Para o cientista político Armando Boito Jr., professor títular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a classe média brasileira, via profissionais liberais, entrou tardiamente no sindicalismo e tende a não acreditar no movimento. “A classe média valoriza de modo indevido o diploma e a instrução formal como base para o sucesso salarial, profissional e menospreza a importância da organização e da luta coletiva, e isso reduz a força do movimento sindical. A classe operária é muito mais mobilizada sindicalmente”, afirmou, durante seminário organizado na quinta-feira (5), na sede do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU).
Mesmo assim, Boito identifica um outro momento na organização sindical. “Temos um crescente número de greves e ganhos reais nos salários, uma situação que contrasta muito com a vivida na década de 90, quando acumulava perdas e estava em refluxo grande. Hoje o cenário está renovado”, afirma.
Segundo alguns dos palestrantes, entre os desafios para renovar e fortalecer o movimento sindical dos profissionais liberais com formação universitária – como médicos, farmacêuticos, engenheiros, nutricionistas, dentistas, entre outros – é fundamental integrar a classe média ao sindicalismo operário. Para Boito, com a organização das categorias por profissão, e a resistência de integração ao sindicalismo operário, a força da organização dos profissionais liberais fica reduzida. “A classe média precisa estar numa central junto com o sindicalismo operário, tem de fazer mobilização junto, tem de ultrapassar o corporativismo profissional, porque presos a ele a nossa capacidade de pressão é pequena. O sindicalismo de classe média só tem a ganhar se integrando a esse movimento sindical. É necessário vencer essa resistência, porque só temos a ganhar com isso.”
“Somos um eixo de conhecimento decisivo para o país atual e para o futuro, mas temos um desenvolvimento ainda muito limitado. A CNTU identifica essa situação e quer colocar para as camadas médias que o futuro delas está totalmente ligado com os interesses maiores do país. Precisamos descer das arquibancadas e entrar em campo”, afirma o diretor da entidade Allen Habert. Criada em 2006, a confederação teve registro sindical publicado dois anos depois. Informa representar engenheiros, farmacêuticos, médicos e odontologistas (por meio de federações) e economistas e nutricionistas (por meio de sindicatos).
De acordo com o diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, a sociedade está diante de um novo processo, no qual o sindicalismo também é um caminho para promover no país transformações mais robustas. “Temos condições de enfrentar grandes temas, porque devido ao protagonismo das centrais hoje o movimento sindical está além do espaço das negociações das campanhas salariais, a exemplo de quando os trabalhadores barraram o processo da terceirização.”
Segundo Clemente, é necessário olhar para os problemas da organização sindical, seja a fragmentação ou dificuldades de articulação, e fortalecer as entidades para negociações mais complexas, como a luta por igualdade de oportunidade e igualdade de condições, melhores empregos e salários e enfrentamento da alta rotatividade e da informalidade.
“Esse é o ponto de partida. Sabemos dos vários problemas que temos na vida sindical, mas precisamos olhar para nossa organização sindical e fazer as mudanças necessárias para fortalecê-la. O nosso grande desafio é enfrentar o problema da desigualdade com uma macroagenda sindical, e há necessidade de somar ações nesse sentido. Temos de pensar na nossa habilidade política para tornar nossa organização como elemento da nossa estratégia”, disse Clemente.
“Hoje, a classe média que se aproxima do sindicalismo enxerga a contribuição que pode dar no processo político brasileiro, na distribuição de renda, na luta pelas redução das desigualdades. Os sindicatos devem colocar essas questões e saber que tipo de luta ele deve assumir para contribuir nessa direção progressista da sociedade brasileira”, acrescenta o economista.
“Nossa capacidade se mede pela nossa unidade, pelo conjunto, pela capacidade da nossa luta. Temos de fortalecer a ideia da linha unitária e a grande tarefa da CNTU será fortalecer as federações como instância intermediária nesse sentido”, diz o consultor sindical João Guilherme Vargas Netto.
Fonte: Rede Brasil Atual, com ajustes
Texto: Viviane Claudino
Data original da publicação: 05/12/2013