Um levantamento do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da Fundação Getúlio Vargas apontou que a desigualdade de renda dos trabalhadores brasileiros é a maior desde 2012.
Os números são relativos ao primeiro trimestre de 2019 e foram calculados pelo Ibre com base em dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), realizada pelo IBGE desde 2012. Isso significa portanto que a desigualdade é a maior da série histórica.
O que a pesquisa mostra
Os dados
Os números foram colhidos das perguntas sobre rendimento do trabalho na Pnad Contínua. É com base na declaração dos entrevistados de cerca de 211 mil domicílios em todo o país que a Pnad lista os rendimentos médios.
Quintis e decis
Listados os rendimentos declarados, eles são ordenados do maior para o menor e divididos em partes iguais. Quando a amostra é dividida em cinco, cada parte dessas é um quintil. Quando se divide em 10, o nome é decil. O primeiro decil representa os 10% mais pobres e o último os que têm maior renda. Em quintis, a divisão vai de 20% em 20%.
O índice de GINI
A aferição da desigualdade de renda, nesse caso, é feita pelo índice de Gini. O índice é um coeficiente matemático criado para medir concentração, não só de renda, e varia de 0 a 1, que são as situações matematicamente extremas. O número 0 corresponde à igualdade total e o número 1 corresponde à desigualdade completa, com apenas uma pessoa recebendo toda a renda e as demais não recebendo nada.
Os resultados do levantamento
Os números apresentados pelo pesquisador Daniel Duque mostram uma clara tendência de aumento de desigualdade nos últimos anos. O resultado do primeiro trimestre de 2017 é o maior desde 2012 quando se considera a renda familiar vinda do trabalho e também quando se considera a renda individual dos trabalhadores.
O gráfico abaixo apresenta a média móvel. Nela, se leva em conta o resultado do trimestre e dos três anteriores. Por considerar sempre quatro trimestres consecutivos (havendo sempre resultados de todas as épocas do ano), a média móvel atenua os efeitos sazonais comuns no mercado de trabalho. Historicamente os números da PNAD mostram aumento no desemprego, que afeta a renda, no início do ano e uma tendência à redução nos trimestres seguintes.
Aumento da concentração
A média móvel mostra que a concentração teve queda até meados de 2014, quando o Brasil entrou oficialmente na recessão que durou mais de três anos e ainda tem efeitos sobre a economia e o mercado de trabalho.
O efeito sobre a desigualdade começa a aparecer a partir do fim de 2014, momento em que o desemprego passa a aumentar. Desde o terceiro trimestre de 2014, houve aumento da desigualdade, medida pela média móvel, em 18 dos 19 trimestres. Desde o terceiro trimestre de 2015 são 14 elevações consecutivas.
Outros recortes do levantamento
O pesquisador Daniel Duque, responsável pelo levantamento, monitorou ainda a distância entre a renda dos 10% mais ricos e dos 40% mais pobres. A constatação é de que, por essa métrica, a desigualdade aumenta ininterruptamente há 17 trimestres. Ou seja, desde 2015.
Os dados mostram também que essas duas fatias da população viveram realidades bastante diferentes durante os últimos anos e sentiram os efeitos da crise de maneiras distintas. Até a crise, que começa oficialmente no primeiro trimestre de 2014, a renda dos 40% mais pobres crescia proporcionalmente mais que a dos 10% mais ricos. Mas depois da crise a situação se inverteu.
Desde o início da crise, os primeiros quatro decis de renda, os 40% mais pobres, perderam 22% de rendimento. Enquanto isso, os 10% mais ricos aumentaram o seu em 3,3%.
Impactos distintos
Influências no aumento da desigualdade
O aumento da desigualdade de rendimentos coincide com o período em que a situação do mercado de trabalho se deteriorou por conta da crise. O economista Daniel Duque, responsável pelo monitoramento, vê relação direta entre a piora das condições de trabalho e o aumento da distância entre o que recebem ricos e pobres.
“Há menos empresas contratando e demandando trabalho, ao passo que há mais pessoas procurando. Essa dinâmica reforça a posição social relativa de cada um. Quem tem mais experiência e anos de escolaridade acaba se saindo melhor do que quem não tem”
Daniel Duque, economista e pesquisador do Ibre/FGV
O Brasil tinha no fim de março, segundo o IBGE, 13,4 milhões de pessoas desempregadas. O número conta apenas quem não tem trabalho e está em busca de um. Quando se soma os desempregados aos que trabalham menos do que gostariam e os que desistiram de procurar emprego, o número é bem maior.
A chamada taxa de subutilização atingiu 25% no fim do primeiro trimestre de 2019, o que significa que há 28,3 milhões de pessoas sem trabalho adequado no país. O que afeta diretamente os rendimentos.
Fonte: Nexo
Texto: José Roberto Castro
Data original da publicação: 22/05/2019