Os sindicatos estão investindo grandes recursos na organização de movimentos mais propensos a produzir novas leis do que angariar novos membros.
Harold Meyerson
Fonte: The American Prospect, com Los Angeles Times
Tradução: Walter Pichler
Revisão: Nathaniel Figueiredo
Data original da publicação: 15/01/2015
Este artigo foi publicado originalmente em 07 de dezembro de 2014, no Los Angeles Times. The American Prospect o republicou como parte da conferência “O Trabalho Americano em uma Encruzilhada: Novo Pensamento, Nova Organização, Novas Estratégias”, apresentada em 15 de janeiro, copatrocinada pelo Instituto Albert Shanker, Fundação Sidney Hillman e The American Prospect.
Hesitantemente, e com compreensível ambivalência, o movimento sindical americano está se transformando em algo novo. Suas campanhas mais proeminentes dos últimos anos – dos trabalhadores de fast-food, das empregadas domésticas, dos taxistas e dos funcionários do Wal-Mart – induziram cidades e estados a elevar o salário mínimo e criar regulamentações mais favoráveis aos trabalhadores. Mas o que essas campanhas não têm conseguido é atrair mais do que um pequeno número de novos membros. Nem mesmo para o futuro próximo os sindicatos anteveem a possibilidade de ampliar o número de associados pagantes.
Impedidos de sindicalizar em muitos locais de trabalho devido à oposição feroz de administradores e por leis que não protegem ativistas sindicais de serem demitidos, os sindicatos começaram a se concentrar em aumentar salários e benefícios para muito mais trabalhadores do que eles poderiam esperar reivindicar como seus. Em certo sentido, isso não é novidade: sindicatos historicamente apoiaram o salário mínimo e leis de segurança no trabalho que beneficiaram todos os trabalhadores e não apenas os seus membros. Mas eles também começaram recentemente a investir grandes recursos na organização de movimentos com maior probabilidade de produzir novas leis do que recrutar novos membros. Algumas dessas campanhas buscam organizar os trabalhadores que, com ou sem razão, sequer são considerados como empregados ou para os quais falta um empregador comum, como os trabalhadores domésticos e os motoristas de táxi.
A decisão do governo de Seattle para elevar o salário mínimo da cidade a US$ 15 por hora resultou desse tipo de campanha. Inicialmente, a campanha dos trabalhadores de fast-food da cidade, apoiada pelo Service Employees International Union (Sindicato Internacional de Empregados de Serviços), buscava somente sindicalizar os quatro mil trabalhadores do serviço de alimentação do aeroporto Sea-Tac (Seattle–Tacoma International Airport). Quando os empregadores do aeroporto recusaram-se a negociar, o SEIU colocou uma medida para votação popular em SeaTac, o pequeno subúrbio de Seattle onde se localiza o aeroporto, propondo elevar o salário mínimo do Sea-Tac a US$ 15 por hora. O SEIU esperava que, quando confrontado com tal iniciativa, o aeroporto começaria a negociação em troca da retirada da votação popular. Isso não aconteceu. Em vez disso, os eleitores de SeaTac aprovaram a medida e a questão dos trabalhadores de baixos salários dominou de tal forma a mídia local que, no ano seguinte, a cidade de Seattle aumentou o seu mínimo para US$ 15, elevando a renda de cem mil trabalhadores. Atualmente, nos Estados Unidos, está se tornando mais fácil obter uma legislação aumentando os salários de cem mil trabalhadores do que sindicalizar quatro mil.
Os aumentos salariais são apenas algumas das vantagens que os sindicatos estão ganhando no processo legislativo e eleitoral. O Taxi Workers Alliance (Aliança dos Trabalhadores de Taxi) obteve regulamentações mais favoráveis das comissões municipais de táxi, embora menos de um quarto dos seus membros paguem mensalidade para a entidade. A National Domestic Workers Alliance (Aliança Nacional dos Trabalhadores Domésticos) obteve ganhos em quatro estados, inclusive na Califórnia, conferindo aos trabalhadores domésticos o direito de receber pagamento pelas horas extras trabalhadas; no entanto, nenhum dos seus membros paga mensalidade (a organização é financiada majoritariamente por uma fundação). Em San Francisco, os trabalhadores do varejo, cuja grande maioria não é sindicalizada, levaram a cidade a adotar uma portaria exigindo que os empregadores varejistas regularizem o trabalho de meio período.
Los Angeles pode se tornar o lugar onde esse novo modelo de sindicalismo receberá sua expressão mais ampla. Caso o Conselho Municipal estabeleça um salário mínimo maior do que o do estado, mais de meio milhão de trabalhadores locais verão a sua renda aumentar. Alguns dos conselhos municipais dos 80 condados, assim como os de outras cidades, sem dúvida seguirão esse padrão, mas muitos não. Nesse ponto, o movimento de trabalhadores de Los Angeles – o mais experiente em estratégia no país – poderia colocar na agenda das eleições presidenciais de 2016 o aumento do mínimo municipal em dezenas de cidades do condado de Los Angeles e construir uma organização de milhares de trabalhadores não sindicalizados em campanha por essa medida. Essa organização poderia constituir o núcleo de um sindicato de trabalhadores de baixos salários – tendo eles ou não sindicatos organizados em seus locais de trabalho ou havendo ou não contratos com seus patrões –, o que essa cidade, capital do “trabalho com salário de pobreza”, claramente necessita.
Esse tipo de organização é possível? É sustentável? Se for, Los Angeles é o lugar onde é mais provável que ela crie raiz.
Harold Meyerson é editor-geral do The American Prospect e colunista do The Washington Post.