As relações de trabalho têm se alterado de forma expressiva em um Brasil em crise: as carteiras de trabalho vêm sendo substituídas por novas formas de relacionamento, como o trabalho autônomo ou a veiculação a plataformas de entrega, na chamada ‘uberização’.
A plataforma iFood é a referência nesse sentido, e o aumento no número de entregadores por conta da falta de vagas no mercado formal a colocou no centro do debate sobre relações trabalhistas.
“Há algum tempo, o iFood veio a público por meio do presidente da empresa dizer que a plataforma entende que as relações de trabalho estão mudando, que não se pressupõe um juízo de valor sobre a CLT ou sobre o tempo de emprego”, diz Lucas Pittioni, diretor Jurídico e de Relações Institucionais do iFood, em entrevista exclusiva ao programa TV GGN Nova Economia [assista abaixo].
Segundo Pittioni, esses modelos seguirão coexistindo, e o mercado de trabalho em plataforma possui suas especificidades. “A gente precisa começar a discutir uma regulação que leve em consideração o lado do trabalhador”, diz o executivo.
Diante disso, o diretor da iFood afirma que é necessário “debater ganhos mínimos, direitos mínimos (em especial o acesso à Previdência). A gente fala também do lado do poder público, especialmente do orçamento público – como se financia a previdência dessa nova categoria, dessa nova força de trabalho, por exemplo. E, no setor privado, deve-se ter uma regulação que caiba ali também no setor privado”.
Para o executivo, o debate não pode envolver apenas o iFood, mas também envolver outras partes – como a Academia, setor privado, jornalistas e o poder público. “Ela precisa ser urgente. A gente precisa enfrentá-la de frente e a plataforma está aberta para debater e para contribuir com dados, números, para a gente chegar a uma situação que seja um ganha-ganha para esses três lados, trabalhador, governo e setor privado”.
Expansão em alta velocidade
O debate se deve ao tamanho que o iFood alcançou na economia brasileira: segundo Pittioni, a empresa já afeta cerca de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.
“A gente fala de impacto das vendas desses estabelecimentos pela plataforma, da renda dos entregadores, dos empregos diretos e indiretos que são gerados por conta dos nossos negócios”, diz o executivo. “Esse crescimento naturalmente acelerou nos últimos anos, e a empresa se viu no meio do debate público”.
Embora o avanço do iFood tenha sido proeminente dos últimos dez anos para cá, a empresa na verdade nasceu de outra muito parecida que operava na época em que a internet sequer existia.
“O iFood nasceu de uma outra empresa, que fazia algo muito parecido com o que a gente faz hoje, mas em uma época em que a internet sequer existia. Então, o iFood original, essa empresa de 20 anos atrás, era basicamente uma empresa de call center que tinha ali um cardápio impresso, que era distribuído especialmente nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, as pessoas ligavam para o número daquele cardápio, era um número da empresa do call center que atendia, e aquele call center direcionava os pedidos dos clientes por fax para os restaurantes”, diz o diretor jurídico do iFood.
O iFood como o mercado conhece atualmente ganhou corpo em 2011, onde o modelo off-line foi colocado em uma plataforma online. “Em 2011, o iFood operava basicamente em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Jundiaí, e de lá para cá a história mudou um pouco. Hoje, o iFood está presente em mais de 1,2 mil cidades no Brasil”.
Segundo Lucas Pittoni, o iFood conta com 5 mil funcionários para atender cerca de 300 mil estabelecimentos entre restaurantes e supermercados. “Boa parte desses funcionários é do time de tecnologia: a gente deve ter entre 1,5 mil e 2 mil pessoas trabalhando na área de tecnologia do iFood”.
Quanto aos entregadores, o executivo diz que mais de 200 mil pessoas trabalham com a plataforma todos os meses. “Se a gente for olhar para o ano de 2021, foram 450 mil entregadores que fizeram ao menos uma entrega com o iFood. Se a gente olha para os meses, são cerca de 180 mil entregadores trabalhando todos os meses com a plataforma. Essa é uma das características que a gente enxerga aqui – existe uma certa flutuação no número dos entregadores que trabalham conosco.”
Fonte: GGN
Texto: Tatiane Correia
Data original da publicação: 04/03/2022