O presidente Barack Obama pediu na terça-feira (08/07) 3,7 bilhões de dólares (8,2 bilhões de reais) ao Congresso dos Estados Unidos para lidar com a chegada de dezenas de milhares de menores imigrantes procedentes da América Central. O dinheiro deve servir para reforçar a presença de juízes e agentes nas regiões fronteiriças, aumentar a vigilância aérea com drones – aviões não tripulados –, construir centros de detenção para imigrantes ilegais e incrementar a cooperação com seus países de origem.
O objetivo é acelerar a deportação dos menores desacompanhados que entraram fugindo, em muitos casos, da violência em seus países e atraídos por rumores, alentados pelas máfias que os transportam, de que poderão permanecer nos EUA sem problemas.
A Casa Branca define a onda de menores imigrantes como uma crise humanitária. Ela coincide com o bloqueio, no Congresso Nacional, da lei de imigração que abriria o caminho para a regularização e, em última instância, a cidadania de cerca de onze milhões de imigrantes ilegais que vivem no país.
O Partido Republicano, majoritário na Câmara dos Representantes, anunciou que a lei não será votada este ano. Diante do bloqueio da lei, o democrata Obama quer encontrar uma alternativa para reformar o sistema por meio de decretos-lei.
O pedido de financiamento ao Congresso pode enfrentar resistências à esquerda e à direita.
“O problema não é a crise humanitária. O problema é um sistema de imigração defeituoso”, diz por telefone o democrata Joe Garcia, deputado pelo sul da Flórida. “Mandar os juízes para a fronteira para processar ou deportar crianças não deveria ser a prioridade. A prioridade deveria ser reparar um sistema de imigração defeituoso. E continuamos colocando um pedaço de esparadrapo para segurar a barragem que está caindo. Não faz sentido. ”
Nesta quarta e quinta-feira, o presidente estará no estado do Texas, cuja fronteira com o México é o ponto de chegada de boa parte dos imigrantes ilegais. Sua agenda não inclui uma visita à fronteira.
A proposta de Obama não inclui uma revisão de uma lei de 2008 adotada nas últimas semanas do Governo Bush que impede a deportação automática se os menores não forem cidadãos de países que fazem fronteira com os Estados Unidos. Isso significa que mais de 52.000 menores registrados pelas autoridades norte-americanas desde outubro do ano passado serão submetidos a um processo que pode durar meses ou anos e que provavelmente não levarão à expulsão. Durante esse período, e enquanto esperam a solução de seu status, as crianças podem ficar com suas famílias, se estas residirem nos EUA, ou em casas de famílias hospedeiras, e levar uma vida mais ou menos normal no país.
Como a lei não permite a expulsão imediata, a Casa Branca propõe “reduzir significativamente” a duração do processo de deportação dos menores que não se enquadram no status de refugiado.
“Muitas dessas crianças são vítimas de duas opções ruins. Serem submetidas a grupos criminosos internacionais ou empreender uma viagem arriscada para encontrar seus pais nos Estados Unidos e ficar com eles”, diz o deputado Garcia. “Olhando para essas duas opções entendo como muitos pais optam por uma ilegalidade em vez de outra”.
“Primeiro seria necessário proteger a fronteira e garantir que não continuem chegando”, propõe. “Mas já que estão aqui, acho que faz todo o sentido do mundo uma criança ficar com seus pais. Se tivéssemos um sistema migratório que funcionasse, é ali que estariam”.
Fonte: El País
Texto: Marc Bassets
Data original da publicação: 08/07/2014