Surpreendido pela onda de imigração, especialmente de haitianos, que desembarcam no país desde 2010 em busca de trabalho e melhores condições de vida, o Brasil ainda não conseguiu compreender profundamente os efeitos deste fenômeno. Durante o 17º Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em Porto Alegre entre os dias 20 e 23 de julho, uma mesa redonda promoveu um debate com o objetivo de lançar um pouco de luz sobre o tema.
O encontro aconteceu no dia 21 de julho e reuniu sob o título “A sociologia histórica da imigração e os novos imigrantes brasileiros” os professores Márcio Sérgio Batista Silveira de Oliveira (UFPR), Oswaldo Mario Serra Truzzi (UFSCar), Karl Martin Monsma e Anita Brumer (UFRGS).
Karl Monsma apresentou as consequências para o mercado de trabalho brasileiro da vinda dos haitianos para o país. Traçando um perfil geral desses imigrantes, descreveu os que chegam ao Brasil como os mais ambiciosos e com melhores condições econômicas em seu país de origem.
O professor da UFRGS considerou também que os empregadores brasileiros dão preferência pela contratação destes trabalhadores, visto que eles inicialmente aceitam condições de trabalho rejeitadas pelos trabalhadores brasileiros.
Monsma explicou que existe uma pressão empresarial sobre as autoridades de imigração para que sejam concedidos “vistos humanitários”, já que esses imigrantes não se enquadram na situação de refugiados. Com esse visto, eles estão tecnicamente qualificados e podem pedir Carteira de Trabalho, sendo assim empregados legalmente.
O professor Márcio Oliveira também tratou da migração haitiana para o Brasil. Apontou que a diáspora (dispersão de um povo em consequência de preconceito ou perseguição política, religiosa ou étnica) faz parte da cultura do Haiti. Ele destacou que eles possuem um extenso vocabulário em seu idioma para as diversas condições migrantes. Para Oliveira, os imigrantes haitianos buscam emprego no estrangeiro para enviar dinheiro aos familiares que ficam no país.
Conforme o professor da UFPR, no caso brasileiro, a sua pesquisa indica que os haitianos vieram para ficar e que, atualmente, estão sendo empregados por áreas do mercado onde as condições de trabalho são “precarizadas”, como frigoríficos e construção civil.
Inquiridos pelo público sobre como esses imigrantes haitianos percebem as condições precarizadas dos trabalhos em que são empregados, Monsma lembrou que o Haiti é historicamente marcado pela não aceitação do trabalho explorador. Além disso, Oliveira contou que os imigrantes haitianos tomam maior contato com a realidade brasileira através da legislação trabalhista, inquirindo sobre direitos e descontos na folha de pagamento aos seus professores de português.