Qual o perfil das famílias que contam com crianças e adolescentes que trabalham? Para o Ministério Público do Trabalho a resposta a essa pergunta pode ajudar a enfrentar as causas do trabalho infantil no Brasil. Uma pesquisa ajudou a mapear onde estão as crianças que trabalham.
A pesquisa foi feita em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Foram analisados os perfis das famílias que contavam com o trabalho de crianças e adolescentes entre os anos de 2014 e 2016 em duas regiões metropolitanas: São Paulo e Porto Alegre.
E o resultado é que famílias monoparentais, ou seja, apenas com a presença de um dos pais, chefiadas especialmente por mulheres e de baixa escolaridade, têm 50% a mais de chance de precisar contar com o trabalho de crianças e adolescentes para compor o orçamento do que todas as outras famílias.
Para Lúcia Garcia, coordenadora da pesquisa de emprego e desemprego do Dieese, a pesquisa mostra que trabalho infantil não é uma questão cultural. “Nós identificamos que as famílias que vão ter a maior presença de crianças são as famílias associadas à pobreza, à limitação da inserção social de seus responsáveis, à escolaridade de pais e responsáveis, à renda de uma maneira geral dessa família. Portanto, o que nós identificamos é que o trabalho precoce está associado a uma condição socioeconômica e não necessariamente por uma predileção para o trabalho. O trabalho infantil e de adolescentes está associado à falta de oportunidades e de alternativas na vida”.
Para a procuradora do Trabalho, Eliziane Santos, os resultados do estudo revelam que é preciso diminuir a precarização do trabalho e melhorar a renda dos adultos para combater o trabalho infantil. Mas, para ela, mudanças como a reforma trabalhista têm colocado o Brasil na direção oposta.
Segundo Eliziane, “Já existe uma pesquisa do Ipea informando que houve um crescimento, hoje, no trabalho informal, e se esse dado, a partir dessa pequisa, está associado também à presença de crianças trabalhando, o Dieese mostra que existe uma quantidade maior de crianças e adolescentes em famílias que não têm vínculo formal de trabalho. Há uma probabilidade maior de trabalho infantil nesse perfil de família. Então podemos concluir que se a reforma trabalhista traz esse impacto de menos trabalho formal, de menos contratos de trabalho assinados com direitos assegurados, como vimos durante anos de conquista da classe trabalhadora, certamente vai trazer também esse impacto em relação ao trabalho infantil”.
A estimativa do IBGE é de que, em 2015, o trabalho precoce era realidade para 2,6 milhões de crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos em todo o país.
Fonte: Agência Brasil
Texto: Eliane Gonçalves
Data original da publicação: 27/02/2018