A Nestlé anunciou que planeja investir R$ 763 milhões nas operações no Brasil em 2020, mas se recusa a pagar todos os direitos trabalhistas. É por este motivo que trabalhadores em Vila Velha (ES) protestaram na terça-feira (22) em frente a uma das fábricas da multinacional desde às 6h. A manifestação seguiu até às 17h.
Com data-base em junho, a empresa suíça se nega a pagar a Participação nos Lucros e Resultados (PLR), acertada em acordo coletivo há cerca de 30 anos. Também propõe reduzir o vale-alimentação em 48,6%, de R$ 680 para R$ 350.
De acordo com a presidenta do Sindicato dos Trabalhadores em Alimentação do Espírito Santo (Sindialimentação-ES), Linda Morais, a empresa também buscou reduzir o piso salarial, mas recuou após pressão dos trabalhadores.
“Tivemos casos de trabalhadores infectados por covid-19, mas a produção não parou em nenhum momento. Não é justo a Nestlé neste momento querer cortar cerca de 50% do arroz e feijão dos trabalhadores, que é uma ajuda na alimentação que faz diferença, nem é justo a Nestlé não entregar a participação nos lucros. Por isso, vamos sim para o enfrentamento e se preciso for faremos greve para defender os direitos dos trabalhadores”, afirma Linda.
Situação similar à dos trabalhadores do Espírito Santos vivem os trabalhadores baianos. O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins do Estado da Bahia (Sindialimentação-BA) tem feito uma série de pressões junto à empresa para garantir direitos.
Com data-base em abril, a entidade sindical tem realizado igualmente protestos na porta da fábrica em Feira de Santana (BA), em setembro, mas até o momento não recebeu retorno com relação à campanha salarial e à manutenção de direitos.
“Esperamos que a maior empresa de alimentos do mundo, presente em 200 países, que tem o Brasil em quarto lugar no ranking mundial, valorize os trabalhadores e não cause maior precarização, redução de salário e extinção de benefícios conquistados ao longo dos últimos anos”, afirma o secretário de Organização do Sindialimentação Bahia, Eduardo Sodré, também diretor da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação da Central Única dos Trabalhadores (Contac-CUT).
De acordo com Sodré, a empresa igualmente se nega a pagar a PLR também acordada coletivamente há 30 anos. Na Bahia, a Nestlé propõe reduzir o ticket alimentação de R$ 675 para R$350 e o piso salarial de R$ 1.490 para R$ 1.250, situações ainda em discussão.
“Os trabalhadores têm garantido o aumento do lucro da empresa mesmo durante a pandemia de covid-19 e recebem como resposta o descaso. Sabemos também que houve um crescimento global de 18,3% no lucro líquido no primeiro semestre de 2020”, destaca o dirigente.
Sodré se refere ao crescimento informado pela empresa neste ano, com relação aos dados do primeiro semestre de 2020. A multinacional obteve lucro líquido de 18,9 bilhões de francos suíços, o que equivale a R$ 114,345 bilhões, uma alta de 18,3% com relação a 2019.
O Brasil de Fato entrou em contato com a Nestlé, que respondeu aos questionamentos da reportagem por meio de nota.
“A Nestlé e os sindicatos estão em processo de negociação de novo Acordo Coletivo 2020/21. A negociação para renovação do acordo acontece anualmente e, em função do cenário, está sendo realizada por meio de frequentes reuniões virtuais. As conversas estão sendo mantidas em um diálogo aberto entre representantes da Nestlé, colaboradores e entidades sindicais”, diz a nota enviada por e-mail pela assessoria de comunicação da Nestlé no Brasil. “A empresa informa, ainda, que não comenta conteúdo de negociações em curso”, finaliza o texto.
Fonte: Brasil de Fato
Texto: Vanessa Ramos
Data original da publicação: 22/09/2020