Perguntas de uma madrugada sem fim em Bhopal

Fotografia: Raghu Rai/Magnum Photos

por Charles Soveral

Passados 30 anos, muitas perguntas ainda não foram respondidas quanto ao mais grave desastre industrial da história da humanidade, ocorrido na cidade indiana de Bhopal, quando 40 toneladas de gases tóxicos vazaram na fábrica de pesticidas da empresa Union Carbide.

A tragédia de Bhopal contaminou 500 mil pessoas, a maioria trabalhadores, na madrugada de 3 de dezembro de 1984. Dessas, três mil foram mortas na sequência dos acontecimentos e outras 10 mil teriam morrido ao longo dos anos em decorrência da inalação prolongada de uma gás químico venenoso não identificado na época. 150 mil pessoas ainda sofrem as sequelas daquele acontecimento, que liquidou com a qualidade de vida de muitos dos sobreviventes, e cerca de 50 mil ficaram totalmente incapacitados para o trabalho.

A Union Carbide, empresa de pesticidas de origem norte-americana, negou-se a fornecer informações detalhadas sobre a natureza dos contaminantes. Como consequência, os médicos não tiveram condições na época de tratar adequadamente os indivíduos expostos.

As crianças que nascem na região, filhas de pessoas afetadas pelos gases, também apresentam problemas de saúde. Até hoje os sobreviventes do desastre e as agências de saúde da Índia não conseguiram obter da empresa americana e de seu novo dono, a Dow Química (Dow Chemicals), informações sobre a composição dos gases que vazaram e seus efeitos na saúde. Somente pesquisas posteriores deram pistas do que realmente foi liberado na atmosfera de Bhopal naquela madrugada sem fim há 30 anos.

A região onde se localizava a fábrica sofreu um brutal impacto ambiental e econômico. A fábrica da Union Carbide está abandonada desde a explosão tóxica e, a sua volta, permanecem resíduos perigosos e materiais contaminados que infiltraram o solo e as águas subterrâneas. Com amostras dos locais e das pessoas contaminadas, os especialistas concluíram que o principal produto contaminante era o isocianato de metila, altamente tóxico e destruidor de organismos vivos, muito mais forte que os defensivos agrícolas proibidos há mais de meio século na Europa.

No início do mês de dezembro desse ano, o Fundacentro, ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), promoveu um debate em torno da tragédia de Bhopal e dos acidentes ocorridos no mesmo ano na Vila Socó, em Cubatão/SP, e na Cidade do México, que vitimaram trabalhadores com produtos químicos altamente prejudiciais à vida humana e dos animais.

Foi o efeito dramático destes acontecimentos que motivou a criação, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Convenção 174, que trata da prevenção de acidentes industriais maiores ou ampliados.

Para o especialista no acidente de Bhopal José Possebon, ex-servidor do Fundacentro, houve uma série de erros que culminaram na tragédia, além de um grande descaso com os trabalhadores e as vidas humanas. Ele afirma que a empresa Union Carbide “tinha os recursos para evitar uma catástrofe, mas a maioria dos equipamentos não estava funcionando ou estava em manutenção. Não havia equipe de controle de emergência para atuar e as providências demoravam a ser tomadas.”

O sistema de refrigeração, por exemplo, havia sido retirado de operação para manutenção, apesar do isocianato de metila precisar ser mantido a uma temperatura de 0° C. O lavador de gases, que utilizava uma solução de hidróxido de sódio para neutralizar o isocianato de metila, também estava inoperante no dia do acidente. Já o queimador de gases (flare) estava desativado, pois um trecho da tubulação foi retirado para manutenção. Se estivesse funcionando, queimaria o ICM e impediria a contaminação ambiental.

Outro problema foi o sistema de armazenamento da substância química. Feita em três tanques, o terceiro deveria estar vazio e ser utilizado para estocagem de emergência. Mas os três estavam cheios. O sistema de pressurização também falhou, porque a válvula estava com vazamento e permitiu a entrada da água no tanque. Trinta anos após o acidente, a planta continua abandonada e não desmontaram sua estrutura.

O acidente de Bhopal motivou a OIT a buscar uma regulação do tema e editar novas convenções internacionais, mas os especialistas têm certeza de que a lição não foi totalmente assimilada pelo fabricantes desses produtos químicos perigosos e de que muitos trabalhadores e populações menos favorecidas mundo à fora estão sujeitas a tragédias de igual proporção.

* Matéria especial produzida com pesquisa de internet (Wikipedia e Fundacentro).

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