Mercado de trabalho ainda é terreno árido para jovens negros e negras

Fotografia: Rovena Rosa/Agência Brasil

Uma pesquisa encomendada pelo Banco Mundial e divulgada às vésperas do Dia da Consciência Negra (20/11) indica que, mesmo quando há acesso à educação, a população negra continua com retornos mais baixos quando entra no mercado de trabalho.

O estudo inédito Jovens Negros e o Mercado de Trabalho foi produzido pelo Núcleo de Pesquisa Afro do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e pelo Instituto de Referência Negra Peregum. 

A partir de dados do IBGE e conversas com jovens de cinco capitais brasileiras (Recife, Belém, Brasília, Belo Horizonte e Porto Alegre), o levantamento traça os desafios históricos para a inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho e para o combate ao racismo estrutural. A conclusão é de que o caminho para garantir a igualdade ainda é longo.

Há desvantagens educacionais que atingem mais a população negra. Em consequência, esse grupo é levado a empregos de baixa qualificação, vínculos frágeis e baixa remuneração.

“Mesmo quando a população negra supera os muitos obstáculos educacionais, ela tem retornos mais baixos do investimento em educação no mercado de trabalho. Esse cenário é apontado tanto pelos dados quantitativos quanto qualitativos”, alerta o documento.

Cerca de 60% dos trabalhadores e trabalhadoras informais no Brasil, por exemplo, são negros e negras. Essa parcela da população ocupa apenas 6,3% dos cargos gerenciais e menos de 5% das posições executivas. Quase metade das mulheres negras são inativas.

O estudo conclui que esse cenário é o principal desmotivador de jovens negros e negras para dar continuidade aos estudos e buscar o mercado de trabalho. 

“Não é surpresa que jovens afrodescendentes muitas vezes sejam céticos em geral quanto a continuar a estudar, a procurar emprego e permanecer nele (…) Suas inserções no mercado de trabalho permanecem precárias e não condizentes com sua formação.”

Ainda de acordo com a pesquisa e ao contrário do que pode pensar o senso comum, não é possível identificar falta de interesse generalizada entre essas populações para o ingresso nos estudos e no trabalho. O maior obstáculo está mesmo na desigualdade de acesso.

“Entre os sonhos mais citados na pesquisa, estão a estabilidade, profissional e financeira. Ao mesmo tempo, a falta de oportunidades, a exigência de experiências e mecanismos de discriminação aparecem como barreiras para tal.”

A pesquisa encomendada pelo Banco Mundial aponta que o caminho para solucionar o problema passa por questões estruturais. Mesmo os ganhos de ciclos econômicos de crescimento são anulados quando alguma crise acontece, justamente porque não combatem a raiz da situação. 

Fonte: Brasil de Fato
Texto: Nara Lacerda
Data original da publicação: 20/11/2022

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