Greve histórica dos professores franceses contra a “exaustão”

Na quinta-feira (13/01), aconteceu uma das maiores greves de professores dos últimos tempos em França. O Ministério da Educação reconhece que 38,5% dos professores participaram nela e o Ministério do Interior que 78.000 entre eles se manifestaram em 136 locais diferentes. Contas muito abaixo dos 75% de grevistas contados no ensino primário e dos 62% no secundário, mas que não conseguem mascarar a dimensão massiva do protesto.

Ao fim da tarde, o primeiro-ministro Jean Castex, junto com o ministro da Educação e o da Saúde, reuniam-se com os sindicatos. Depois de mais de três horas e meia prometeram “cinco milhões de máscaras FFP2” para os docentes do primeiro grau de ensino e a distribuição de outras máscaras cirúrgicas para o restante pessoal educativo, mais 3.300 professores contratados para fazer face às baixas e adiamento de algumas avaliações.

Os sindicatos, que têm exigido para além de mais máscaras e de melhor qualidade, mais testagem e monitores de CO2 para verificar se as salas de aula estão suficientemente ventiladas, esperavam mais. Esta greve era à partida considerada histórica pela sua abrangência. Juntava tanto os principais sindicatos de professores como os enfermeiros escolares, auxiliares de ação educativa, inspetores ou mesmo administradores escolares. Para além disso, os sindicatos de estudantes também fizeram greve e as associações de pais manifestaram igualmente apoio. A maior destas associações, a FCPE, apelou até a que os pais não levassem os filhos para escola no dia de greve, exigindo mais testes, uma estratégia consistente para o ensino à distância e a substituição dos professores doentes.

Aos vários órgãos da comunicação social francesa dirigentes sindicais e restantes trabalhadores iam repetindo as mesmas palavras, sobretudo “exaustão” mas também “confusão”.

O protesto foi despoletado diretamente pela desorganização causada pelas diferentes regras sanitárias, mas os vários participantes sublinham que o mal-estar no setor vai muito para além disso. As constantes modificações dos protocolos sanitários – já foram três diferentes desde o início do ano, duas só numa semana -, são uma parte importante do problema. O mais recente é ainda considerado pior do que anterior pelo sindicato SNUipp-FSU. “Não apenas não protege os estudantes, os funcionários e as suas famílias, como também desorganizou completamente as escolas” que ficaram transformadas em “centros de dia”, acusa o sindicato.

As deficiências na comunicação das alterações são igualmente criticadas por todas as partes, estando tudo isto a deixar os professores franceses à beira de um ataque de nervos. Jean-Michel Blanquer, o ministro da Educação, é apontado como o principal culpado. É acusado de “desprezar” os professores, preferindo falar aos meios de comunicação social do que explicar efetivamente as regras em vigor. E não ajuda a dissipar esta imagem ter declarado à televisão BFM nas vésperas da greve que esta “não resolve problemas” porque “não se faz greve contra o vírus”.

Estas declarações potenciaram a revolta. Um dos professores que se manifestava em Paris, Laurence Fourteuil, ouvido pela Reuters, respondeu-lhe à letra: “não é contra o vírus que fazemos greve. É contra as políticas que já estavam a apertar com os trabalhadores”. Não é muito diferente do que tinha para dizer Lilia Larbi, dirigente do SE-UNA, ouvida pela Associated Press: “a greve não é contra o vírus, é contra a má comunicação, as regras sempre a mudar… e a má gestão da crise sanitária”. Laurent Berger, secretário geral da CFDT, ao Guardian, utilizou as mesmas palavras, acrescentando que a greve é também “contra a falta de consulta” e diálogo com os trabalhadores. São apenas alguns dos testemunhos que repetem também a ideia de que Castex “despreza” os professores.

Fonte: Esquerda
Data original da publicação: 14/01/2022

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