A Organização Internacional do Trabalho (OIT) participou no fim de novembro (21) em São Paulo do seminário “Diálogos Nacionais sobre o Futuro do Trabalho”, evento que reuniu mais de 60 especialistas, acadêmicos e representantes de governos, sociedade civil e organizações de empregadores e trabalhadores.
Na ocasião, o diretor do escritório da OIT no Brasil, Peter Poschen, lembrou que a organização foi criada no século 20, enquanto as mudanças ocorridas nos últimos 30 anos trazem novos desafios, como um fenômeno migratório mais acentuado e novos modelos de negócios.
“Para onde vai o mundo do trabalho no século 21, com tantos efeitos sistêmicos?”, questionou Poschen. “Os países e as sociedades, com seus valores, mudam de maneira não linear e descontínua, o que demanda um novo pensamento sobre a governança adequada para o mundo do trabalho”.
O professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Jacques Marcovitch, ressaltou as importantes contribuições trazidas pelos estudos elaborados pela OIT.
“Temos dois legados de reflexões posteriores à Segunda Guerra Mundial que resultaram na Declaração Universal dos Direitos Humanos e, mais recentemente, nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU. Em ambos os casos, o tema do trabalho aparece na necessidade do trabalho decente e do emprego pleno”, afirmou.
Futuro do Trabalho
O diretor-geral da OIT, Guy Ryder, lançou recentemente a Iniciativa do Centenário sobre o Futuro do Trabalho para envolver a estrutura tripartite da OIT numa ampla discussão sobre o assunto, incluindo academia, sociedade civil e outros atores relevantes e interessados.
Como parte desta ação, todos os Estados-membros da OIT foram convidados a organizar diálogos nacionais em quatro áreas temáticas: trabalho e sociedade, trabalho decente para todos, organização do trabalho e da produção e governança do trabalho.
Os diálogos estão sendo realizados em mais de 130 países e seus resultados serão encaminhados ao comitê de alto nível da OIT sobre o futuro do trabalho e para a Conferência Internacional do Trabalho de 2019, ano em que a OIT comemorará seu centenário.
O escritório da OIT no Brasil começou a mobilização nacional para a iniciativa em maio deste ano, quando foi realizado o primeiro diálogo nacional sobre o tema “organização do trabalho e da produção”.
O seminário de novembro na FEA-USP abordou dois assuntos num só dia: “trabalho e sociedade” e “trabalho decente para todos”. O último diálogo nacional, sobre “governança do trabalho”, está programado para acontecer no Rio de Janeiro em 2017.
Espaço de reflexão tripartite
Após a cerimônia de abertura, foi promovido no seminário em São Paulo um espaço de reflexão com representantes da estrutura tripartite da OIT: governos, organizações de empregadores e de trabalhadores.
A coordenadora da Comissão Estadual de Trabalho Decente do Estado de São Paulo, Letícia Mourad, lembrou que o governo paulista trata do tema desde 2013, quando realizou uma conferência sobre o assunto e passou a articular a Agenda Estadual de Trabalho Decente, que tem quatro eixos estratégicos.
“O debate sobre o trabalho decente se dá mais na gestão pública e menos no mundo coorporativo e acadêmico. Por isso, fizemos uma elaboração de parâmetros para as empresas, resultando em cinco áreas de boas práticas: oportunidades de emprego, erradicação das piores formas de trabalho, combinação trabalho e vida familiar, equidade e saúde”, afirmou.
Ela lembrou ainda a criação de um grupo interestadual para debater os ODS e capacitar os membros da Comissão Estadual de Trabalho Decente e outras comissões. “Os ODS têm que pautar todas as políticas públicas. No futuro, essa iniciativa deve desencadear a institucionalização desses mecanismos, além de promover uma integração entre as áreas de governo e projetos e gerar um mapeamento de fontes para o monitoramento, principalmente para o mercado de trabalho no nível municipal”.
O secretário para assuntos econômicos da União Geral dos Trabalhadores (UGT), José Roberto de Araújo Cunha, disse que o movimento sindical está atuando na área de trabalho decente, mesmo neste momento de crise.
“O desenvolvimento do trabalho não é linear, e também há um foco gerado pelos ODS. Por isso, a UGT gostaria de levar esse debate do trabalho decente para as centrais sindicais de todo o país, já que ele ainda está concentrado nas lideranças sindicais.”
Já o diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Rafael Lucchesi, destacou que a educação é o passaporte para a cidadania: “no entanto, o sistema excludente que existe hoje resulta de um modelo de ensino médio, técnico e superior que não atinge a população, com apenas 17% de brasileiros com ensino superior completo”.
“O enfoque na educação técnica é insuficiente, o que advém de um foco equivocado no ensino superior. Isso pode ser visto nas estatísticas de que 80 milhões de brasileiros não têm ensino médio e no grande problema da evasão escolar”, declarou.
Fonte: ONU Brasil
Data original da publicação: 02/12/2016