Liberdade, igualdade, fraternidade – e agora, o “direito de desconectar”. Entre uma série de nova reformas para aliviar as regulamentações mais severas do mercado de trabalho na França, a ministra do trabalho do país, Myriam El Khomri, incluiu uma cláusula que pode dar aos trabalhadores o direito de ignorar e-mails e outras mensagens recebidas por motivos profissionais quando estiverem fora do escritório.
A medida vai, essencialmente, determinar uma divisão entre trabalho e casa e, em um nível mais alto, entre as vidas pública e privada.
A ministra aparentemente retirou a ideia de um relatório escrito por Bruno Mettling, diretor-geral de recursos humanos da operadora de telecomunicações Orange. Mettling acredita que essa política beneficiaria tantos empregadores quanto empregados que, afirma ele, estão propensos a sofrer “riscos psicológicos” de um ciclo de comunicação incessante.
Como relatado no jornal francês Le Monde, um estudo recente descobriu que aproximadamente 3,2 milhões de trabalhadores franceses estão em risco de sofrer da síndrome de “burnout” (esgotamento, em inglês), distúrbio definido como uma combinação de exaustão física e ansiedade emocional.
Embora a França já seja famosa por sua jornada semanal de trabalho de 35 horas, muitas empresas contornam as regras, geralmente fazendo com que os funcionários continuem a trabalhar remotamente muito tempo depois de deixarem o local de trabalho.
Com a economia estagnada e uma taxa de desemprego de 10,6%, quase um recorde, a jornada de trabalho de 35 horas, estabelecida na década de 1990, tem gerado uma grande quantidade de debates entre os franceses nos últimos meses. Uma proposta recente daria às empresas o direito de renegociar mais horas de trabalho e pagar menos pelas horas extras a funcionários que permanecerem por mais tempo no trabalho.
O “direito de desconectar” é, em última análise, uma forma de garantir proteções trabalhistas num ambiente de trabalho alterado, no qual a tecnologia – especialmente smartphones e outros dispositivos pessoais – tornaram-se indispensáveis.
Algumas empresas na França e em outros países já colocaram esta regra em vigor, mas Mettling insiste que muitas outras deveriam fazer a mesma coisa.
“Profissionais que encontram o equilíbrio entre vida privada e trabalho têm uma performance melhor no trabalho do que aqueles que chegam destruídos”, disse o executivo da Orange à rádio Europe 1.
Fonte: Link/Estadão, com The Washington Post e agências
Texto: Jame McAuley
Tradução: Priscila Arone
Data original da publicação: 20/02/2016