O calendário do auxílio emergencial acabou oficialmente, em 27 de janeiro, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, não quer prorrogá-lo. Entretanto, uma recente pesquisa Datafolha revelou que sete em cada 10 brasileiros que receberam o benefício não encontram outra fonte de renda. Diante desse cenário, a pobreza no país deve crescer rapidamente, na avaliação do diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior.
O auxílio emergencial, demandado pelos movimentos sociais, teve papel fundamental para o sustento dos trabalhadores que tiveram renda exaurida na pandemia de covid-19. Segundo Fausto, o programa deu uma garantia mínima de condições de subsistência para parte da população.
O diretor técnico do Dieese diz, em entrevista à Rádio Brasil Atual, que Guedes e sua equipe técnica têm uma “visão limitada” sobre o papel social do auxílio. “Eles olham como gasto, sem entender seu papel na economia. O Brasil não teve uma queda econômica maior, porque o auxílio garantiu o fluxo de renda”, diz o especialista. “Como consequência, a maioria da população que recebeu o auxílio só tinha ele como renda, o que aumenta a pobreza rapidamente. Ao mesmo tempo, o país não conteve a pandemia, e as dificuldades econômicas se mantiveram”, acrescentou.
Ainda segundo o Datafolha, entre os que receberam alguma parcela do auxílio emergencial, 51% afirmaram ter perda de renda na pesquisa realizada, no início de dezembro. Agora, são 58%. No mês passado, o auxílio tinha garantido a manutenção do nível de renda familiar para 34% dos beneficiados entrevistados.
Guedes disse, ontem, que para manter o auxílio emergencial em 2021, o governo federal irá travar as verbas para educação e segurança pública. O diretor técnico do Dieese lembra que a popularidade de Bolsonaro tem despencado, após o fim do programa de renda, o que criou uma pressão para darem respostas à população.
Fausto afirma ainda que, se for necessário buscar fontes de renda para manter o auxílio, o governo federal precisa pesar a mão sobre os mais ricos do país. “Desde o final do ano passado, o governo queria cortar outros direitos sociais para pagar o auxílio. Tudo isso por conta da manutenção do teto de gastos, mas eles esquecem que é possível gerar receita para permitir a sobrevivência das pessoas. Um dos mecanismos para manter o auxílio é aumentar a taxação de impostos sobre os mais ricos que ganharam muito dinheiro na pandemia. É preciso debater quem paga a conta na pandemia.”
Assista à entrevista:
Fonte: RBA, com ajustes
Data original da publicação: 27/01/2021