Maio de 68 e a retomada da velha e nova utopia socialista. Entrevista com Diorge Konrad

Uma leitura apropriada do que significou Maio de 68 não deve recair em duas interpretações extremas: de um lado, que as manifestações daquele período representaram a negação da História e estabeleceram o fim das ideologias e das classes sociais e, de outro, que 68 ainda idealiza romanticamente um passado perdido. Essas duas linhas interpretativas “têm como base visões conservadoras e tradicionalistas de sociedade, sendo um contraponto às mudanças que a realidade atual deve colocar na ordem do dia”, defende o historiador Diorge Konrad.

Na avaliação dele, “a questão que se põe” hoje, 50 anos depois, “não é a negação histórica de 1968, nem do Maio Francês. Este foi de importância inegável para o Brasil e para o mundo, mas não podemos tomá-lo como modelo exclusivo, pois deve-se compreender que os acontecimentos de 1968 não aconteceram somente na França, se dando em um momento de bipolaridade mundial, com diferenças de contextos nos países capitalistas e nos países socialistas”.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, o historiador pontua ainda que, embora Maio de 68 tenha mudado os padrões de consumo e comportamento nas sociedades, “é um erro” pensá-lo “como um ano fundador dos movimentos sociais de gênero, negros, ecológicos, antinucleares ou LGBTs”. Para ele, as análises do historiador britânico Eric Hobsbawm, que analisou os reflexos dos anos 60, retratam o sentido daquela revolução cultural. “‘A revolução cultural de fins do século 20 pode assim ser melhor entendida como o triunfo do indivíduo sobre a sociedade, ou melhor, o rompimento dos fios que antes ligavam os seres humanos em texturas sociais’. Se isto tem algum sentido, e eu penso que tem, podemos ver dali a continuidade do exacerbado individualismo que vivemos nos dias atuais”. E adverte: “Para ultrapassar definitivamente os anos 1960, tem que se ir além da constatação de que aqueles tempos foram o início da crise da globalização antes centrada no modelo fordista de produção e acumulação. (…) Não é por nada que passados 50 anos do 1968, aumenta a consciência necessária de que hoje as contradições do desenvolvimento capitalista e neoliberal, em sua fase imperialista e de fase de acumulação flexível do capital e pelo rentismo, ensejam novas rearticulações em torno do social e da grande política, em contraposição às saídas individuais e consumistas de pequenas ‘tribos’ sociais. Esta pode ser a retomada, em outros patamares históricos, da velha e tão nova utopia socialista”.

Fotografia: UFSM
Fotografia: UFSM

Diorge Konrad é graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, mestre em História do Brasil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS e doutor em História Social do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Atualmente é membro da Comissão e do Conselho Editorial de “História & Luta de Classes” e do Conselho Editorial da “Crítica Marxista”, e membro dos Grupos de Trabalho – GTs Mundos do Trabalho e História e Marxismo da ANPUH-RS. É professor da UFSM, no Departamento e no Programa de Pós-Graduação em História.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O senhor tem dito que é necessário romper com duas tradições, uma que interpreta maio de 68 como um fracasso e outra que o interpreta com saudosismo. Qual é o melhor modo de interpretar o que foi maio de 68? O que explica sua erupção?

Diorge Konrad – Mantenho a essencialidade do que já reiterei há 20 anos no ensaio “1968: do passado para o futuro” [In. SCHERER, Amanda E.; NUSSBAUMER, Gisele M.; DI FANTI, Maria da Gloria (orgs.). Utopias e distopias: 30 anos de maio de 1968 (Departamento de Ciências da Informação/Mestrado em Letras/UFSM, 1999) e há 10 anos (no artigo “40 anos de 1968: distopias ficam, utopias permanecem”, publicado no Portal Vermelho, em 13 de maio daquele ano): no primeiro caso, o ano de 1968 é referência para estruturar uma visão de mundo de negação da História, dando a ela um fim, acompanhada de propósitos que estabelecem também o fim das ideologias, o fim das classes sociais e suas lutas. Essa perspectiva, permeada por um recorte irracionalista, baseada em percepções pós-modernas ou pós-estruturalistas, parte de um paradigma de relativização parcial ou absoluta da verdade e do conhecimento, o que perspectiva a distopia. No segundo caso, o ano de 1968 é referência para determinar uma visão de mundo na qual uma forma de romantismo idealiza um passado perdido e perpetuado, não servindo de referência crítica para a possibilidade de transformação do presente. Estas duas visões citadas têm como base visões conservadoras e tradicionalistas de sociedade, sendo um contraponto às mudanças que a realidade atual deve colocar na ordem do dia.

IHU On-Line – Que leitura o senhor faz de Maio de 68 hoje, 50 anos depois? O que aquele período histórico significou?

Diorge Konrad – A questão que se põe não é a negação histórica de 1968, nem do Maio Francês. Este foi de importância inegável para o Brasil e para o mundo, mas não podemos tomá-lo como modelo exclusivo, pois deve-se compreender que os acontecimentos de 1968 não aconteceram somente na França, se dando em um momento de bipolaridade mundial, com diferenças de contextos nos países capitalistas e nos países socialistas.

Nos primeiros, os trabalhadores e setores da pequena burguesia lutavam por melhoria de seus padrões de vida, através da busca de inserção no mundo do trabalho, ao mesmo tempo em que, principalmente por parte da juventude, se criticava a massificação do consumo e a concorrência individualista que estabelecia a exclusão de setores da população, como os negros, as mulheres, os LGBTs, os indígenas, os ecologistas etc., ao defenderem, entre outros, a questão da extensão dos direitos civis.

Exemplos desse processo foram as greves dos trabalhadores franceses no contexto do Maio de 1968, quando mais de 8 milhões de proletários pararam suas atividades, ou a luta pelos direitos civis dos negros, liderada por Martin Luther King e outros nos Estados Unidos, acompanhada pela radicalização da causa pelos Panteras Negras ou pela liderança de Malcolm X. Naquele contexto, salienta-se a luta dos movimentos estudantis em países como Brasil, México, Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Venezuela, Guatemala, Estados Unidos, França, Itália, Espanha, Tchecoslováquia, Suécia, Turquia, Argélia, Marrocos, Tunísia e Japão, os movimentos de contracultura na Inglaterra, Alemanha, França, Brasil e Estados Unidos, os movimentos contra a intervenção militar no Vietnã pelos Estados Unidos e os movimentos pela descolonização da Ásia e da África.

Assim, os anos 1960 ou 1968 não podem ser vistos de forma homogênea em todos estes países, pois estaremos negando a importância daquele momento histórico ou superdimensionando-o. Dessa forma não se cai em visões reducionistas e conservadoras, como aquelas criticadas anteriormente. Muito menos se referenda visões apologéticas e midiáticas que superlativam o Maio Francês. Não esquecemos que a radicalidade das barricadas de Paris produziu apenas um estudante morto, enquanto apenas na Praça de Tlatelolco, na Cidade do México, em outubro de 1968, se deu o mais violento acontecimento daqueles tempos latino-americanos, através do massacre que resultou em 26 estudantes mortos, 300 feridos e mais de mil aprisionados. Mas disso pouco se fala nos dias atuais.

Nos segundos, aparecia a crítica às restrições de participação política e a um modelo burocrático de socialismo, como foi o caso da Primavera de Praga, o que nos leva a não ver o Maio Francês de forma ensimesmada, pois como não perceber nele a influência da Revolução Cultural Proletária da China de 1966 e no redimensionamento do maoísmo, assim como o combate ao colonialismo e ao neocolonialismo, sobretudo questionando a invasão francesa e norte-americana no Vietnã, todas elas anteriores aos acontecimentos franceses. Por fim e afinal, a Primavera de Praga, iniciada em abril de 1968, não é cronologicamente anterior?

IHU On-Line – Maio de 68 reivindicou transformações políticas, éticas, sexuais e comportamentais. Como a sociedade se modificou nesses 50 anos a partir dessas pautas?

Diorge Konrad – É inegável que a mudança de costumes produzida pelo Maio de 1968 mudou os padrões de consumo e comportamento da juventude e de setores da pequena burguesia, com destaque para os chamados países ocidentais ou do seu âmbito geopolítico. Como já escreveu Daniel Aarão Reis Filho, em 68: a paixão de uma utopia (Espaço & Tempo, 1988), ali se estabeleceram novas formas de conceber as relações afetivas entre homens e mulheres, entre pais e filhos, entre o público e o privado, pois estão vivos os movimentos das mulheres e a crítica da sociedade machista, a recusa dos negros diante da discriminação e a denúncia dos homossexuais à hipocrisia. O Maio de 1968 também produziu novas pautas ou radicalizou outras para diversos movimentos sociais, dando nova dimensão à máxima “sexo, drogas e rock and roll”.

Mas é um erro pensar 1968 como um ano fundador dos movimentos sociais de gênero, negros, ecológicos, antinucleares ou LGBTs. O grande historiador Eric Hobsbawm, em Era dos Extremos: o breve século XX. 1914-1991 (1995), ao analisar os reflexos dos anos 1960, já disse que “a revolução cultural de fins do século 20 pode assim ser melhor entendida como o triunfo do indivíduo sobre a sociedade, ou melhor, o rompimento dos fios que antes ligavam os seres humanos em texturas sociais”. Se isto tem algum sentido, e eu penso que tem, podemos ver dali a continuidade do exacerbado individualismo que vivemos nos dias atuais.

IHU On-Line – Quais diria que são três aspectos positivos e três aspectos negativos para a sociedade em geral, decorrentes de Maio de 68?

Diorge Konrad – Com o risco de ser reiterativo, o Maio de 68 da França é dialeticamente controverso, pois trouxe como pauta a inconformidade com determinado status quo do poder, ecoando nos movimentos sociais que traziam demandas específicas e que eram deixadas de lado ou subestimadas nas grandes lutas, assim como levantou novos problemas diante do capitalismo em sua fase de acumulação flexível. Porém, de forma geral, não rompeu de forma revolucionária, mesmo que o fizesse em discurso, com a lógica intelectual construída por esta nova dinâmica capitalista, descentrando a luta de classes para resistências cotidianas, pouco enfrentando a questão da centralidade do poder de classe do próprio modo de produção que aparentemente combatia, trazendo consigo mais uma perspectiva distópica das lutas sociais e uma visão de mundo fragmentária do todo social, na contramão da crítica necessária ao rompimento com o capital em sua fase de acumulação flexível e volátil.

IHU On-Line – O que resta do espírito de Maio de 68 nos dias de hoje?

Diorge Konrad – Podemos considerar que as visões irracionalistas reforçadas a partir de 1968, principalmente expressadas em segmentos da “Nova História” ou da “Nova Filosofia”, apresentam, nestes tempos neoliberais, boa parte deste “espírito de Maio de 1968”. Quando se dão as derrotas de 1968, diversos setores intelectuais passaram a criticar as transformações globalizantes de mundo e as visões totalizantes de História. Reflexos dessa linha de interpretação são as proposições de visões fragmentárias de mundo, as quais entendem que o conhecimento só pode ser apreendido nas especificidades. Em decorrência, as ações dos movimentos sociais só poderiam se dar no particular ou nas “tribos sociais”, como considerou o sociólogo francês Michel Maffesoli. Estaria estabelecido o fim da utopia, entendida aqui como um novo tipo de sociedade a ser construída.

Tampouco eu colocaria 1968 com aquele sentido figurado, subjetivista e a-histórico de Fernando Gabeira, em 1985, em Diálogo: Nós que amávamos tanto a revolução, na conversa com Daniel Cohn-Bendit, sobre o olhar em torno dos jovens que um dia foram olhando-se para incômodos estranhos do passado. Prefiro a opinião objetiva de um historiador, Luiz Dario Teixeira Ribeiro, em 1968: contestação e utopia [HOLZMANN, Lorena; PADRÓS, Enrique S. (orgs.), UFRGS, 2003], quando afirma que a derrota da revolução de 68 possibilitou uma vitória histórica da barbárie, mas por ser histórica, é temporária, limitada no tempo, que tem vida e vai terminar.

IHU On-Line – Quais eram os movimentos estudantis mais ativos no Brasil na década de 60, especialmente em 68?

Diorge Konrad – Não podemos esquecer que, no Brasil, o combate à reacionária Ditadura Civil-Militar (iniciada desde os primeiros momentos do Golpe de 1964, quatro anos antes) resultou em centenas e centenas de mortos, desaparecidos, torturados, exilados, depostos e perseguidos. Então, não foi apenas a resistência dos jovens e estudantes que marcaram a época, visão que nos leva a outra visão romântica sobre os que radicalizaram contra o fascismo no pós-1964, em hipótese sempre defendida por mim e bem explicada por Yuri de Carvalho em Se dez vidas tivesse, dez vidas daria: o Movimento Revolucionário Tiradentes e a participação da classe trabalhadora na resistência (1964-1971) (Dissertação de Mestrado em História, UFSM, 2014).

Mas os estudantes, organizados na ilegalidade ou na clandestinidade na sua entidade máxima, a União Nacional dos Estudantes – UNE, não baixaram a cabeça diante do arbítrio, mesmo que outro segmento estudantil tenha apoiado a Ditadura, como bem mostrou Mateus da Fonseca Capssa Lima em Movimento Estudantil e Ditadura Civil-Militar em Santa Maria (1964-1968) (Dissertação de Mestrado, UFSM, 2013) e A Direita Estudantil Universitária no Rio Grande do Sul (1961-1968) (Tese de Doutorado em História, UNISINOS, 2017).

Entre os que resistiram, estavam na linha de frente os estudantes da Ação Popular – AP, do Partido Comunista do Brasil – PcdoB e aqueles que foram para a Guerrilha do Araguaia e os do Partido Comunista Brasileiro – PCB, este dividido e radicalizado nas correntes que também foram à luta armada, como a Ação Libertadora Nacional – ALN, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro – MR-8, a Vanguarda Popular Revolucionária – VPR, entre outros, assim como aqueles que foram para as ruas contra a Lei Suplicy e seus desdobramentos na reorganização das entidades conforme os ditames da Ditadura, contra a cobrança de taxas e anuidades nas Universidades Públicas e contra a Reforma Universitária de 1968.

IHU On-Line – Qual foi a influência de Maio de 68 nos movimentos de esquerda brasileiros?

Diorge Konrad – 1968 tem significado extraordinário para os estudantes brasileiros (vide o assassinato do estudante Edson Luiz e a Passeata dos 100 Mil, no Rio de Janeiro) e para os movimentos políticos da época, principalmente na luta armada e clandestina contra a Ditadura. No Brasil, as expressões políticas, sociais e culturais do período estavam intrinsecamente relacionadas com a realidade de um país envolvido em profundos contrastes. É evidente que parte destes contrastes permanecem até hoje, mas mudaram na forma e na qualidade, levando em conta que a Ditadura recolocou o Brasil em novo patamar na divisão internacional de trabalho capitalista. Para os que queriam mudanças, o momento era de busca de uma cultura popular aliada à procura de uma identidade nacional no rumo de uma transformação revolucionária para o Brasil, contra a reordenação do modelo de desenvolvimento capitalista associado e dependente, sustentado pela aliança conservadora de civis e militares em conjunto com o capital externo, principalmente norte-americano.

IHU On-Line – Em que sentido as reivindicações brasileiras à época da ditadura se aproximam e se diferenciam das do Maio de 68 Francês?

Diorge Konrad – O Maio de 1968, presente direta e indiretamente na Passeata dos 100 Mil de 26 de junho, levou os estudantes de volta às ruas, em movimento de massa, mesmo com as especificidades da luta em curso no nosso país, recolocando a ideia de uma frente com operários e camponeses, ou seja, retomando a compreensão de frente ampla para uma unidade classista contra as formas de dominação capitalista, presentes na França da III República ou na Ditadura Brasileira. Mas o Maio Francês se deu na crítica política à democracia burguesa, enquanto no Brasil tratava-se de resistir a uma ditadura burguesa iniciada pelo Golpe de Classe de 1964.

IHU On-Line – Quais eram as pautas reivindicatórias dos movimentos sociais brasileiros nesse período?

Diorge Konrad – A principal delas e a estratégica era a luta de resistência contra a Ditadura Civil-Militar, desdobradas, como já demonstrou Maria da Glória Gohn, em História dos movimentos e lutas sociais – A construção da cidadania dos brasileiros (1995), com efervescência dos movimentos de esquerda (ao menos até o AI-5, editado em 13 de dezembro de 1968), não obstante a sua divisão, contra o “milagre econômico” e o arrocho salarial imposto (vide as greves de Osasco e Contagem, em 1968), assim como a continuidade de luta pela reforma agrária e pela terra de camponeses e indígenas, além das lutas dos setores urbanos, particularmente da periferia, por direitos à cidadania através de moradia digna, creches e contra a inflação, sobretudo após 1973, quando escancaram-se as contradições da política econômica oriunda do falso “Milagre”.

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?

Diorge Konrad – Reitero o que também já disse nos meus artigos antes referenciados, haja vista a centralidade e atualidade daquele chamamento: para ultrapassar definitivamente os anos 1960, tem que se ir além da constatação de que aqueles tempos foram o início da crise da globalização antes centrada no modelo fordista de produção e acumulação. É fundamental considerar o poder do fetiche da mercadoria no capitalismo que pode transformar protestos mais ou menos despolitizados da contracultura e de outros setores sociais, como novas formas de consumismo. Enfim, a lógica que reconhece as diferenças, mas não muda o domínio do capital. Discursos que reforçam a incognoscibilidade do real e a impossibilidade de visões globais de mundo são produto da crise de desenvolvimento dos anos 1960 e que permanecem até os dias atuais, especialmente no seio de movimentos sociais e políticos desarticulados, os quais não têm conseguido encontrar respostas espontaneístas de “imaginação no poder” ou relativo empoderamento do âmbito do próprio modo de produção capitalista.

Não se trata aqui de negar a importância das pautas chamadas restritamente de Identitárias, mas parte de suas bases teóricas e políticas ainda estão ligadas umbilicalmente à efemeridade histórica dos acontecimentos franceses, base material de muitas produções intelectuais idealistas, relativistas, individualistas e fragmentárias do pos-histoire, dos discursos da sociedade pós-industrial, do argumento do fim da sociedade do trabalho, do homem unidimensional marcusiano e, sobretudo, do anti-humanismo.

Tudo isso poderia ser taxado de simplismo. Mas respondemos a isso com Luc Ferry e Alain Renault em Pensamento 68: ensaio sobre o anti-humanismo contemporâneo (1988): “na verdade, é contudo a crítica do humanismo, do sujeito, da metafísica, da autonomia, da antropologia ou da verdade, que evidencia um impressionante e persistente simplismo”. Não é por nada que passados 50 anos do 1968, aumenta a consciência necessária de que hoje as contradições do desenvolvimento capitalista e neoliberal, em sua fase imperialista e de fase de acumulação flexível do capital e pelo rentismo, ensejam novas rearticulações em torno do social e da grande política, em contraposição às saídas individuais e consumistas de pequenas “tribos” sociais. Esta pode ser a retomada, em outros patamares históricos, da velha e tão nova utopia socialista.

Fonte: IHU On-Line
Texto: Patricia Fachin
Data original da publicação: 04/04/2018

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