“A grande ideia de Capital in the Twenty-Frist Century é não só a de que retornamos ao Século XIX em termos de desigualdade de renda, como a de que estamos no caminho de volta ao ‘capitalismo patrimonial’, no qual os grandes píncaros da economia são ocupados não por indivíduos talentosos, mas por dinastias familiares”, disse o economista Paul Krugmann, em artigo publicado na edição deste sábado do diário norte-americano The New York Times.
Em quase 700 páginas, o Capital no Século XXI pode não atrair a curiosidade de muita gente, mas o economista francês Thomas Piketty alcançou, nesta semana, o primeiro lugar na lista dos livros mais vendidos da livraria Amazon, superando títulos como Frozen e Game of Thrones. Logo após o lançamento da edição em inglês, no mês passado, o livro já aparecia entre os 100 mais vendidos da loja eletrônica. Elogiado por críticos e economistas, Piketty, de 42 anos, é professor na Escola de Economia de Paris e seu livro trata da história e do futuro da desigualdade, a concentração de riqueza e as perspectivas de crescimento econômico no mundo de hoje.
A tese central do livro – cujo título é uma alusão a O Capital, de Karl Marx – é que a desigualdade não é um acidente, mas uma característica do capitalismo e os excessos somente poderão ser alterados por meio da intervenção estatal. O trabalho argumenta que, a não ser que o capitalismo seja reformado, a ordem democrática mundial será ameaçada. O autor considera que o mundo está voltando a um “capitalismo patrimonial”, no qual boa parte da economia é dominada por uma riqueza herdada, que está crescendo, criando uma oligarquia.
Como solução para uma desigualdade extrema, Piketty propõe uma taxação anual em todo globo sobre riqueza de até 2%, combinada com um imposto de renda progressivo que chega a 80%. Segundo o economista, o crescimento econômico moderno e a difusão do conhecimento permitiu evitar desigualdades em escala apocalíptica como previsto por Marx. O francês alerta, no entanto, que as estruturas profundas do capital não foram modificadas e a desigualdade não foi tão combatida como se imaginava nas otimistas décadas pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
O principal fator de desigualdade – a tendência de os lucros sobre o capital excederem a taxa de crescimento econômico – hoje ameaça gerar um abismo tão extremo que será capaz de gerar descontentamento e minar os valores democráticos. Para o economista, a ação política restringiu desigualdades perigosas no passado e pode fazê-lo novamente.
Nova agenda
“Respostas satisfatórias têm sido difíceis de serem encontradas por falta de informação adequada e de teorias claras”, afirma a apresentação do livro. Dados, reunidos ao longo de 15 anos, levam o autor à análises fiscais desde o século XVIII, sobre 20 países, entre eles Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido e Japão, como forma de desvendar os principais padrões econômicos e sociais. “Suas descobertas vão transformar o debate e estabelecer a agenda para a próxima geração de pensamento sobre riqueza e desigualdade”, afirma a apresentação.
Em suas 685 páginas, a obra tem merecido elogias dos mais diversos setores acadêmicos. “A principal razão é porque ele prova agora, de forma irrefutável e clara, o que todos nós, de alguma forma, já suspeitávamos: os ricos estão ficando mais ricos em comparação com os demais e sua riqueza não está indo para baixo, na verdade está indo para cima”, escreveu Rana Foroohar, da revista de extrema direita Time.
Ao mesmo tempo, o economista vencedor Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, escreveu no New York Times que o trabalho de Picketty é o mais importante do ano em economia e talvez também seja o melhor da década. “Piketty, sem dúvida o maior especialista do mundo em renda e desigualdade de renda, faz mais do que documentar a crescente concentração nas mãos de uma pequena elite econômica. Ele também apresenta um argumento poderoso de que estamos no caminho de volta ao ‘capitalismo patrimonial’, no qual os altos comandos da economia não são dominados apenas pela riqueza, mas também pela riqueza herdada, na qual nascimento importa mais do que esforço e talento”, escreveu o professor norte-americano.
Fonte: Correio do Brasil
Data original da publicação: 27/04/2014