Nas autoproclamadas repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, há cerca de dez mil encarcerados em campos de prisioneiros, segundo informações divulgadas pela rádio alemã Deutschlandfunk na quinta-feira (13/07).
Os prisioneiros seriam forçados a executar trabalhos pesados e usados como mão de obra barata. Em sua pesquisa, a estação de rádio alemã se baseia em informações de uma organização de direitos humanos no leste ucraniano, coordenada pelo ativista Pawel Lisjanskij.
Ele realizou 74 entrevistas com detentos, familiares e testemunhas, que relataram violações maciças dos direitos humanos na região, controlada por separatistas pró-Rússia desde 2014.
“Gulags aprovados por Moscou”
O ativista Lisjanskij acusou o novo regime na região ocupada de Donbass de operar uma rede de campos de trabalho forçado e falou de gulags aprovados por Moscou.
“Temos de lidar com estados escravistas no meio da Europa”, queixou-se Lisjanskij a uma repórter da Deutschlandfunk. Ela teve a oportunidade de entrevistar um prisioneiro por telefone. Nesta conversa, um detento de 37 anos relatou vários meses de confinamento solitário, no qual os prisioneiros são coagidos a trabalhos forçados.
Assim como o entrevistado, muitos prisioneiros teriam cumprido suas sentenças ou foram perdoados pelo governo ucraniano. No entanto, eles ainda estão sendo mantidos prisioneiros, pois, segundo o relato, o poder jurídico de Kiev não chega mais aos territórios ocupados da Ucrânia.
A ocupação militar do leste da Ucrânia foi crucial para os detentos dessas prisões. Um número desproporcionalmente alto de prisões, nas quais os condenados geralmente cumprem suas penas e que agora são campos de trabalho, estão localizados no leste do país e, portanto, agora sob controle dos separatistas, apontam os relatos.
Receitas milionárias
O lucro gerado pelo trabalho não remunerado de prisioneiros é embolsado pelas repúblicas separatistas. As receitas obtidas somente pelo regime de Lugansk são estimadas entre 300 mil e 500 mil euros por mês, segundo a organização de direitos humanos do leste ucraniano.
Mais de 100 pessoas afetadas já teriam entrado em contato com a organização e pedido ajuda. A perspectiva de encontrar uma solução abrangente é baixa, porque até mesmo políticos do alto escalão em Kiev supostamente não sabiam sobre o trabalho forçado, com o qual os territórios ocupados se financiam.
O ativista Lisjanskij disse sentir falta de um compromisso do governo de Kiev com os prisioneiros esquecidos. Eles eram criminosos comuns, que não têm lobby, diferentemente do que ocorre com prisioneiros de guerra. A rádio Deutschlandfunk buscou uma declaração dos regimes dos autodeclarados governos de Lugansk e Donetsk sobre as alegações, mas não obteve respostas.
Fracasso da comunidade internacional
O embaixador da Ucrânia na Alemanha, Andrij Melnyk, reagiu à reportagem da Deutschlandfunk e disse que há três anos seu país não tem acesso às zonas de conflito e, consequentemente, aos complexos prisionais. A existência desses campos de trabalho forçado lembra os horrores da Segunda Guerra, quando mais de dois milhões de ucranianos do leste foram explorados.
A organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) classificou a situação como um fracasso da comunidade internacional. Os países com influência sobre a Rússia teriam que “impor uma posição muito mais forte”, disse o diretor do escritório alemão da HRW, Wenzel Michalski, também à emissora Deutschlandfunk.
Alemanha e França negociam com a Rússia e a Ucrânia sobre a resolução do conflito. Em alusão às negociações de paz de Minsk, Michalski criticou o fato de as conversações “raramente abordarem os direitos humanos” e de as discussões terem sempre o foco geopolítico. Ele acusou Moscou de apoiar os rebeldes no leste ucraniano em suas violações de direitos humanos.
Fonte: Deutsche Welle
Data original da publicação: 13/07/2017