A visão de que robôs dotados de Inteligência Artificial vão substituir trabalhadores humanos é exagerada, mas minam a confiança dos trabalhadores.
Doug Henwood
Fonte: Jacobin Brasil
Tradução: José Carlos Ruy
Data original da publicação: 03/01/2023
Atualmente há muita conversa sobre robôs para substituir todos os trabalhos. Uma olhada nos dados revela uma pequena indicação de que isso realmente acontecerá.
Sou cético. Com isso, não pretendo argumentar que a Tecnologia da Informação (TI) e a IA e todas as outras abreviações e acrônimos não estão mudando profundamente o mundo. Estão. A tecnologia afeta tudo – trabalho, diversão, amor, política, arte, tudo isso. Mas a versão maximalista, onde robôs, dotados de IA, vão substituir trabalhadores humanos, é exagerada. Sem dúvida, eles substituirão alguns. Mas nem todos.
Em 1987, já faz tempo em termos de tecnologia, o economista Robert Solow escreveu: “Você pode ver a Era do computador em qualquer lugar, exceto nas estatísticas de produtividade”.
Esta observação virou um clichê, e era verdade. A produtividade – medida como o valor em dólar da produção por hora de trabalho, ajustada pela inflação – caiu abaixo de sua média de longo prazo em meados da década de 1970, sendo um dos muitos sinais do fim da Era de ouro do pós-Segunda Guerra, e ficaria assim por vinte anos.
Por volta de 1995, a produtividade acelerou com a comercialização pela Internet e o boom das empresas pontocom, que acompanhou o aumento no investimento empresarial em TI. Apesar do gracejo de Solow, uma nova era começou. Esse crescimento da produtividade ocorreu numa época de baixo desemprego e aumento real dos salários – ao contrário do que ocorre hoje, quando o desemprego continua baixo, mas o crescimento salarial é uma merda. Portanto, por esse precedente, não há razão para associar uma aceleração da produtividade à perda de empregos.
Essa nova Era durou apenas cerca de dez anos. A produtividade voltou a cair, atingindo mínimos históricos entre 2014 a 2016. Desde então, houve um aumento, mas o crescimento da produtividade está em níveis comparáveis aos da queda de produtividade no final dos anos 1970, 1980 e início dos anos 90. Então, estamos de volta à piada de Solow: não se vê os robôs nas estatísticas de produtividade.
Aqui está outra maneira de ver isso. Historicamente, foram necessários pouco mais de 2% do crescimento do PIB para gerar um aumento de 1% no emprego. Durante a maior parte da última década, o crescimento do emprego superou essa norma histórica. Ultimamente, a economia dos EUA adicionou quase quarenta mil empregos por mês acima do que o crescimento do PIB sugere. Em outras palavras, um em cada cinco empregos criados atualmente nos EUA não existiriam se as relações normais entre crescimento e emprego ainda estivessem sob controle. (Veja o gráfico abaixo.)
Crescimento do emprego
O gráfico mostra o crescimento real do emprego e o crescimento previstos a partir de uma regressão simples do crescimento do PIB. Quando a linha real escura está acima da linha prevista, como tem ocorrido na última década, o crescimento taxa de emprego é mais rápido do que deveria ser baseado no crescimento do PIB e vice-versa.
O crescimento do PIB – que tem sido lento para os padrões históricos – também tem produzido quedas maiores no desemprego do que se esperaria se a situação antiga ainda estivesse em vigor. Se os robôs estivessem entrando, se esperaria exatamente o contrário – um crescimento do emprego muito lento e um crescimento econômico com desemprego mais rígido do que tem sido. Mas essas coisas simplesmente não estão acontecendo.
Talvez ocorram, embora se ouça histórias de pânico sobre vagas cortadas de trabalhadores humanos desde o início do capitalismo. Gritos de alarme como “os robôs estão chegando!” minam a confiança da classe trabalhadora e deixam as pessoas mais gratas por qualquer porcaria que se ofereça a elas. A vida econômica já é difícil o suficiente, mesmo sem concorrentes mecânicos.
Doug Henwood é editor da Left Business Observer e apresentador do Behind the News. Seu último livro é My Turn.
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