“O esperado para 2021 é positivo para a economia brasileira, mas esse otimismo leva em conta que teremos vacina no primeiro semestre, o que, no entanto, não é garantido pela conduta negacionista do governo brasileiro, em especial do presidente da República. E esse cenário positivo esperado também não será suficiente para compensar as perdas de 2020, para recuperar o recuo do PIB, tudo o que o produto interno encolheu neste ano”, adverte.
Ao falar sobre desemprego, o economista avalia que não é possível repetir os números tão drásticos e recessivos de 2020, mas uma geração de postos de trabalho capaz de realmente reverter a situação depende da ação do governo nessa pandemia, que tem decepcionado até aqui.
“Nós teremos geração de emprego em um ritmo maior que o das demissões, como uma consequência natural desse processo, já que em 2020 houve uma desestruturação total, uma parada abrupta. Há falta de matéria-prima, desde papelão a material para a indústria automobilística. Então nós temos uma economia desarrumada e vamos assim continuar gerando emprego para organizar isso. Mas para uma retomada concreta, segura, é necessário que haja a vacinação da população. Isso é importante para o empresário ter confiança e poder investir.”
Ele também aponta o trabalho do Congresso como fundamental para um cenário mais estável, principalmente na área tributária, importante para a projeção das empresas no futuro. “Qualquer que seja o comando da Câmara, teremos algum avanço, ao menos na reforma tributária. O mercado não trabalha com uma mudança para 2021, porque o ano fiscal começa agora em primeiro de janeiro. Mas é importante que a sinalização seja um projeto que mostre como será a tributação nos próximos anos. Temos temas relevantes, como a unificação de tributos, como PIS/Cofins, ICMS e, quem sabe, até IPI, além da discussão sobre como ficará a tributação sobre o setor de serviços, que é crucial na geração de empregos. E, mais importante, é saber como ficará a questão do auxílio emergencial nesses primeiros três meses do ano”, destaca o professor do Ibmec.
O custo da ajuda social
Braga diz que há um duelo no governo entre os que defendem a extensão do benefício e aqueles que temem o impacto nas contas públicas. E alerta que, quanto mais o governo demora para garantir a vacinação dos brasileiros, maior é o custo da ajuda social, pois o controle da pandemia é a base para retomada de fato do crescimento.
“O governo age de forma dúbia. O presidente, que se diz preocupado com a economia, não se mobiliza como deveria para a vacinação. Havendo uma mobilização no Congresso, e ao que tudo indica deve crescer a pressão pela extensão do auxílio, o presidente então agirá para garantir a paternidade da proposta”, acredita.
“A questão do auxílio não é econômica, mas sim de sobrevivência. Essa conta é do governo e ele tem que pagar. Não adianta um país ter suas contas fiscais controladas, se a população está morrendo. O auxílio foi responsável por mais da metade do sustento dos brasileiros que estão desempregados, desalentados, sem qualquer fonte de renda. E há um dilema, pois o presidente viu crescer sua popularidade por causa desse benefício. E há uma guerra. Um lado econômico, do Ministério da Economia, que tem uma ênfase no controle de gastos. Por outro lado, quanto mais tempo você demora para imunizar contra a Covid-19, mais gastos você tem com ajuda à população”, compara Braga.
O economista afirma que o impacto da pandemia gerou inclusive confusão nos índices de reajuste de preço, já que foram mantidos os patamares de avaliação, mesmo que o comportamento de consumo tenha se alterado muito por causa da pandemia.
“Há uma avaliação de que os índices estão malucos e precisam, em tese, ser reestudados ao analisar 2020. O IGPM, por exemplo, que reajusta os alugueis, chegou a 25%, e não há sentido você elevar o valor do aluguel em um quarto em uma situação de desemprego e queda de renda da população. Então esses índices captam o consumo do momento que foi totalmente alterado pela pandemia. Houve uma redução no uso de combustíveis, do transporte público e isso, por sua vez, tem um peso grande nesses referenciais. Por outro lado, aumentou muito o consumo de energia e internet, por causa do lockdown. Então é difícil analisar a situação dos índices nesse contexto”, explica.
Absoluto desatino
Gilberto Braga também criticou a atitude de políticos que, em meio à situação ainda dramática de muitos brasileiros, garantiram sem pudor o reajuste salarial de prefeitos que, mesmo com algumas ponderações, sancionaram os projetos beneficiando o próprio bolso.
“Me parece um absoluto desatino você aumentar o salário do prefeito em uma situação como essa, em que você pede sacrifícios à população, em que muitos brasileiros vivem uma crise grave. Até porque o salário do prefeito eleva outros salários vinculados, um efeito cascata. E não foi uma mera correção da inflação. Os aumentos foram expressivos. Então acho que o prefeito que diz que é contra, deveria abrir mão, até como simbolismo diante da situação difícil de muitos brasileiros”, conclui o professor.
Fonte: RFi Brasil
Texto: Raquel Miura
Data original da publicação: 31/12/2020