A Grande Recessão provocada pela crise financeira de 2008 atingiu em cheio o mercado de trabalho americano. Com a queda abrupta da atividade econômica, a taxa de desemprego praticamente dobrou na fase mais crítica, de 5% em 2007 para 9,9% ao fim de 2009 (está em 7,3% hoje). Ao todo, 8,2 milhões de pessoas foram demitidas, quatro milhões foram empurradas ao trabalho em meio expediente e 8,7 milhões de americanos caíram abaixo da linha de pobreza. Cinco anos depois, os 42 meses ininterruptos de criação de vagas não foram suficientes para compensar os cortes e fazer frente à nova geração que chega ao mercado. Nas contas do Brookings Institution, uma das mais respeitadas instituições de pesquisa do país, os EUA têm hoje um déficit de dez milhões de empregos.
– A recuperação do emprego é fraca, muito pelo ciclo vicioso de crescimento econômico baixo. Ainda temos setores imobiliário e de construção fracos, e eles são intensivos em emprego e foram grandes contratadores antes da crise. As exportações não estão colaborando. A indústria passa por transformação estrutural e há erros na política de emprego – diz o economista Robert Lerman, da American University.
Além disso, a crise acentuou um movimento dos últimos 20 anos que vem provocando perdas significativas aos trabalhadores médios, aqueles que tradicionalmente representam a mobilidade na sociedade americana. Trata-se da polarização das oportunidades de emprego. Na crise, os EUA geram vagas nos dois extremos do mercado: as redes de fastfood e serviços de limpeza e cuidados pessoais, de um lado; e as empresas de tecnologia e os profissionais liberais, do outro.
O emprego médio – vendas, administrativo e chão de fábrica, por exemplo – está desaparecendo. A tecnologia substitui cada vez mais trabalhadores por programas de computador e facilita a transferência de produção para locais no exterior onde o custo é mais baixo. Foram ceifados, entre 2007 e 2009, de 7% a 17% dos empregos médios. No campo de baixa qualificação, o nível de emprego ficou estável ou cresceu, até 5%. No topo da pirâmide profissional, as áreas gerenciais perderam 1% das vagas, mas nas técnicas houve ganho de 2%. Em outras palavras, 60% dos empregos perdidos na crise eram de nível médio. Desde então, eles representaram apenas 27% das vagas geradas, enquanto 58% foram de baixa qualificação.
Este quadro acentuou a desigualdade de renda nos EUA. Os ganhos no topo da pirâmide continuam crescendo muito acima da média. Salários começaram a crise, já em queda, representando 61% do PIB americano. Hoje, são 57%.
Fonte: O Globo
Texto: Flávia Barbosa
Data original da publicação: 11/09/2013