Resumo: | O atual processo de feminização quantitativa e qualitativa do mercado de trabalho é inegável. Entretanto, as mulheres vivem um tipo específico de inserção precarizada no espaço laboral, especialmente diante da recente reestruturação produtiva do capitalismo. Também persiste a existência de ocupações e atividades socialmente feminizadas ou masculinizadas, corroborando os princípios da divisão sexual do trabalho. Neste contexto, a presente pesquisa analisou o fenômeno de feminização do mercado de trabalho, mais especificamente em profissões e áreas do conhecimento historicamente masculinas, tendo como cenário empírico a Mineração. Foi realizado estudo de casos múltiplos em duas grandes empresas privadas (mina a céu aberto e subterrânea) e uma empresa pública, do setor mineral formal. As técnicas de investigação consistiram em observação, análise de documentos e 27 entrevistas com trabalhadoras e trabalhadores das organizações, analisadas qualitativamente. Os resultados apontaram para a reafirmação de que a precarização do trabalho das mulheres é diferenciada. Envolveu na Mineração principalmente a desvalorização velada, exigências técnicas e emocionais constantes, sabotagens, assédios, invisibilidade, entre outros mecanismos de expulsão individuais ou institucionais. Desse modo, a divisão sexual do trabalho é reproduzida e apropriada, em um setor fundamental ao funcionamento e desenvolvimento das sociedades capitalistas. Por outro lado, também possibilitou identificar a lenta ocorrência de desregramentos e ameaças às hierarquias e relações de dominação e opressão baseadas em gênero. Além disso, identificou-se que os principais obstáculos para a feminização da Mineração são atualmente mais simbólicos do que objetivos, advindos da reprodução de contraditórios discursos associados às masculinidades. Portanto, a feminização (ou não) ocorre a partir de uma série de fatores sociais, culturais, históricos, políticos e econômicos, nem sempre lógicos ou racionalmente subservientes apenas à lucratividade. Em relação às políticas sociais e empresariais, as medidas identificadas caracterizavam-se como ações afirmativas de inserção, mas não garantiram a permanência perene e bem-sucedida das mulheres em espaços tradicionalmente masculinizados. Os benefícios concedidos, assegurados ou não pela legislação, reafirmavam o lugar das mulheres como mães e únicas responsáveis pelos cuidados, priorizando necessidades práticas em detrimento de interesses estratégicos. Concluiu-se que compreender a feminização de espaços tradicionalmente masculinizados é importante para a compreensão dos desafios gerais colocados ao labor das mulheres e às políticas sociais nas atuais relações de trabalho capitalistas. Porém, é necessário também questionar o setor mineral e o capitalismo como um todo. A centralidade material e simbólica da Mineração para o nível de desenvolvimento das sociedades capitalistas atuais, constituídas sobre a exploração humana e a degradação ambiental, são temas que questionam também aos feminismos acerca de um projeto societário mais amplo. |