Mais da metade da população (50,1%) brasileira está conectada à rede mundial de computadores, segundo pesquisa de 2014 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar dos avanços, os desafios ainda são muitos e escapam à mera inclusão digital. Um desses desafios é a falta de representatividade do gênero na área.
As mulheres são minoria na indústria de tecnologia, mas seu trabalho colaborou para que tivéssemos computadores como conhecemos hoje. Alguns exemplos são Ada Lovelace e Grace Hopper, que foram fundamentais para o avanço dos softwares.
Para mudar a realidade e a hegemonia masculina no mundo da ciência e tecnologia, vários projetos veem já na inclusão digital um importante mecanismo para apresentar, engajar e aumentar o envolvimento das mulheres com a tecnologia.
Mas como uma mulher que se interesse pelo assunto pode começar? O principal ponto é mostrar que não é preciso ser técnico de computação ou entender muito de tecnologia para começar. É o que pensa Jean Lucas, um dos criadores da Academia Lovelace, um projeto que tem como objetivo não apenas ensinar programação para mulheres, mas também outras habilidades técnicas requeridas pelo mercado de trabalho.
As meninas podem até aprender no seu tempo livre. “Um exemplo disso é que muitos programadores destaques no mercado de trabalho nem são originalmente formados em Ciências da Computação. Outro importante incentivo é começar a aprender programação desde cedo, como nas escolas de ensino médio e fundamental. Há grupos, inclusive um deles foi campeão do Mulheres Tech Sampa, que focam nisso”, explica o idealizador.
A internet é uma dessas ferramentas para quem quer começar no mundo da programação. “Você pode frequentar hackerspaces e makerspaces, pode se informar na Internet”, diz Ana Paula Lima de outro projeto, o MariaLab Hackerspace, que realiza oficinas e eventos relacionados à tecnologia na cidade de São Paulo.
Para Ana Paula, as mulheres interagem com a tecnologia sem se darem conta do interesse pelo tema. Elas ainda são uma parcela na produção. Para a ativista, é comum vermos a associação de novas tecnologias à resolução de problemas.
“Se grande parte das pessoas que criam e desenvolvem tecnologia são homens, é natural que parte da inovação surja para melhorar problemas que eles tenham ou que tenham sido concebidos com visão masculina”, explica.
A programadora compara conhecidos aplicativos: “Vamos pegar dois exemplos conhecidos: o aplicativo ‘Vamos Juntas?’, concebido por uma mulher, e o ‘Tinder’, criado por um homem. Cada um vai ter uma opinião sobre essas ferramentas, mas a gente precisa questionar o que de fato elas buscam resolver e se, ao melhorar a vida de um grupo, ela dificulta a de outro”, exemplifica Ana Paula.
Um dos entraves para que as mulheres se interessem pela programação é o preconceito e o condicionamento cultural. Segundo Iana Chan, a fundadora do PrograMaria, o projeto surgiu da observação de que havia poucas mulheres nos cursos e nas carreiras de programação.
“Existe um problema de representatividade. Muita gente fala que as mulheres não se interessam ou não têm habilidade, mas acreditamos que isso se deve a essa narrativa cultural que de que mulher e tecnologia não combinam”, comenta.
Fonte: Brasil de Fato
Texto: Líria Jade
Data original da publicação: 04/01/2016