Os atravessamentos raciais do mercado de trabalho

Fotografia: Pexels

A busca por um emprego nem sempre é uma tarefa fácil. Para aqueles que já estão empregados, a valorização e as promoções de níveis de cargos também não são alcançadas facilmente. Quando olhamos para a questão racial, então, mulheres e homens negros são os mais prejudicados em ambas situações. E como mais essa barreira social é sentida pela população negra? É a pergunta que levou o Humanista a buscar histórias e também alternativas para superá-la.

Segundo dados de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 56% dos brasileiros se declara preta ou parda. Apesar da maior parte da população do país ser negra, portanto, essa maioria não se reflete no mercado de trabalho. A pesquisa sobre Percepções do Racismo no Brasil, realizada neste ano pelo instituto IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), mostrou que seis em cada 10 pessoas (60%) consideram o Brasil um país racista. 

Nesse contexto, é no mercado de trabalho que as desigualdades são facilmente percebidas. Em 1981, a sambista Dona Yvone Lara cantava os trechos: “Negro sem emprego. Fica sem sossego. Negro é a raiz da liberdade”. A canção, de nome Sorriso Negro, remete ao sentimento de angústia que a população negra era submetida ao ficar desamparada e sem emprego, algo que ainda é visto nos dias de hoje.

Números

No primeiro semestre de 2023, a taxa de desocupação para pessoas que se autodeclaram pretas foi de 11,3%. Para aqueles que se autodeclaram pardos, a taxa ficou em 10,1%. Já para aqueles que se autodeclaram como brancos, a taxa ficou em 6,8%.

Para aqueles que estão inseridos no mercado de trabalho, segundo dados de 2021 do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), as diferenças se apresentam no rendimento médio e na ocupação de cargos de lideranças. Ao analisarmos os dados de rendimento médio da pesquisa, há um cenário adverso para os grupos negros.

As mulheres negras recebem, em média, R$1.617, enquanto as mulheres não negras recebem em média R$2.674. A média salarial para os homens negros fica em torno de R$1.968, já para os homens não negros o valor fica em torno de R$3.471.


A busca por um emprego nem sempre é uma tarefa fácil. Para aqueles que já estão empregados, a valorização e as promoções de níveis de cargos também não são alcançadas facilmente. Quando olhamos para a questão racial, então, mulheres e homens negros são os mais prejudicados em ambas situações. E como mais essa barreira social é sentida pela população negra? É a pergunta que levou o Humanista a buscar histórias e também alternativas para superá-la.

Segundo dados de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 56% dos brasileiros se declara preta ou parda. Apesar da maior parte da população do país ser negra, portanto, essa maioria não se reflete no mercado de trabalho. A pesquisa sobre Percepções do Racismo no Brasil, realizada neste ano pelo instituto IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), mostrou que seis em cada 10 pessoas (60%) consideram o Brasil um país racista. 

Nesse contexto, é no mercado de trabalho que as desigualdades são facilmente percebidas. Em 1981, a sambista Dona Yvone Lara cantava os trechos: “Negro sem emprego. Fica sem sossego. Negro é a raiz da liberdade”. A canção, de nome Sorriso Negro, remete ao sentimento de angústia que a população negra era submetida ao ficar desamparada e sem emprego, algo que ainda é visto nos dias de hoje.

Números

No primeiro semestre de 2023, a taxa de desocupação para pessoas que se autodeclaram pretas foi de 11,3%. Para aqueles que se autodeclaram pardos, a taxa ficou em 10,1%. Já para aqueles que se autodeclaram como brancos, a taxa ficou em 6,8%.

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Desemprego por Raça
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Para aqueles que estão inseridos no mercado de trabalho, segundo dados de 2021 do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), as diferenças se apresentam no rendimento médio e na ocupação de cargos de lideranças. Ao analisarmos os dados de rendimento médio da pesquisa, há um cenário adverso para os grupos negros.

As mulheres negras recebem, em média, R$1.617, enquanto as mulheres não negras recebem em média R$2.674. A média salarial para os homens negros fica em torno de R$1.968, já para os homens não negros o valor fica em torno de R$3.471.

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Rendimento médio
Infogram

Os baixos salários condicionam pessoas negras a buscarem diferentes formas de obterem uma renda maior. Bruno Diego de Oliveira, de 24 anos, natural de Porto Alegre, conta que está no mercado de trabalho desde os seus 13 anos de idade. Durante esses 11 anos conciliando diversos trabalhos e estudos, Bruno, que atualmente está na área de planejamento, sempre foi atrás de aprender coisas novas e desenvolver habilidades.

“Em 2020, quando eu estava sem emprego, peguei um trabalho que era fazer uma logo para uma empresa local, mas não fazia ideia de como fazer. Aproveitei o período pandêmico e fiquei trancado no meu quarto até aprender e realizar a entrega”, conta Bruno.

Apesar dos diferentes cenários, encarar uma proposta desafiadora e entregar de forma excepcional o solicitado faz parte da rotina do estudante de Publicidade e Propaganda. 

Ascensão social 

Luana Daltro, consultora de diversidade racial e criadora de conteúdo, percebe que atualmente o mercado vive dois cenários: o de empresas atuantes em prol da diversidade racial e o de empresas que não estão atentas ao olhar da diversidade e, principalmente, buscando por pessoas negras para ocupar essas posições. Por consequência, há um mercado muito complexo e hostil para esse grupo.


A busca por um emprego nem sempre é uma tarefa fácil. Para aqueles que já estão empregados, a valorização e as promoções de níveis de cargos também não são alcançadas facilmente. Quando olhamos para a questão racial, então, mulheres e homens negros são os mais prejudicados em ambas situações. E como mais essa barreira social é sentida pela população negra? É a pergunta que levou o Humanista a buscar histórias e também alternativas para superá-la.

Segundo dados de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 56% dos brasileiros se declara preta ou parda. Apesar da maior parte da população do país ser negra, portanto, essa maioria não se reflete no mercado de trabalho. A pesquisa sobre Percepções do Racismo no Brasil, realizada neste ano pelo instituto IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), mostrou que seis em cada 10 pessoas (60%) consideram o Brasil um país racista. 

Nesse contexto, é no mercado de trabalho que as desigualdades são facilmente percebidas. Em 1981, a sambista Dona Yvone Lara cantava os trechos: “Negro sem emprego. Fica sem sossego. Negro é a raiz da liberdade”. A canção, de nome Sorriso Negro, remete ao sentimento de angústia que a população negra era submetida ao ficar desamparada e sem emprego, algo que ainda é visto nos dias de hoje.

Números

No primeiro semestre de 2023, a taxa de desocupação para pessoas que se autodeclaram pretas foi de 11,3%. Para aqueles que se autodeclaram pardos, a taxa ficou em 10,1%. Já para aqueles que se autodeclaram como brancos, a taxa ficou em 6,8%.

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Desemprego por Raça
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Para aqueles que estão inseridos no mercado de trabalho, segundo dados de 2021 do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), as diferenças se apresentam no rendimento médio e na ocupação de cargos de lideranças. Ao analisarmos os dados de rendimento médio da pesquisa, há um cenário adverso para os grupos negros.

As mulheres negras recebem, em média, R$1.617, enquanto as mulheres não negras recebem em média R$2.674. A média salarial para os homens negros fica em torno de R$1.968, já para os homens não negros o valor fica em torno de R$3.471.

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Rendimento médio
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Os baixos salários condicionam pessoas negras a buscarem diferentes formas de obterem uma renda maior. Bruno Diego de Oliveira, de 24 anos, natural de Porto Alegre, conta que está no mercado de trabalho desde os seus 13 anos de idade. Durante esses 11 anos conciliando diversos trabalhos e estudos, Bruno, que atualmente está na área de planejamento, sempre foi atrás de aprender coisas novas e desenvolver habilidades.

“Em 2020, quando eu estava sem emprego, peguei um trabalho que era fazer uma logo para uma empresa local, mas não fazia ideia de como fazer. Aproveitei o período pandêmico e fiquei trancado no meu quarto até aprender e realizar a entrega”, conta Bruno.

Apesar dos diferentes cenários, encarar uma proposta desafiadora e entregar de forma excepcional o solicitado faz parte da rotina do estudante de Publicidade e Propaganda. 


Ascensão social 

Luana Daltro, consultora de diversidade racial e criadora de conteúdo, percebe que atualmente o mercado vive dois cenários: o de empresas atuantes em prol da diversidade racial e o de empresas que não estão atentas ao olhar da diversidade e, principalmente, buscando por pessoas negras para ocupar essas posições. Por consequência, há um mercado muito complexo e hostil para esse grupo.

“É quase como se tu estivesse sempre tendo que lutar para demonstrar o teu espaço, que tu tens capacidade para estar dentro daquela função específica a qual tu estás lidando”.– Luana Daltro

Dentro desse contexto, é possível identificar as razões pelas quais pessoas negras ainda enfrentam abismos para furar a bolha do corporativismo contemporâneo e sentar em cadeiras relevantes dentro de empresas renomadas. Para corpos pretos que almejam melhores condições de empregabilidade, atualmente, é preciso de certo modo driblar as adversidades e ‘hackear’ a lógica do sistema. Luana pontua que para posições de liderança e cargos mais complexos, o percentual é ainda menor. “É um cenário ainda mais agravante porque nós vemos menos de 5% da população brasileira [negra], hoje, ocupando cargos de liderança.”

A pesquisa da DIEESE de 2021, mostra que apenas 1,9% das mulheres negras estão ocupando cargos de direção, enquanto a mesma taxa para mulheres não negras, é de 5%. Quando olhamos para os homens negros, 2,2% ocupam cargos de direção, contra 6,4% de homens não negros. 

A consultora de diversidade alerta sobre a importância de as pessoas brancas também fazerem parte desse movimento de conscientização, afinal, os cargos de decisão e de tomada de poder, geralmente, são ocupados por este grupo. Mas mais do que isso, é necessário que para além do entendimento de que pessoas negras são uma lacuna do mercado de trabalho no Brasil, que as empresas concretizem o objetivo de empregar apoiadas no princípio da diversidade racial e de políticas internas de fomento a posições de relevância. Em razão dos vieses, objetivos e modos de contratações para cargos de maior complexidade serem totalmente diferentes.

O processo de contratar pessoas negras deve atentar-se à jornada e trajetória desse grupo dentro das corporações. É preciso que exista um cuidado e que sejam traçadas estratégias para acolher, reter e capacitar esses profissionais.

O acolhimento é tido como primordial nesse processo, porque é através dele que o funcionário terá  a chance de enfrentar as dificuldades próprias do seu recorte sem a necessidade de evadir. Luana alerta: “é desafiador para uma pessoa negra ser três, quatro, cinco vezes melhor em todas as atividades para ela ser respeitada. Então, como a gente também dá ferramentas para que ela consiga ter um pouco mais de repertório para saber lidar com essas questões?”

Bruno traz em sua fala que um dos anseios em aprender além do esperado e entregar sempre o seu melhor, ainda que isso signifique a própria exaustão, também tange a vontade de ascender socialmente. “Eu sei que tudo isso – morar onde eu moro atualmente, vestir o que eu gosto e estar centralizado nas atividades que me interessam – custa o preço do meu esforço.”

Isso também está presente na fala da consultora de diversidade e criadora de conteúdo, que nasceu e criou-se na periferia de Porto Alegre. Luana foi a primeira familiar por parte de pai a formar-se em uma universidade – em um núcleo familiar em que o avô era caminhoneiro e a avó copeira.

Egressa do curso de Relações Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ela mora hoje em São Paulo e conta sobre o sentimento de ser constantemente atravessada por suas origens. “Essa ascensão social não é fácil, emocionalmente falando.” Ela reitera: “entram muitos questionamentos quando olho para a trajetória dos meus avós, dos meus pais, dos meus tios, em que as pessoas tiveram muita dificuldade para atingir o mínimo.”

O acesso a atividades visivelmente melhores para uma qualidade de vida mais robusta e não somente de subsistência, ainda é parte do processo de aceitação e pertencimento de pessoas negras que ascendem socialmente. Ocupar o lugar como o único negro a ter ascendido ou ter furado a bolha condicionada para pessoas negras na pirâmide social, impõe um senso de dúvida, de questionamento.

Saúde mental

Diante das situações vividas por pessoas negras nos ambientes corporativos, a psicóloga Fernanda Landim, de Venâncio Aires, pontua a necessidade de um olhar amplo. “Um olhar sociorracial que entenda as condições da população negra diante o mercado de trabalho”, destaca. Com a conciliação dos horários de trabalho e da faculdade, muitos jovens estudantes acabam por enfrentar um esgotamento profissional. Para Bruno tem sido assim: “uma exaustão mental gigantesca, estou sempre muito cansado, passo o dia todo no escritório e quando não estou no escritório, estou na faculdade”, compartilha.

Brenda da Rosa, estudante de Jornalismo e social media, sente a cobrança por se reinventar. “Eu tenho que continuar aprendendo para me destacar, mas eu também tenho que mostrar resultado. Eu sei que se eu não mostrar resultado, eu rapidamente saio desse espaço que eu conquistei”, reflete.

Chegar a um meio termo não é uma tarefa fácil, enquanto o mercado cobra por resultados, ele também quer um colaborador disposto. Diante de críticas construtivas e feedbacks – momento de avaliação do colaborador -, o estudante Bruno reflete sobre o desafio de proteger o entusiasmo: “Continuar querendo crescer, continuar para cima, receber um feedback negativo e se manter feliz é desafiador”, conta.

A psicóloga Fernanda fala sobre a importância do cuidado com o desgaste mental e emocional, pois ele pode acarretar no sofrimento e em transtornos para o colaborador. “É o dilema entre saúde mental e a necessidade do emprego. Uma das possibilidades é buscar suporte no coletivo, no grupo entre os demais colaboradores ou de maneira externa”, pontua. 

E com essa ideia de coletivo que em 2018 foi fundado o Grupo de Profissionais Negros na Indústria Criativa (GPNIC) do Rio Grande do Sul. Felipe Rocha, fundador do grupo, compartilha que a intenção por trás da criação está em conectar os profissionais negros com o mercado criativo, além de trazer visibilidade, presença e representatividade nesses espaços.

Avanços, ainda que em passos pequenos, são perceptíveis. Com a entrada dessas pessoas em vagas e empresas antes vistas como inalcançáveis, cobranças por tratamentos dignos e oportunidades de crescimento igualitárias são  levantadas. Mas o que se pede é o mínimo – empresas que tenham um olhar humano e antirracista para o papel desempenhado pelas pessoas negras no mercado de trabalho.

Assim, o cenário de valorização dos profissionais negros e a ascensão social não será mais limitada aos casos de exceção à regra.

Fonte: Humanista
Texto: Melany Pereira e Paulo Henrique Chalmes
Data original da publicação: 24/08/2023

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