado das eleições, também deixa incertezas no horizonte.
Para este ano, a previsão do Boletim Focus, divulgado na última segunda-feira, é de expansão da economia brasileira de 2,48%. Na avaliação de Inhasz, a estimativa é, no entanto, bastante otimista. “Eu diria que chega a ser exagerada para uma economia que precisa de muitos ajustes e, até agora, pouco evoluímos nas reformas. O texto da Previdência ainda será discutido e alterado, já perdemos dois meses do ano, em que pouco foi feito. Ainda temos um cenário externo incerto ao longo do ano, com incertezas sobre China e Estados Unidos”, diz.
Setor externo fraco
O setor externo contribuiu negativamente para o PIB brasileiro no ano que passou. As importações cresceram 8,5% em 2018, enquanto as exportações aumentaram 4,5%. “A importação está crescendo mais que a exportação. Aqui tem a ver, por exemplo, com a agropecuária, que diante da safra recorde no ano 2017, exportou bem menos em 2018 do que em 2017. E além disso a crise da Argentina afetou muito as exportações, porque é um dos principais parceiros comerciais do Brasil”, explicou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE em coletiva de imprensa.
Fonte: El País Brasil
Texto: Heloísa Mendonça
Data original da publicação: 02/03/2019