Nicarágua: Presidente recua perante onda de protestos

Neste domingo (22/04), o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, dirigiu-se de novo ao país para anunciar a revogação das medidas, que tinha anunciado na passada terça-feira e mantivera no seu discurso deste sábado. O presidente propôs de novo o diálogo com os empresários e o cardeal Leopoldo Brenes, para “aprovar uma resolução que assegure o fortalecimento da segurança social a longo prazo”.

Ortega recua, após cinco dias de manifestações e dura repressão policial, que provocou cerca de 30 mortos e mais de 60 feridos. O presidente e o seu governo esperam assim travar a revolta que se prolongava e ampliava.

População revolta-se contra as medidas de austeridade

O governo de Daniel Ortega tinha aprovado um conjunto de medidas, nomeadamente o aumento até 22,5% dos descontos para a segurança social, por parte de trabalhadores e de patrões, e um corte de 5% nas pensões de milhares de reformados. Segundo o governo, o objetivo era arrecadar 250 milhões de dólares e cobrir um défice de 75 milhões de dólares no Instituto Nicaraguense de Seguridade Social (INSS).

As medidas governamentais foram divulgadas na passada terça-feira, 17 de abril, pelo diário oficial La Gaceta e os protestos começaram logo no dia seguinte, quarta-feira, tendo sido duramente reprimidos pela polícia.

Segundo os últimos dados divulgados pelo El País, que cita o Centro Nicaraguense de Derechos Humanos (CENIDH), na sequência dos protestos já morreram 30 pessoas. Haverá mais de 60 pessoas feridas, 20 desaparecidos e dezenas de presos.

Um jornalista Ángel Eduardo Gahona foi morto a tiro na cidade de Bluefields, quando cobria os protestos e a repressão policial.

Em comunicado, o CENIDH condenou a repressão e as mortes e responsabilizou a política governamental de Daniel Ortega e Rosario Murillo (vice-presidente e esposa do presidente). O centro condenou também um aumento da repressão sobre os jornalistas, a morte do jornalista Ángel Gahona, a destruição da Radio Darío em León, que foi incendiada por supostos apoiantes do governo. O CENIDH denunciou ainda a repressão de “universitários e população em geral” e a falta de diálogo com “amplos setores sociais”, apelou ao governo para que “cesse a repressão” e exigiu que a Polícia Nacional se submeta à Constituição e ao “respeito absoluto” pelos direitos humanos.

No sábado, 21 de abril, Daniel Ortega apelou ao diálogo, que tinha sido proposto pelo presidente do Conselho Superior da Empresa Privada (COSEP), José Adán Aguerri, com o objetivo de reformar os aumentos decretados no sistema de segurança social. A conferência episcopal também exortou o governo a ouvir os protestos de jovens e de outros setores e a revogar as medidas que tomou face ao INSS.

Rosario Murillo, vice-presidente do país e esposa de Daniel Ortega, dissera na última sexta-feira (20/04) que o governo ia aceitar o diálogo com o COSEP, para evitar o “derramamento de sangue”. Após essa declaração a repressão aumentou, assim como o número de pessoas mortas e feridas.

Ortega queixou-se que os protestos são fomentados por políticos críticos do seu governo que, segundo ele, recebem financiamento de setores extremistas dos Estados Unidos. No entanto, as medidas que o governo da Nicarágua tinha tomado são medidas de austeridade, propostas e fomentadas pelos EUA e pelas instituições internacionais por eles controladas.

Após o discurso do presidente Ortega, neste sábado, centenas de jovens tinham-se manifestado em Manágua, capital do país, e responderam à pedrada e com barricadas à polícia antimotim, que usou gás lacrimogêneo.

Fonte: Esquerda.net
Data original da publicação: 22/04/2018

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