Jornal New York Times cita ações da UGT em apoio aos trabalhadores da Nissan

A União Geral dos Trabalhadores (UGT) e o Sindicato dos Comerciários de São Paulo já realizaram inúmeras manifestações em parceria com o United Auto Workers – sindicato que representa os trabalhadores do setor automobilístico norte-americano – em apoio aos trabalhadores na Nissan dos EUA, que lutam pelo direito de se sindicalizar e ter voz ativa. No mundo todo, os empregados dessa montadora têm representação sindical, menos os norte-americanos.

A principal intenção dessas manifestações é unir forças entre Brasil e EUA e pressionar a empresa a aceitar a sindicalização dos trabalhadores americanos, além de melhorar a situação do emprego nas fábricas situadas nos dois países e permitir melhores condições de trabalho.

Leia abaixo a tradução de uma matéria sobre esse tema, publicada pelo jornal New York Times no dia 6 de outubro.

Canton, Mississippi – O sindicato UAW (United Automobile Workers), no ímpeto de realizar incursões no sul antissindicalista, onde a Toyota, a Volkswagen e outras montadoras de automóveis têm fábricas, nunca antes havia tentado um processo de sindicalização como o que foi realizado na fábrica da Nissan.

O UAW conseguiu que milhares de sindicalistas no Brasil fizessem protestos em frente a concessionárias da Nissan, já que essa companhia se prepara para patrocinar os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. O sindicato enviou um time de dirigentes do Mississippi para a África do Sul, onde a Nissan tem uma fábrica, para tentar denunciar a companhia com acusações de que ela viola os direitos trabalhistas na fábrica de Canton.

Nas próximas semanas, uma delegação de dirigentes da UAW e apoiadores do movimento irão viajar a Tóquio e a Paris, onde a Renault, parceira da Nissan, está localizada, para divulgar um relatório feito por um professor da Universidade Cornell, que afirma que gerentes da Nissan ameaçaram ilegalmente fechar a fábrica do Mississippi se os trabalhadores votassem pela sindicalização.

Estes esforços são, em grande parte, dirigidos a Carlos Ghosn, presidente da Nissan, parte brasileiro e parte francês, conhecido por cortar custos, que disse que a empresa prefere se comunicar com os seus trabalhadores do Mississippi sem o intermédio de um sindicato.

Mais perto dessa problemática, o ator Danny Glover tem abraçado a causa do UAW, falando em faculdades de todo o Sul para recrutar estudantes para distribuir panfletos sindicais em concessionárias da Nissan. O sindicato também ajudou a criar um grupo de estudantes e líderes comunitários e religiosos, a Aliança Mississippi para a equidade da Nissan, que inclui a N.A.A.C.P.A. Essa aliança geralmente usa o slogan “Direitos trabalhistas são direitos civis.”

Em um momento em que o UAW tem menos do que um terço dos 1,5 milhão de trabalhadores que possuía em 1979, seu impulso organizacional no Sul tornou-se urgente e está sendo observado de perto por líderes trabalhistas de todo o país.

“É uma questão de vida ou morte para o UAW ter sucesso no Sul”, disse Nelson Lichtenstein, professor e historiador de trabalho na Universidade da Califórnia, Santa Barbara. “É por isso que eles colocaram os seus melhores organizadores para esta campanha.”

A batalha da sindicalização dividiu de forma desigual os trabalhadores na fábrica de cor branco reluzente da Nissan, que se estende por quatro quintos de uma milha ao longo da Interstate 55 e produz 450 mil Altimas, Sentras e outros veículos por ano. As forças pró-sindicais dizem que muitos trabalhadores estão apoiando o UAW, enquanto os trabalhadores antissindicais insistem que o sindicato tem poucas chances de ganhar um apoio maior. Alguns trabalhadores antissindicais usam camisetas dizendo: “Se você quer um sindicato, mude-se para Detroit.”

Apesar de fracassos anteriores no sul, Bob King, presidente do UAW, promoveu a campanha mais ambiciosa do sindicato na região. Além de Canton, também está empenhado em organizar a fábrica da Volkswagen em Chattanooga, Tennesse e a da Mercedes-Benz em Vance, Alabama.

“Bob King basicamente colocou em risco seu legado ao organizar os trabalhadores dessas montadoras internacionais”, disse Kristin Dziczek, diretora do grupo trabalhista e industrial do Centro de Pesquisa Automotiva. “A não ser que eles sindicalizem mais a força trabalhista no país, eles se tornarão tomadores de salário, e não estabelecedores de salário.”

Se o UAW não conseguir sindicalizar as fábricas no Sul, disse Dziczek, eles irão abaixar os salários na General Motors, na Ford e na Chrysler.

O sindicato enfrenta um momento duro no Mississippi, ela disse, considerando a perda humilhante que ele sofreu em 2001 quando trabalhadores da fábrica da Nissan em Smyrna, Tennessee, votaram sobre a sindicalização à UAW e perderam por 2 a 1.

King espera resultados melhores dessa vez. “O que é diferente desta vez é que há um apoio muito forte e ativo da comunidade”, disse ele. Notando que os sindicatos no Japão, Alemanha, Austrália e Grã-Bretanha estão apoiando a luta no Mississippi, ele acrescentou: “esse tipo de pressão global sobre eles, como um violador de direitos do trabalho, vai fazer uma grande diferença. Há violações escandalosas do direito dos trabalhadores de se organizarem.”

Dirigentes sindicais disseram que eles não prestaram queixa no Comitê Nacional de Relações Trabalhistas, mas que podem vir a fazer isso. Ricardo Patah, presidente da gigantesca UGT – ela tem sete milhões de membros e se prestou a mobilizar dezenas de concessionárias da Nissan – disse em uma entrevista: “Não vamos parar enquanto eles não tiverem um sindicato dentro da fábrica no Mississippi.”

A marcha de sindicalização certamente exacerbou as tensões em Canton. Na pitoresca praça da cidade, com seu lindo tribunal pré Guerra Civil, Sheaford Davidson, que ajuda a administrar uma companhia que faz lápides de cemitério, disse: “Somos uma nação do direito ao trabalho”, ele continuou, “à época da Revolução Industrial, havia a necessidade de sindicatos, mas agora, em 2013, não vejo essa necessidade.”

Para o Estado do Mississippi, a escolha da Nissan de abrir uma fábrica foi um golpe. A fábrica de automóveis de 10 anos era a primeira no Estado, e a força de trabalho subiu para 5.200, fazendo com que a Nissan seja a segunda maior empregadora no Estado, atrás apenas da empresa de construção naval Ingalls. Blake Wilson, presidente do Conselho Econômico do Mississippi e da camâra estadual de comércio, elogia a Nissan por trazer milhares de empregos e por doar milhões ao sistema educacional de Canton.

“Por toda a região Sul, o espírito de um ambiente antissindical tem sido positivo no crescimento de todos os tipos de manufatura”, disse Wilson. “Um ambiente antissindical tem sido um diferencial do mercado nos Estados do sul. Mas se você começar a ver a mudança, certamente será uma perda para a região.”

A Nissan investiu US$ 2 bilhões em sua fábrica de última geração, que usa 1.200 robôs. A base salarial para a maioria dos trabalhadores é de US$ 23.22 por hora, fazendo com que sejam invejados por outros operários no Mississippi.

Ainda assim, Morris Mock, um robusto técnico de pintura, apoia fortemente a sindicalização.

“Somos gratos que a Nissan veio para o Mississippi, mas, conforme fui envelhecendo, vi que que existem questões de segurança e questões ergonômicas que precisam ser vistas”, disse o Sr. Mock, 39, que trabalha na fábrica desde que ela abriu. “A Nissan começou de uma maneira, mas as coisas mudaram. Queremos ter certeza de que nossas vozes serão ouvidas.”

Muitos trabalhadores que apoiam o sindicato reclamam que a companhia não escuta os trabalhadores o tanto quanto deveriam e colocam trabalhadores machucados de volta ao trabalho muito rapidamente. Muitos estão irritados que seus salários ficaram congelados por cinco anos, muitos dos quais começam em cerca de US$ 12 a hora. Muitos trabalhadores experientes reclamam que são relegados a eles o turno da noite porque trabalhadores temporários não recebem os cobiçados turnos do dia.

“Eles dão a eles os trabalhos mais fáceis para que eles não deixem o emprego”, disse Chip Wells, que também é um técnico de pintura. “Eles estão próximos a nós, fazendo o mesmo trabalho, recebendo menos benefício e salários menores. Isso não é justo.”

Funcionários do sindicato estimam que 40% dos funcionários da fábrica são temporários. Eles não possuíam os pré-requisitos para participar do voto de sindicalização do UAW. Funcionários do sindicato recusaram-se a divulgar o número de trabalhadores.

Claude Potter, 37, um técnico de reparos de acabamento e chassis, deixou o trabalho como vendedor de carros na Nissan 10 anos atrás, convencido que o salário seria mais estável. “Não acho que deveríamos ter um sindicato”, Potter disse. “Não preciso pagar alguém para falar por mim. Se eu tenho um problema, posso falar com quem tiver que falar. Esse lugar é perfeito? Não, mas eu nunca trabalhei em nenhum lugar que fosse perfeito.”

Camille Young, gerente de relações comunitárias da Nissan em Canton, notou que a maior parte dos trabalhadores da fábrica iriam receber um aumento de 55 centavos por hora esse mês. Quanto às reclamações sobre o congelamento salarial, dirigentes da Nissan apontaram que as montadoras de Detroit também tiveram um congelamento estendido, e acrescentou que a fábrica de Canton não despediu ninguém durante a recessão.

A questão mais emocionalmente delicada dessa batalha envolve acusacões de alguns trabalhadores pró-sindicais de que os gerentes da Nissan procuraram intimidar.

“Eles dizem que os três grandes (Ford, GM e Chrysler) fecharam suas fábricas porque estavam afiliados a sindicatos, e dizem que se tivermos um sindicato, fecharão essa fábrica”, disse Betty Jones, que fixa peças nos motores dos veículos. “Um monte de gente que quer um sindicato pensa que se eles forem abertos quanto a sindicalização, irão perder seus empregos.”

Justin Saia, um ombudsman da Nissan, negou que os gerentes tenham feito tais ameaças. “A Nissan é uma companhia que não tolera que funcionários sejam intimidados”, ele disse. “Isso não seria tolerado como parte de nossa cultura.”

Essas tensões são um grito distante do que tem acontecido na fábrica da Volkswagen em Chattanooga. O diretor regional do UAW disse, no mês passado, que a maioria dos 2000 trabalhadores da fábrica já havia assinado papéis apoiando a sindicalização.

Ademais, a Volkswagen – sob pressão do poderoso sindicato IG Metall na Alemanha – disse que iria cooperar com o UAW a formar um conselho de trabalhadores em Chattanooga. Tais conselhos, comuns na Alemanha, incluem operários e não operários e trabalha com gerenciamento para aumentar a produtividade e administrar regras da fábrica.

Os líderes do UAW reconhecem que, pela lei americana, a fábrica da Volkswagen precisaria se sindicalizar antes. Alguns dirigentes do UAW estão encorajando a VW a reconhecer o sindicato baseado em uma maioria de papéis que eles dizem ter assinado. Mas grupos apoiados por corporações como o Instituto Workplace Fairness favorecem uma eleição com voto secreto.

“Há muita pressão na VW para reconhecer o sindicato”, disse Lowell Turner, professor de relações trabalhistas internacionais na Cornell. “61 das 62 fábricas que eles têm no mundo inteiro têm sindicatos e conselhos trabalhistas. A única fábrica que não possui é a de Chattanooga.”

Ao reconhecer que enfrenta uma subida mais íngreme no Mississippi, o UAW fez uma demanda atípica. O sindicato quer que a Nissan concorde com o que ele chama de “princípios de uma eleição justa”, que permitiria que seus organizadores tivessem o mesmo tempo na fábrica – para rebater o que o sindicato disse ao afirmar que há inúmeros encontros e vídeos antissindicais. King disse que o sindicato não buscaria oficialmente um voto até que a Nissan concordasse com esses princípios.

Como muitos de seus companheiros de trabalho, Jones expressa desânimo pelo fato de que os trabalhadores de Canton geralmente recebem US$ 2 a menos que os trabalhadores da Nissan em Smyrna. A empresa diz que os trabalhadores da fábrica do Tennessee, que tem 30 anos, têm mais experiência.

Ao explicar porque ela é a favor do sindicato, ela disse: “Claro que poderia falar com você o dia inteiro, mas se não estou sentada a uma mesa com você, quando você estiver tomando uma decisão sobre minha segurança, minha saúde, meu salário, não tenho nenhum impacto sobre minha situação. Mas se houver 100 mil pessoas atrás de mim, isso fará diferença.”

Funcionários da Nissan dizem que a empresa segue todos os requisitos legais sobre os esforços de sindicalização.

“A Nissan tem se comprometido a seguir a carta da lei dos requisitos do NLRB (Comissão Nacional de Relações Trabalhistas)”, disse Young, gerente de relações comunitárias. “A Nissan respeita imensamente o direito de nossos funcionários escolherem quem os representa.”

Mas dirigentes do sindicato alertam que irão a luta se não tiverem acesso equânime na Nissan. “As companhias automobilísticas estão muito preocupadas com a imagem da marca”, King disse. “Quando temos todos esses parceiros sindicais em todo mundo, e eles estão vendo direitos trabalhistas serem violados nos EUA, isso arruína a relação em todos esses lugares, e prejudica a imagem da marca.”

Por fim, Stephanie Sutton, técnica de pintura por 10 anos, insiste que o sindicato tem menos apoio do que ele diz ter. Ela disse que muitos trabalhadores estavam conclamando por um sindicato que fizesse pressão na Nissan para que ela desse aumento, mas não votaram no UAW.

“Há muita gente que impressiona com suas palavras, mas não sei se irão nos defender no momento oportuno”, ela disse.

Fonte: UGT, com The New York Times, com ajustes
Texto: Steven Greenhouse
Data original da publicação: 09/10/2013

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