Motoristas da Uber: em Nova Iorque criam uma cooperativa, em Londres um sindicato

Ação do sindicato britânico GMB em 2017. Fotografia: SumOfUs/Flickr

O acordo alcançado entre Uber e o GMB é histórico. Pela primeira vez, os 70.000 motoristas da Uber do Reino Unido vão poder filiar-se num sindicato e abrem-se as portas para um processo de negociação coletiva. E é igualmente mais um recuo importante na ideologia de que estes trabalhadores seriam micro-empresários.

Em cima da mesa das negociações passam a estar questões como um salário mínimo, férias pagas, planos de reforma, cobertura de doença entre outras.

A Uber entra neste acordo depois de vários processos judiciais e derrotas. A mais significativa das quais no Supremo Tribunal, no passado mês de fevereiro, quando este decidiu que os motoristas eram trabalhadores, “workers”, um estatuto que na lei britânica fica a meio caminho entre o de trabalhador assalariado e o de independente. O que lhes dá acesso a salário mínimo e férias pagas.

Ao Libération, Mick Rix, responsável nacional do GMB, apela agora a que outros operadores também façam o mesmo e entrem em acordo.

A cooperativa nova-iorquina

A resistência à uberização faz outro caminho em Nova Iorque. Nos EUA, a história recente não é a de uma vitória judicial mas a de uma derrota eleitoral. O referendo do ano passado na Califórnia sobre o estatuto dos motoristas das plataformas digitais foi vencido pelas empresas depois de terem desembolsado 200 milhões de dólares na campanha.

Sem sindicalização possível, e aliás na ressaca de uma derrota significativa do movimento sindical que tentou criar o primeiro sindicato num armazém da Amazon, a via escolhida foi outra: 2.500 motoristas juntaram-se para criar uma cooperativa que pretende desafiar os gigantes do setor, Uber e Lyft.

Chama-se simplesmente The Drivers Cooperative e foi criada no início de maio. Começará a operar este domingo e aposta em receber uma comissão menor do que as grandes empresas, pagará 10% acima dos mínimos salariais da Comissão de Táxis e Limusinas da cidade, ao mesmo tempo que os lucros que existam reverterão para os motoristas enquanto cooperantes. Para além disso, a cooperativa juntou-se com o Lower East Side People’s Federal Credit Union para tentar encontrar formas de refinanciar os empréstimos dos seus carros.

A aposta é arriscada em tempo de pandemia. Esta fez diminuir o número de motoristas disponível e a Uber aumentou os pagamentos aos motoristas.

A cooperativa foi iniciada por Erik Forman, sindicalista, Alissa Orlando, ex-chefe de operações da Uber no Leste da África, e Ken Lewis, motorista em Nova Iorque. Ao New York Times, Forman declara: “nunca vi esta fome de mudança que existe nestes motoristas”.

É a primeira experiência do género mas não é a primeira cooperativa de motoristas. A Driver’s Seat Cooperative, iniciada em 2019, opera em Denver, Los Angeles e Portland, não oferece serviços em concorrência com as plataformas mas trata dados que os ajudam a decidir que viagens e aplicações são mais lucrativas. Hays Witt, dirigente da cooperativa, explica ao mesmo jornal que “o ponto de partida para isto foi ouvir as frustrações e o seu sentimento de estarem a ser manipulados pelo algoritmo”.

Fonte: Esquerda.net
Data original da publicação: 22/05/2021

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