Resumo: |
A historiografia do trabalho tem analisado a relação entre o “velho” e o “novo” sindicalismo há pelo menos duas décadas, relativizando a ideia de ruptura total entre o movimento sindical do pré-1964 e aquele que teria surgido no final dos anos 1970, especialmente no que diz respeito a suas estratégias de organização e de luta. Esses historiadores têm demonstrado a existência de significativas continuidades entre um momento e outro do sindicalismo brasileiro e desconstruído a imagem negativa sobre o “velho” sindicalismo, em grande medida, associada a seu vínculo com o PCB e às disputas políticas no campo da esquerda durante os anos 1980. Essas análises trataram, sobretudo, dos casos de São Paulo, do ABC e do Rio de Janeiro, mas, em geral, pouco se dedicaram ao período do chamado “novo sindicalismo” e/ou ao caso de categorias de trabalhadores fora de seu epicentro e caso paradigmático, o ABC. Com o objetivo central de compreender a singularidade do chamado “novo sindicalismo” no caso dos metalúrgicos de São José dos Campos, este trabalho investigou as trajetórias, formas de organização e de luta dessa categoria entre meados dos anos 1950 e o final da década de 1980. Esses trabalhadores foram protagonistas de uma importante greve em março de 1979, que transformou consideravelmente a história de seu sindicato, até então dirigido pelos chamados “pelegos”. Durante os anos 1980, ao contrário das décadas anteriores, ondas grevistas tomaram as fábricas metalúrgicas e os trabalhadores empregaram repetidamente a tática de ocupação dos locais de trabalho até concretizarem suas reivindicações. Além das particularidades desse sindicalismo, investigou-se a atuação de organizações de esquerda entre os metalúrgicos da cidade e suas disputas pelo sindicato, notadamente entre a Articulação e a Convergência Socialista (CS), então correntes internas ao Partido dos Trabalhadores (PT). Buscou-se, finalmente, compreender como se tornou possível a vitória da CS nessa disputa contra o grupo majoritário de um PT que crescia substancialmente na sociedade brasileira. Essa vitória pode ser considerada o início da hegemonia da CS – posteriormente Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – na direção do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São José dos Campos e Região. |